segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Revolução afetiva




Revolução afetiva

É tempo de rever as relações e promover uma espécie de coleta seletiva no campo afetivo, selecionando o que pode ser reciclado e jogando fora todo o lixo relacional que não apresenta qualquer reciprocidade. Aproveito, então, a proximidade do ano de 2013 para firmar o meu compromisso comigo mesmo de fortalecer os laços vigentes e deixar esfalecer os vínculos fracos que muitas vezes ainda insisto em tentar remendar. É uma grande tolice achar que se pode dar vida a algo morto ou que uma relação qualquer pode ser mantida sozinho, de forma unilateral.

O amadurecimento hoje me permite enxergar o quão é inútil insistir numa relação que não apresenta comprometimento mútuo, é perda de tempo e energia. Por isso, usarei todo meu esforço pra estreitar laços saudáveis, fortalecer o que me faz bem, dar valor a quem me ama. E com quem não me dá a devida atenção serei duramente recíproco, entregando ao tempo toda e qualquer responsabilidade de apagar os resquícios do passado.

Cansei de dar murro em ponta de faca e perder tempo com pessoas que não merecem, vou ocupar-me apenas com quem me ama. É preciso saber a hora de se dar por vencido e reconhecer a própria derrota, afinal o fracasso muitas vezes é o ponto de partida para a próxima vitória. Diante disso, encerro aqui muitas de minhas expectativas e enterro bastantes pessoas debaixo de kilos e kilos de frustrações. Nesse terreno fértil eu planto as novas sementes que me trarão doces frutos na próxima colheita. Assim espero.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

domingo, 16 de dezembro de 2012

Tenho uma deficiência, tenha pena de mim e me sustente



Tenho uma deficiência, tenha pena de mim e me sustente

Certo dia eu estava no ônibus voltando da universidade, cansado de um dia de trabalho e estudo, e um cidadão joga no meu colo um pequeno papel. Isso mesmo, ele joga, não oferece nem pede licença, simplesmente sacode o papel num gesto robotizado e segue adiante distribuindo papeizinhos no colo dos outros passageiros. No bilhete havia escrito: "sou surdo, por favor me ajude com 0,50R$, 1R$ ou 2R$ para eu terminar de construir minha casa." Não sei se é verdade ou mentira, mas de qualquer forma não lhe dei qualquer trocado e explico já o porquê.

Minha vontade imediata foi escrever no verso do papel: "Já pensou em trabalhar pra ganhar dinheiro?" Mas permaneci quieto até que ele veio recolher o papel e eu o entreguei de volta. Poucas pessoas lhe deram moedas e eu as compreendo. Sou uma pessoa generosa, tenho o coração imenso, mas não é por isso que saio distribuindo dinheiro a todos que me pedem. É preciso ser crítico e saber dizer não. Ajudo aqueles que trabalham a despeito das suas limitações, ajudo com comida, com uma palavra amiga, com remédio. Procuro não me deixar levar pelo sentimentalismo e apelos emocionais que muitas vezes as pessoas tentam nos despertar; alguns o fazem porque têm mau-caráter, outras por mera acomodação e não podemos ser vítimas de nenhum deles.

Ao saber disso, algumas pessoas me julgam insensível, dizem que eu não tenho pena de uma pessoa assim, que pede dinheiro por necessidade. Tenho pena sim, pena dele ser tão acomodado a ponto de achar que uma limitação o impede de levar uma vida normal, pois já vi muita gente com limitações iguais ou maiores que trabalham, casam, têm filhos, saem na rua, estudam e fazem todo tipo de coisa que uma pessoa sem deficiência pode fazer. Por outro lado, já vi inúmeros casos de pessoas que fingem necessidades especiais apenas pra ganhar dinheiro fácil, e pior, alguns usam o dinheiro que recebem pra cheirar cola, comprar crack ou bebidas alcoólicas.

Então, o que eu digo é que não fui sempre assim tão cético, à princípio eu me deixava levar pela conversa e sempre ajudava, depois fui enxergando que não há coitadinhos nem vítimas e que embora a vida possa nos empregar algumas dificuldades a forma como reagimos a elas muda tudo. O mesmo surdo que estava ali pedindo dinheiro e vivendo da esmola dos outros tem plena capacidade de estudar ou trabalhar e ganhar bem mais sem precisar depender da boa vontade alheia. É uma questão de atitude e se você me disser que não há oportunidades pra ele eu digo que as oportunidades não caem do céu, mas brotam no suor da testa de cada um. Se hoje ele não tem condições de encontrar um emprego certamente poderá encontrar um trabalho digno, pode vender algum produto, efetuar algum serviço, basta querer pois o mundo está cheio de oportunidades pra quem quer trabalhar. Pode faltar emprego, mas trabalho não falta.

Por essas e por outras que eu não alimento o coitadismo e me recuso a sustentar vagabundo que não quer trabalhar e não se esforça pra merecer cada centavo que lhe entrego. Admiro quem luta e não se entrega às dificuldades da vida, tenho repúdio aos que se escondem atrás de uma deficiência ou qualquer outra condição pra levar a vida na moleza. E se pareço duro demais é porque a vida não é mole pra mim, ela me ensinou que é preciso perseverar pra atingir seus objetivos e ser alguém na vida. Eu não espero que nada caia do céu, não desperto a pena dos outros pra que possa viver deles numa vida mansa, eu luto pra ter uma vida boa e tenho as minhas dificuldades e limitações como qualquer um tem. Por que, então, os outros não podem trabalhar e lutar ao invés de ficar aguardando esmolas?

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Adeus, Dezembro




Adeus, dezembro 

Todo vez é isso, é só chegar o fim do ano que a culpa e o remorso tomam conta da sociedade. Nessa época todos se tornam bonzinhos, mesmo que seja apenas aparência ou mera “obrigação social”. Natal é tempo de pagar os pecados, de arrepender-se do que fez, sobretudo do que não fez. E é nessa hora que todo mundo lembra de agir, mesmo que seja por pressão social, mesmo que seja fingimento, nessa hora todos fazem de conta que fazem e se engajam em confortar o próximo. Parece até que eles só precisam de apoio uma vez ao ano. E depois? Depois voltamos ao “normal” que é a triste realidade desumana, cruel e egoísta na maioria das vezes... Mas em Dezembro não, em Dezembro todo mundo é perfeito, solidário e amável.

