segunda-feira, 11 de abril de 2011

Família no divã


Família no divã

Aquela família não era feliz, também não chegava a ser triste. Era indiferente.

Sim, a indiferença reinava naquele lar, os olhares não se cruzavam, os jantares eram individuais e múltiplos, não havia diálogo nem convivência, cada um se distraia à sua maneira, no computador ou na televisão sem se importar com o outro, sem perceber que havia outras pessoas naquele minúsculo apartamento. A presença do outro era apenas um detalhe.

Não posso dizer ao certo como a situação chegou àquele ponto, talvez num dia remoto eles foram unidos e próximos, ou não. Antes os filhos moravam com a mãe e viam o pai aos fins de semana, mas agora -crescidos e criados- decidiram que queriam morar com ele. Talvez essa aproximação física é que tenha trazido problemas ou talvez ela apenas tenha demonstrado a fragilidade da relação que antes passava despercebida.

Após um longo período de brigas e discussões tudo caminhava estagnado, tanto o pai quanto os filhos pareciam adaptados à situação e o incômodo passara, agora o silêncio aliado à distância pareciam bons remédios pra acalmar aquela relação conflituosa. Ledo engano, a indiferença incomoda, e como num grito de desespero as brigas sempre voltavam depois de um tempo; não pelo prazer de brigar, mas na esperança de quebrar a indiferença e o silêncio.

Um dia, INESPERADAMENTE, o pai propõe (ou melhor, impõe sutilmente) que os três façam uma terapia em família com a psicóloga. Destaco que foi inesperado pois o pai já havia colocado certa vez um dos filhos na terapia com essa mesma psicóloga. Ele dizia: "O problema não sou eu, é ele, é ele! ELE precisa ser tratado." Era sempre assim, o pai enxergava o problema nos outros, nunca ele tinha uma parcela (mínima que fosse) de culpa. Ele sempre queria consertar os outros pra consertar a situação, mas nunca quis se consertar.

Será que ele mudou ? Será que a proposta de terapia familiar seria uma forma de assumir sua parcela de culpa do fracasso da relação ? Ou seria mero desespero diante de tanta indiferença naquele minúsculo apartamento ?

Bom, isso só a psicóloga saberá.

Nota: História verídica, qualquer semelhança não é mera coincidência.
Nota2: Escolhi essa figura porque representa uma família num ambiente colorido e feliz, mas nota-se que não passa de um cenário. É essa a realidade da família do texto e de Tantas outras por aí.

[Mente Hiperativa]

5 comentários:

  1. Isso é muito comum. Pessoas prepotentes e fracas, sempre acham que a culpa é dos outros. Não tem terapia que conserte isso, pois ele vai continuar se achando.
    Abraço

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  2. E haja trabalho para a psicologia neh!!!
    Mas o trabalho com famílias é bemmm interessante!

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  3. Nada a declarar!! Quem nunca passou por isso, que atire a primeira pedra. E isso não é apenas privilégio do nosso lar, mais de todos os ambientes que exija uma convivência diária e longínqua. E as vezes, nem tão longínquas assim.
    Ótima história!!

    Abraços!! =D

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  4. E parabéns, pela observação da imagem, muito expressivo e sucinto!!

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  5. Depois escreve o que aconteceu após a terapia.
    Anna

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