No mês de Dezembro a pobre idosa que sempre fez as refeições abandonada na cozinha é chamada à mesa pra celebrar o natal com o resto da família, os mendigos de rua que são sempre esquecidos ganham um prato de comida, roupas e até brinquedos, o porteiro que é humilhado pelos moradores do prédio ganha uma cesta de natal, o menino Jesus que passa o ano inteiro sendo ignorado aparece o tempo todo na televisão. O mês de Dezembro é um mês estranho, pois apesar de não ser carnaval as pessoas usam fantasias e encarnam personagens, encenando papéis diante do público. Na época do natal a sociedade vive uma enorme farsa e é tudo tão previsível e forçado que causa asco lidar com esse tipo de pessoa. É nojento ouvir certas pessoas falando que compraram “X” cestas básicas e doaram pra instituição “Y”, falam isso como se quisessem dar uma satisfação, como se cumprissem a sua cota anual ou fizessem isso por obrigação. O que esperar de pessoas assim?

O mesmo ocorre na família, que é nossa micro sociedade, pessoas distantes física e emocionalmente se reencontram e fingem saudades, trocam presentes e no fim da noite se separam até o próximo encontro anual em comemoração ao nascimento do menino Jesus. E o amor novamente não passa de uma encenação teatral, o verdadeiro sentimento se perde em meio a tantos presentes, roupas caras, fofocas e comilança.

Por essas e por outras que espero ansiosamente que Dezembro acabe logo, conto os dias pra acabar esse teatro e eu posso ver as pessoas como elas realmente são. Prefiro uma verdade amarga a uma mentira doce, por pior que sejam é melhor que mostrem a cara. Janeiro, chegue logo e traga consigo a oportunidade de começarmos de novo, de fazermos tudo diferente, de sermos pessoas melhores. Dezembro engana, mas Janeiro nos dá a verdadeira oportunidade de melhorarmos enquanto pessoa e sociedade.

[Mente Hiperativa] 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Indiferença que mata



Indiferença que mata

Espero sinceramente que você nunca me procure pra cobrar alguma atenção, ou pior ainda, que venha reclamar pelo meu tratamento indiferente. Não te ofereço indiferença alguma, na verdade nunca ofereci, apenas devolvo a indiferença que recebo de você e não é de hoje. Talvez um dia você perceba que sempre partiu de você esse sentimento, talvez nunca entenda isso e ainda assim viva bem. Definitivamente eu não sei o que se passa na sua cabeça; na minha eu comecei a entender faz pouco tempo.

A princípio eu sentia tua indiferença e aguentava calado, eu sofria, mas tentava contornar a situação da melhor maneira possível. Depois me iludi achando que poderia cultivar a relação sozinho, mas aprendi que toda relação necessariamente é bilateral. Senti medo, senti culpa, mantive a paciência, fiz de tudo pra amenizar os atritos, tentei compensar as ausências, errei por sustentar sozinho tanto tempo as duas pontas, a minha e a sua. Chegou uma hora que não suportei mais, então parei de me dedicar a nós e passei a cuidar de mim, apenas de mim. No começo eu sofria em ter que fazer assim, mas hoje compartilho do seu sentimento, estou indiferente quanto a isso.

No fim das contas o tempo não foi perdido, ao menos tenho a consciência tranquila de que fiz tudo o que estava ao meu alcance, me empenhei ao máximo, mas a sua parte eu não poderia fazer ainda que fosse a minha vontade, é impossível. Hoje eu parei, cansei de aguardar alguma retribuição, cooperação, ou qualquer tipo de solução vinda de você; entrego ao tempo, ele que resolva.

Não me importo mais com o 'nós', ainda que isso me cause uma pequena dor peito. E saiba que dói cada vez menos. Desisti de segurar o peso da nossa relação sozinho, soltei-a e deixei que se espatifasse no chão. Não me preocupo mais. Não me culpo mais. Se um dia você resolver arregaçar as mangas pra tentar fazer dar certo então me convença de que eu devo também tentar; por ora acho que não tem mais jeito e me recuso a dar um pouco mais do meu empenho, já o gastei demais. Ou então deixe nossa relação quebrada em mil pedaços no chão, partida, acabada. Morta. Acho que é isso que você vai fazer mesmo.

Espero que um dia se dê conta de que pôs tudo a perder, que destruiu uma coisa tão bonita. Talvez não dê tempo de recuperar o passado; quem sabe ainda dê tempo de não perder mais tempo adiante. Mas o que passou já foi perdido, estamos perdendo um pouco a cada dia. Será que você não nota?

[Mente Hiperativa]

domingo, 25 de novembro de 2012

Meu medo de (a)mar


Meu medo de (a)mar 

Lembro como se fosse ontem a primeira vez que me deparei com a imensidão do oceano, sou capaz de descrever as sensações que me acometeram em tal ocasião. Primeiro me senti amedrontado diante do seu tamanho, tive medo de ser engolido pelas suas águas imponentes, medo de me perder naquele infinito azul que mais parecia emendar com o céu. Por alguns segundos ainda me desafiei a fechar os olhos para me sentir tomado por ele, eis que fui dominado por uma terrível sensação de afogamento. Faltou-me o ar, me senti sufocado, e então abri os olhos rapidamente pra me certificar de que estava sob a proteção da terra firme e que aquilo tudo não passava de um devaneio da minha cabeça. Depois disso foi difícil entrar novamente no mar.

Passado o susto, me dei conta de que a despeito do medo sentia também um enorme fascínio pelo oceano, ele conseguia de alguma forma me encantar e me seduzir. Sinto-me convidado a invadi-lo, ao mesmo tempo em que tenho receio de suas águas. É mesmo contraditório falar sobre ele e mesmo depois de tanto tempo do nosso primeiro encontro ainda hoje ele me deixa bastante confuso. Quando me encontro com oceano sinto uma tensão que toma conta de mim e me divide entre o desejo e o medo. Não tenho coragem de pular de cabeça em suas águas, mas queria que fossem calmas o suficiente para que eu pudesse mergulhar devagar.

Ainda assim visito o mar, gosto de admirá-lo sentado na areia. De longe ele me parece tão calmo, aprazível, que se eu não tivesse um dia entrado em suas águas até acreditaria ser isso verdade, mas o conheço de perto e sei dos seus perigos, da sua correnteza e profundidade assustadora. Por isso prefiro me guardar a certa distância, embora às vezes me arrisque a chegar perto e permitir que ele me molhe os pés. Tento me manter afastado, mas uma hora ou outra acabo cedendo aos seus chamados, hesito, me entrego, mas sempre volto em direção à areia, pois sei que boia alguma será capaz de me salvar desse mar infinito.

Em algumas dessas aventuras acabo adentrando demais nas suas águas, além do que acho que deveria, e quando me dou conta a água já cobre meu pescoço. É tarde demais. Momentaneamente me sinto seguro, mas logo uma onda forte me abate, sinto o gosto salgado na boca, não sei se é do mar ou de minhas lágrimas, e por mais que eu bata os pés e mãos acabo me afogando, penso que não vou suportar e quando acordo estou na beira da praia. Ao recuperar a consciência prometo a mim mesmo jamais me aventurar pelo mar de novo, mas quando dou por mim estou só com os pés na água, devagar e cheio de medo, mas estou lá.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Patinho feio


Patinho feio

Sempre fui uma criança tímida e extremamente calada, daquelas que não sorri e só se aproxima de alguém em troca de um doce, nunca por um abraço ou beijo. Com o tempo fui aprendendo a lidar com as pessoas, porém apenas no meu ambiente familiar conseguia me sentir plenamente confortável, ainda assim com certa ressalva. E fora daquele lugar me sentia completamente vulnerável, deslocado, e exposto a todo tipo de situação incômoda. Por isso sempre tive medo das pessoas, elas me pareciam estranhas, falavam e agiam de uma forma que eu não era capaz de entender.

Depois, na adolescência, a situação ficou ainda pior por que tive a confirmação de que eu era realmente diferente de todos aqueles que me rodeavam; não era só impressão minha ou coisa da minha cabeça, a cada dia eu recebia provas concretas disso. Sei que cada um carrega uma essência única, mas há certos valores e comportamentos que são intrínsecos aos grupos sociais e eu não compartilhava da maioria deles. Sendo assim, não me sentia encaixado em canto algum desse mundo, me isolava e sofria retaliação por ser dessa forma tão estranha, por sentir e pensar diferente da maioria deles.

Hoje sou adulto e só agora começo a entender que de fato não sou igual aos outros e quais as repercussões atreladas à essa singularidade. Algumas pessoas pensam que sou bobo e tentam me usar, outras se esquivam do contato comigo por julgarem que não tenho juízo adequado. Quanto à essas pessoas não posso forçá-las a lidarem comigo de uma forma saudável, mas tenho tantas outras que mesmo não sendo iguais a mim tentam me entender e isso já me conforta bastante. Não quero acreditar que minha 'esquisitice' me torne inferior a eles, por mais que tentem me fazer pensar assim, também não quero que ela seja empecilho pra lidar com os outros.

Diante de tantos atritos com a vida e tantas angústias aparentemente sem sentido, acabei aprendendo que não adianta lutar contra ela ou contra todos; é perda de tempo e sofrimento em vão. Não há sentido fugir de sua própria missão, se estou nesse lugar diferente e rodeado de pessoas diferentes é por que tenho algo a fazer aqui. Agora eu tenho consciência de que vim aqui pra aprender com eles, e quem sabe ensiná-los alguma coisa também. É possível que a minha forma 'estranha' de enxergar o mundo sirva de motivo para nos intrigar e nos aproximar, gerando discussões proveitosas e troca de experiências com enriquecimento mútuo.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Choque de mundos


Choque de mundos

Meu mundo seguia tranquilo por sua velha órbita ovalada quando de repente se chocou com o seu, e foi fantástico! Fiquei algum tempo imerso num estado de êxtase, girando, perdido, até me reencontrar e seguir adiante. Mas claro que não segui pelo mesmo caminho, minha trajetória foi completamente afetada por esse encontro, meus contornos também assumiram um novo padrão.

Arrancamos pedaços um do outro, e por isso nunca mais serei o mesmo. Agora tenho partes suas que invadiram minha mente e como sementes se plantaram no meu cérebro. São ideias que acolhi e desejo cultivar em meu mundo, meu novo mundo que agora tem um novo formato graças a essa trombada dolorosa, mas necessária.

Depois do ocorrido fiquei a pensar em quantas vezes nos cruzamos sem nos notar, tantas ocasiões nos tangenciamos e tive o presságio de que você me atingiria, mas até então nunca havia acertado no meu palpite. Eis que um dia sem esperar levo uma pancada violenta e encaro você tão perto de mim, me provocando alterações desastrosas e ao mesmo tempo deliciosas de se viver.

Depois disso eu continuo eu mesmo, mas jamais serei o mesmo.

[Mente Hiperativa]

sábado, 10 de novembro de 2012

A quem serve a religião?


A quem serve a religião?


Quanto mais tenho contato com as religiões, mais reconheço o quanto são utilizadas como instrumentos de manipulação das massas, arrecadação de dinheiro e criação de necessidades que de fato não existem. Claro que não se pode generalizar o uso da má fé por todos os que se dizem religiosos, pois muito deles são apenas instrumentos da organização, estão alienados e podem nem perceber o mal que fazem; porém, outros entendem bem as consequências dos seus atos e se aproveitam do poder que lhes é dado. Algumas igrejas, inclusive, são verdadeiras indústrias que se alimentam de fiéis e seus medos, levando-os a crenças distorcidas e atos irracionais, tudo “em nome da fé”.

É preciso reconhecer que mesmo tão danosas as religiões têm um importante papel, sobretudo no que diz respeito ao conforto espiritual que oferecem. Porém, será justo que cobrem retorno financeiro por essa ajuda que vem de uma dimensão superior? A divindade registrou instituições terrenas para arrecadarem dinheiro em seu nome? E que tipo de essência seria essa que prega valores solidários e fraternos, mas cobra quantias em troca de um “ombro amigo”?

Particularmente nunca precisei me dirigir às estátuas de gesso pra fazer pedidos e acho estranho suplicar por proteção a uma figura inanimada talhada em madeira. Também não sinto a menor necessidade de visitar uma construção suntuosa, que ostente o luxo e a grandiosidade, a fim de me encontrar com a divindade quando posso senti-lo na praia, na praça, ou até mesmo no escuro do meu quarto. Tenho consciência de que Ele está em todos os lugares, inclusive dentro de mim.

Também não encaro com naturalidade a ideia de contar a um desconhecido os meus delitos, somente porque ele usa batina e carrega um crucifixo no pescoço. A impressão que tenho é que ele não saberá me julgar adequadamente, nem confio na sua penitência que consiste em me manda repetir frases prontas inúmeras vezes. Acredito que minhas conversas com Deus carregam muito mais sentimentos do que essas orações que já vêm prontas.

Penso que através da religião e de um discurso bem elaborado o homem é capaz de criar necessidades que não existem, utilizando-as para manipular o povo sedento de ajuda e extrair destes alguma riqueza. Isso tudo é feito em nome da fé, mas muitas vezes apenas usam o nome de Deus para atingir benefícios próprios. E quem será que vai julgá-los no tribunal do juízo final? Saibam eles ou não, o julgamento se dá na nossa consciência e os juízes sabem de TUDO que fizemos, afinal somos nós os nossos próprios juízes. Talvez hoje muitos não se deem conta do mal que fazem, mas um dia irão despertar para as atrocidades cometidas, ah, se vão.

Por essas e por outras que não sigo religião alguma, isso tudo não faz o menor sentido pra mim, por mais que o senso comum diga ser “o certo”. Eu não preciso de intermediários pra falar com Deus, do mesmo modo que não preciso pagar ao homem tarifa de qualquer natureza pelos conselhos e benevolências que Ele me concede. Se tudo de bom que me acontece é dado por Ele e conquistado por mim, porque eu deveria pagar a uma figura religiosa por isso?

Acredito na essência energética de Deus, no livre-arbítrio, no julgamento de nossa consciência, no amor planetário supremo, mas não tente me convencer de certos absurdos como "apenas a minha religião poderá lhe salvar". Não acredito em povo escolhido, muito menos que não há salvação fora de determinada igreja. Quem opta por ser salvo é o próprio indivíduo que corre atrás dessa libertação, não é a igreja ou a religião que a concede. Cada um de nós é uma igreja e a salvação consiste em criar laços de fraternidade e solidariedade planetária. A salvação está dentro de nós mesmos e consiste em não cair nas teias do orgulho, egoísmo, fanatismo, e outras mazelas.

Novamente afirmo que não se pode generalizar todos os que se dizem religiosos, porém é preciso ficar atento e refletir a respeito da doutrina que se segue. Não aconselho ninguém que abandone sua religião, mas convido todos a filosofarem a respeito delas, sobre o que têm feito, se parece certo ou errado, estimulo a crítica construtiva, o questionamento, a contestação. Além do mais, é preciso estabelecer quem é você e quem é a religião, não se pode tornar os dois algo indissociável nem mesmo permitir que ela seja soberana à sua vontade.

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem é dono de quem?


Quem é dono de quem?

Um dia o sujeito resolveu deixar o carro em casa e foi trabalhar a pé. Chegando ao trabalho foi indagado pelo motivo o qual foi andando, visto que possuía um carro. Ele disse que de fato era dono de um carro e não o contrário, de modo que naquele dia decidiu ir trabalhar com as próprias pernas e o carro ficaria em casa.

Ao ouvir essa história lembrei  de algumas pessoas conhecidas que se dizem donas dos seus iphones, das suas roupas de marca e dos seus carros importados, mas que não conseguem viver sem eles. Quem é dono de quem, afinal?

Já parou pra refletir nisso? Já se deu conta de que muitas vezes somos reféns das coisas que, em tese, possuímos? E sua profissão, você é dono dela? Estudamos tanto tempo pra sermos donos de uma profissão, abdicamos de tanta coisa por ela, permitimos que ela invada nosso dia-a-dia e de repente percebemos que não temos mais autonomia sobre nossa própria vida, ela acaba sendo dominada inteiramente pelo nosso trabalho. E quem é dono de quem nessa história toda? Você é dono da sua profissão ou ela é dona de você?

É preciso estar sempre atento para não se tornar um escravo, nossa autonomia e liberdade devem ser preservadas acima de qualquer coisa. Abram os olhos e enxerguem além.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Não me esqueça



Não me esqueça

Vou escrever meu nome num post-it e colar na sua agenda, no espelho do banheiro vou pregar o mais belo poema de amor e na janela do seu quarto, deixarei minha foto a te espreitar por detrás da cortina. Também vou colocar um coração vermelho no fundo da sua gaveta, pois não quero que se esqueça de mim.

Tenho esse plano secreto que você jamais poderá saber.


[Mente Hiperativa]

sábado, 27 de outubro de 2012

Onde mora o amor


Onde mora o amor

Muita gente pensa que o amor mora no coração. Outros, mais céticos, dizem que isso não existe pois já está provado cientificamente que ele mora mesmo é na cabeça, no cérebro, e não passa de uma idealização construída por nossas mentes carentes.

Que bando de desocupados, passam o tempo a tentar limitar o amor, sitiá-lo num determinado órgão ou região como se por acaso ele aceitasse ficar restrito. O amor se espalha pelo corpo inteiro, não sei se nasce na mente ou se é bombardeado pelo coração para o resto do corpo, não sei, mas tenho certeza de que alcança todo o organismo e o contamina com essa energia boa: cabeça, coração, mente, corpo, mãos, alma, olhares, abraços, beijos, palavras, atitudes... O amor mora no corpo todo.

[Mente Hiperativa]


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O apagão e o fim do mundo


O apagão e o fim do mundo

Era tarde da noite e eu estava na minha humilde residência navegando na internet quando de repente tudo ficou escuro, minha sala, o prédio, a vizinhança, o céu, tudo enegrecido e apenas as luzes dos carros passantes iluminando as ruas desertas. Carros que corriam desesperados em direção às suas casas, pessoas aflitas, vizinhos vagando perdidos com lanternas na mão, gritos intercalando o profundo silêncio da noite. Era um blecaute, ficamos todos sem luz e o pior de tudo, sem internet.

Nesse momento me senti aliviado por estar em casa, pensei em como estaria a situação lá fora, pessoas gritando, correndo, com medo, assaltos, acidentes, atropelamentos, praticamente o caos do fim do mundo. Lembrei de diversos filmes que assisti em que nessas as pessoas ficam transtornadas, parecem zumbis, passam por cima umas das outras e até matam sem saber porque, todos loucos pra chegar em casa ou qualquer outro lugar seguro.

Sendo assim a primeira coisa que fiz foi ligar para meus familiares mais próximos a fim me assegurar de que todos estavam seguros em casa, logo depois fui à janela observar o que aconteceria, queria ver algum espetáculo. Esperei naves alienígenas imensas, com luzes que piscam e mudam de cor, não sei se produziriam sons ou chegariam imponentes e silenciosas. Imaginei que logo o céu estaria repleto delas, clareando a escuridão como quem traz a esperança. Pensei que haveria uma revolução, que se abririam portais, que seriam selecionados os híbridos para dar continuidade à vida noutro planeta, como uma releitura da arca de Noé em pleno século XXI. Tive medo da outra possibilidade, mas também considerei que poderiam apenas dizimar toda a raça humana.

Esperei bastante e nada aconteceu, nenhuma nave sequer, nem um risco luminoso no céu, apenas poucas estrelas insistiam em brilhar a despeito da escuridão. Tive medo que houvesse uma chuva de meteoros e estes destruíssem a Terra como fizeram no tempo dos dinossauros, ou quem sabe uma chuva ácida derretendo tudo, vulcões brotando do chão como dragões que jorram fogo, enfim, algum acontecimento digno de uma superprodução Spielberguiana que justificasse a falta de energia elétrica. Queria algum motivo que não fosse um tolo erro humano ou defeito no circuito elétrico. A essa altura já estava sabendo que o blecaute havia atingido também outros estados e isso reforçou minha ideia de que algo estava errado, havia algum plano secreto sendo executado. Pensei que podia ter atingido todo o país, quiçá o todo o mundo. Achei que era o fim.

Porém, contrariando as minhas expectativas catastróficas e apocalípticas nada aconteceu e eu já estava ficando entediado com aquela eterna espera. Ainda fiquei mais alguns minutos na janela esperando algo surgir na escuridão, mas acabei convencido de que não antecipariam o fatídico 21 de dezembro de 2012 e até o presente momento os tudo indica que os Maias acertaram, pelo menos até o presente momento. Foi apenas um susto.

Então acendi uma vela e fui à cozinha, preparei um macarrão instantâneo, do tipo miojo, e jantei sozinho. Depois fui dormir, afinal era a coisa mais sensata a fazer, pois amanhã a rotina estaria de volta, faculdade, estudos, os mesmos problemas de sempre e todas as pendências a serem resolvidas. Dormi sem ver nenhum ET, nenhuma conspiração, nem meteoros ou bombas nucleares, ninguém me salvou da rotina e dessa vidinha mais ou menos, nem acabaram com meus problemas. Amanhã ninguém vai querer saber se faltou energia ou não, se dormi bem ou não, se fui atingido por um meteoro no juízo ou devorado por zumbis mortos-vivos. Houve apenas um apagão, e a vida prossegue ‘normalmente’.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mundo singular - entenda o autismo


Mundo singular - entenda o autismo
Resenha do livro de mesmo nome.

Os livros da Ana Beatriz Barbosa como sempre são muito interessantes, começam com uma abordagem despretensiosa sobre o assunto e acabam abrangendo uma gama de vertentes sobre ele. No caso de “Mundo singular” não foi diferente e ao terminar a obra, que é uma parceria da autora com Mayra Bonifacio Gaiato e Leandro Thadeu Reveles, me senti enriquecido com tanto conhecimento.

A maioria dos livros sobre o autismo se limita a falar sobre os sintomas e diagnóstico, o que pode ser bom pra começar, mas quem quer ou precisa saber mais sobre o assunto “Mundo singular” representa um aprofundamento fantástico. Nele encontramos desde os tópicos iniciais - como introdução ao transtorno autístico, espectro autístico, histórico, sintomas e diagnóstico do autismo - até a legislação que envolve o tema, o papel da escola, as possibilidades de tratamento, o funcionamento do cérebro autístico, suas peculiaridades, os relacionamentos, a vida profissional, dentre outros.

Outra característica interessante do livro é a análise detalhada de cada sintoma e suas diversas nuances, o que reforça a ideia de espectro do trantorno autístico (ETA). Ou seja, ao invés de apenas nomear os sintomas ou enumerá-los, os autores discorrem sobre cada um deles e abordam suas variações, permitindo que vejamos a enorme diversidade de autismos que podem ocorrer. Isso é importante para que abandonemos a ideia ultrajada de que todo autista não olha nos olhos, não fala, não interage, não tem sentimentos e apenas fica repetindo movimentos e grunhindo sons incompreensíveis. Eles são muito mais do que isso e os autores buscam combater o preconceito a partir da informação.

Um ponto que me chamou a atenção na obra foi a divisão do autismo em pelo menos quatro grupos: os indivíduos que têm traços autísticos, síndrome de Asperger, autismo de alto funcionamento e autismo clássico. O autismo clássico é facilmente diagnosticado e muitas vezes corresponde à ideia estereotipada que a maioria da sociedade tem sobre os autistas; a síndrome de Asperger e o autismo de alto funcionamento são bastante semelhantes; e os traços autísticos são o grande desafio da clínica, uma vez que os indivíduos podem passar a vida inteira sem saberem que são autistas e às vezes apenas descobrem na vida adulta, depois de uma coleção de pequenos sofrimentos.

O autismo é um assunto relativamente novo na sociedade, ainda se tem pouco estudo e pouquíssimas certezas, o tratamento precoce vem apresentando ótimos resultados, embora ainda não tenha a capacidade de cura. Acho interessante que se leia e se discuta sobre o assunto, nossa sociedade precisa se abrir cada vez mais para os ‘diferentes’ e aprender a lidar com eles, pois eles têm muito a nos ensinar.

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um martelo que quebre paradigmas


Um martelo que quebre paradigmas

Quero um martelo moderno para quebrar antigos paradigmas, com gosto vou destruir cada telha de vidro que compõe seu telhado, deixar cair por terra todas as suas verdades, irei chutar cada pau que sustenta o seu bom e velho barraco. Eu quero ver seu mundo cair, vou conseguir fazer você ficar assim e não vou ter pena não.

As verdades precisam ser mudadas, pois eterna é apenas a ignorância. Hoje o espírito da destruição toma conta de mim, mas não é por mal, não é pra machucar embora eu saiba que vai doer um pouco. Sempre dói  amadurecer e expandir o próprio universo, mas depois tudo se acalma e cada ideia passa a ocupar o seu devido espaço.

Então vamos seguir com a evolução, pois quem fica pra trás come poeira e poeira tem gosto de passado. Andemos pra frente, pensando sempre, repensando, jogando fora e reciclando. Se me pergunta porque ando com o martelo da crítica e do questionamento é porque não quero ficar ultrajado, preso num velho mundo de certezas estáticas.

[Mente Hiperativa]

domingo, 21 de outubro de 2012

Novos termos que carregam novas ideias



Novos termos que carregam novas ideias

Ser normal é enquadrar-se no grupo da maioria, é estar contido nas estatísticas mais abrangentes, é compartilhar dos costumes e aparências mais comumente observáveis. Em se tratando de saúde mental percebo que hoje em dia cada vez mais se usa o termo ‘típico’ e ‘atípico’ em substituição a ‘normal’ e ‘anormal’, mas não é só esse campo que opera mudanças, muitos outros também se valem de novas denominações para provocar a REleitura de velhos conceitos.

À primeira vista pode parecer que nada mudou, porém a análise dos termos permite notarmos que o caráter das colocações muda completamente na medida em que abandonam o teor qualitativo pelo quantitativo. Assim, ser normal ou anormal implica necessariamente num julgamento, estes nomes classificam implicitamente o indivíduo em bom ou ruim. Já o típico e atípico se referem à frequência em que são vistos, sem trazerem arraigados a si qualquer tipo de hierarquia ou valor.

A todo instante as nomenclaturas utilizadas pela sociedade mudam e não é por acaso, poucos se dão o trabalho de interpretar o que falam, apenas perpetuam a mudança sem observar a inovação semântica. Alguns, inclusive, nem se dão ao trabalho de mudar, permanecem engessados nos termos antiquados e carregados de valores inadequados.

Fico feliz, muito feliz, a cada leitura que faço e leio sobre o desenvolvimento atípico na infância, sobre o comportamento atípico nos portadores de determinado transtorno. Em seguimento a esses textos quase sempre se discute as formas de tratamento com relação a essas pessoas, as maneiras de tratá-las e garantir-lhes qualidade de vida. E isso não se fazia no tempo em que eram classificados em normais e anormais, a discussão se encerrava nesse ponto como se por acaso os anormais não tivessem chance de progredir. A anormalidade era um decreto, o desenvolvimento atípico é um novo caminho, diferente.

Então por meio dessa análise eu tento abrir os olhos de quem ainda pensa que a mudança de uma palavra por outra não carrega profundas transformações no entendimento do comportamento humano. Pra você que acha que deficiente e aleijado são a mesma coisa, que caduco e idoso são sinônimos, diria que precisa prestar atenção ao sentido implícito em cada palavra que diz. Atente para o que fala, pois as mudanças não ocorrem em vão e quem não as compreende é porque não lê a respeito nem participa das mudanças ideológicas por trás de uma ‘simples’ mudança de termo.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sede de amor


Sede de amor 

Houve um tempo em que minha sede era do tamanho do mundo inteiro, eu bebia tudo num gole só e depois de cada overdose sempre passava mal. Isso pode parecer bastante óbvio, mas levei algum tempo para estabelecer tal relação de causa e conseqüência; no fim das contas cheguei à conclusão de que assim jamais saciaria satisfatoriamente as minhas demandas.

Depois de criar essa consciência - o que não foi fácil - embarquei num longo processo de reeducação emocional. Desde então aprendi a me controlar, busquei disciplina e, sobretudo, passei a exercitar a minha paciência, tão escassa. Às vezes é difícil manter a ordem sobre as próprias emoções, parece que um cachorro te puxa pela coleira e você precisa ser mais forte e segurá-lo firme. Com o tempo espero que esse cachorro, tão exigente que é, me obedeça pela minha ordem e não pela minha força bruta.

Ainda estou no meio do processo de aprendizagem e receio que esse não acabe tão cedo, porém diante dos discretos progressos que percebo já sou capaz de me sentir mais calmo. Hoje eu procuro a dose certa de cada coisa, nem mais, nem menos, não tenho mais a sede do mundo inteiro, mas sim da minha vida inteira.

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Diga-me o certo que te direi o errado


Diga-me o certo que te direi o errado 

Eu não sei do certo, pois acredito que o certo não exista. E como poderei ser certo se nem nele acredito? Pois se não sou certo, sou errado então, será? Que seja. Ao menos estou certo em ser errado, pois mesmo sendo errado pra você eu faço o que acho certo pra mim. Assim fico tranqüilo comigo mesmo, ainda que ninguém entenda minha opinião. E quer saber, sempre desconfiei mesmo que não deveria me preocupar demais com o que acham de mim, se me julgam certo ou errado. Quero mais é que fiquem com o seu certo, que é na verdade errado, e eu fico com meu errado que acaba sendo o certo pra mim.

Mas se o certo não existe – e o errado seria o oposto dele – concluo que o errado não existe também. Logo, não sou errado como pensávamos. Agora complicou, pois se antes eu me achava errado, agora sei que o errado não existe e por isso eu não sou errado. Não sou certo nem errado, sou o que então? Sou eu apenas. E você pensa que é certo, me julga como errado, mas você também não é um nem outro. Você é você, que comete erros e acertos pensando que detém poder sobre eles.

Eu já tenho consciência de que o certo e o errado não passam de criações de nossa cabeça, extensões dos nossos saberes viciados e limitados. O certo de agora pode se tornar o errado daqui a cinco minutos, ou daqui a uma descoberta científica. Ou simplesmente quando você decidir pra si mesmo que quer mudar de certo e errado. São conceitos plenamente mutáveis, e como podem mudar assumem diversas aparências dependendo da boca que vos fala, da mente que os estabelece.

Sendo assim, vamos acabar com essa história de certo e errado, engulam suas opiniões, seus conceitos, suas verdades e dogmas. O dono do certo e do errado é cada um de nós, cada qual com suas verdades. E quem sou eu pra dizer que está errado pensar diferente? Se por acaso você pensa que sabe o certo e o errado do mundo, é sua opinião, não posso nem lhe dizer que está errado pois estaria me contradizendo. Apenas posso aguardar que um dia se dê conta do quão viciado e sistematizado está sua linha de raciocínio e perceba como é pequeno seu mundo. O meu não para de crescer.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Algo nos une



Algo nos une

Algo nos une, seja a descendência gaúcha, o gosto por queijo cheddar, a ausência de um time de coração, a profissão, a dificuldade de amar, o apreço pela solidão, o grito sufocado na garganta, a admiração pela arte, a fila do banco ou da padaria, o prazer de ler e escrever, a cinefilia, a admiração pelo pôr-do-sol, o excesso de sono, a eventual falta dele, a genética boa que não deixa engordar, a hipocondria, os bons valores de família, os olhos sempre atentos, a vontade de ajudar o outro, o medo de sofrer, o hábito de silenciar diante dos conflitos, a sede de viver, o desapego à tecnologia, a compaixão pelos animais, a descrença nas religiões, a crença na divindade, a necessidade de falar, a satisfação em ouvir, o olhar enigmático, a impaciência com tagarelices, o mau-humor matinal, o perfeccionismo seletivo, a dedicação aos projetos pessoais, a mania de criar tabelas e listas, a serenidade cotidiana, a cólera episódica, a oscilação de humor, os estranhos desejos, a incompreensão a certas pessoas/atitudes, a tentativa de abraçar o mundo, o deleite ao comer chocolate, a volúpia diante do sexo, o desprezo pelo telefone celular, a noção de que somos todos um, o gosto pelo anonimato, o descontentamento com (parte da) humanidade, o sorriso largo e os dentes generosos.

Dentre essas e tantas outras características como você pode dizer que não tem nada a ver comigo? Estamos todos conectados; algo nos une.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

sociAÇÃO


sociAÇÃO

"O que você está fazendo aqui?", essa foi a pergunta dita na reunião de pré-estréia do sociAÇÃO. Na mesma hora eu pensei que poderia estar em casa assistindo a novela das oito, jantando num rodízio de sushi ou apenas passeando na orla de Boa viagem, mas resolvi naquela quinta-feira à noite (27-09-12) me engajar numa causa social, por que?  Na mesma hora eu me respondi mentalmente, "Estou aqui pra fazer a diferença, propagar o bem sem olhar a quem, me sentir útil na sociedade em que vivo, quero ajudar a mudar as coisas, dar amor, e receber também, porque não?!"

E é esse o espírito do projeto cujo lema é "O bem é contagioso". A ideia é suprir parte da imensa carência que a sociedade tem por amor, ajudar aqueles necessitados e esquecidos, promover visitas sistemáticas à diversas instituições, campanhas online contra doenças e preconceito, ajudar comunidades carentes dando-lhes mais dignidade e apoio. E pra que isso se torne realidade contamos com a dedicação de nossos voluntários/contagiadores.

Inicio esse projeto bastante animado, tenho consciência de que sozinhos não somos capazes de abarcar a imensa fome global por amor, mas a nossa iniciativa já sacia a fome de muitos. Além disso, faremos atos que visem chamar a atenção da sociedade para as questões sociais, queremos contagiar mais pessoas, engatilhar novos projetos em outras regiões do país -quem sabe até de fora dele- pra que cada vez mais pessoas se beneficiem com essa energia do Bem. Sendo assim, o objetivo maior do sociAÇÃO será promover o bem e pra isso já temos várias ideias e iniciativas, além de um público-alvo bastante diversificado, pois queremos abraçar a todos.

Há cerca de um mês estou organizando junto com alguns amigos esse projeto e gostaria de dividir com vocês. A cada dia me empolgo mais e mais, a todo instante surgem novidades, parcerias, voluntários, ideias... Tudo tem acontecido muito rápido, em pouco mais de um mês tivemos 1300 curtidas na página do facebook, 262 pessoas confirmando presença no evento de estréia, apoio dos dois maiores jornais de Recife pra divulgação, além de algumas incipientes parcerias e patrocínios. Enfim, estou muito feliz com tudo isso, já tinha feito algumas visitas isoladas a creches e asilos antes de me empenhar no sociAÇÃO, mas senti necessidade de sistematizar tais visitas, quero tornar isso uma rotina e angariar mais pessoas à essa nobre causa.

Aos interessados deixo a página do sociAÇÃO no facebook, sintam-se livres pra curtir, se inscrever, dar sugestões, elogios ou firmar parcerias. Estamos abertos a todo tipo de ajuda, pois o bem é contagioso!

https://www.facebook.com/SociAcao?fref=ts

Por último, deixo essa mensagem de reflexão e motivação:
"Seja a mudança que tanto procura nos outros. As pessoas não mudam com cobranças, mudam com exemplos."


[Mente Hiperativa]

sábado, 6 de outubro de 2012

Sua vida é difícil?


Sua vida é difícil?

Essa vida é mesmo muito generosa, a todo instante me oferecendo dificuldades para que eu possa dar mais valor às minhas conquistas, me dando chances de tornar mais gloriosas as minha vitórias. E eu sem compreender apenas reclamava que tudo era difícil pra mim. Mas agora eu entendi, quanto mais árdua a caminhada, mais motivos tenho pra comemorar os pequenos avanços e conquistas. Por isso parei de brigar com a vida, aceitei seus desafios, e vibro a cada vitória, dando valor à pequenez de cada momento.

Você acha sua vida difícil? Mude a forma como encara os obstáculos e sinta como é bom viver sob essa nova perspectiva ao invés de apenas reclamar e se vitimizar o tempo todo. A vida é mais do que isso, a vida é linda!

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quando a saúde se fortalece a partir da doença


Quando a saúde se fortalece a partir da doença

Texto escrito após o meu irmão, que tem cinco anos, receber o diagnóstico de diabetes mellitus tipo I.

É claro que ninguém gosta de receber a notícia de que está doente, imagina ficar sabendo que tem uma doença crônica e incurável, que terá que aprender a conviver com ela para o resto da vida. "Resto da vida", isso soa muito tempo, imaginamos um longo calvário, uma vida repleta de privações e perdas, mas não é bem assim. Muitas vezes a doença é uma oportunidade de olharmos com mais carinho para o nosso organismo, um alerta da vida pra que possamos cuidar melhor de nossa saúde. Assim, a doença pode às vezes nos levar a ter mais saúde, por mais contraditório que possa parecer.

Conheço pessoas que redescobriram a vida após receberem o diagnóstico de diabetes, hipertensão, intolerância à lactose, e até mesmo após um câncer, infarto ou retirada da tireoide. O que todos esses casos - e tantos outros - têm em comum? TODOS exigiram mudanças radicais no estilo de vida, condutas saudáveis, dieta balanceada, atividade física e, é claro, muito equilíbrio emocional. Todas essas pessoas foram obrigadas a repensar a forma como viviam, abandonaram velhos padrões de comportamento que lhe faziam mal e conseguiram enxergar outra forma de conduzir a vida. E eu posso afirmar com toda certeza, depois do choque, da fase de negação e luto por receber uma má-noticia, todas elas levantaram a cabeça e tomaram as rédeas da situação, se dedicaram à mudança e hoje têm bem mais qualidade de vida do que antes de receberem seus diagnósticos.

Sendo assim, diante da descoberta de uma doença crônica ou evento que altere drasticamente a saúde eu prefiro encarar tal momento como uma oportunidade de viver melhor, como se fosse uma sacudida que a vida nos dá pra que possamos cuidar melhor de nós mesmos, pois infelizmente muitos só passam a levar uma vida saudável depois de um susto. Todas essas pessoas que falei hoje se cuidam muito mais do que antes e com certeza vivem melhor, seguindo cuidados que todos nós deveríamos ter mas só fazemos diante da pressão de um médico.

A vida é assim, nos assusta e faz parecer que estamos perdidos, mas no fim do túnel há uma luz, basta seguir o caminho e persistir com coragem e dedicação. Disciplina é a chave pra uma vida saudável, alguns conseguem facilmente, outros precisam de um estímulo maior.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Autismo - Não espere, aja logo!


Autismo - Não espere, aja logo!
Resenha do livro de mesmo nome que fiz para o skoob.


Esse não é o primeiro nem será o último livro que leio sobre o autismo, porém sua abordagem diferencial sobre o assunto me entusiasmou bastante. Digo que é diferente pois a maioria dos livros sobre autismo (e saúde mental, de uma forma geral) são escritos por psiquiatras, neurologistas, psicólogos e outros estudiosos da área. Sendo assim, a linguagem geralmente é técnica e ainda que seja plenamente entendível aos leigos não deixa de guardar certo distanciamento profissional acerca do assunto que trata.

O livro "Autismo - não espere, aja logo!" foge dessa linha uma vez que é escrito pelo pai de uma criança autista, e isso muda tudo. Pelo fato dele descobrir a doença do filho e não ter qualquer conhecimento prévio a respeito dela, ele se torna um grande herói que busca estudar e compreender o mais rápido possível o que se passa na cabeça e no mundo de sua criança. Além disso, é impossível distanciar-se do autismo com profissionalismo, é o seu filho, como poderia não encher de emoção as páginas do livro e carregar de sentimento essa leitura?

Então o que há de mais fantástico no livro não são as informações sobre o espectro autístico, essas podem ser facilmente encontradas na internet ou em qualquer outro livro sobre autismo, porém neste elas são passadas com muita emoção. Somos sutilmente convidados a experimentar uma pequena parte do que sentiu o Paiva Júnior nessa longa viagem de descobertas, sentimos a sua tristeza, seu luto, sua força e garra de lutar, por fim nos enchemos de esperança e coragem de enfrentar o autismo ou qualquer outra dificuldade que nossas crianças venham a ter.

Acredito que a principal função do livro seja oferecer uma mão amiga aos pais e familiares que receberam o diagnóstico de autismo de sua criança. Mas o livro vai além, também se presta a despertar o altruísmo daqueles que não conhecem o autismo e assim julgam mal uma criança autista. Ele ajuda a entender o que se passa no mundo autista, como se sentem os pais dessa criança, e toda a luta que é travada no dia-a-dia. Infelizmente o preconceito persiste como o pior estigma das doenças mentais.

Links:
Resenha do Autismo - Não espere, aja logo!
Outras resenhas escritas por mim 
[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

(Des)apego


(Des)apego 

Diz que não ama mais e quer gritar isso pra todo mundo ouvir, diz que não quer mais e se esforça o tempo todo pra se manter longe. Observe que dizer que não se importa já é se importar de alguma forma, de maneira velada, inconsciente. Isso prova que o amor ainda não morreu e ainda habita sua cabeça e coração.

Essa preocupação toda de mostrar que não se importa muitas vezes mascara um desejo recolhido, parece mais que quer convencer-se do que diz. Afinal quem já esqueceu não se lembra de dizer que esqueceu, simplesmente apagou da memória. Porém, aquele que lembra e quer esquecer precisa convencer-se constantemente disso. É um duelo interno, sem dúvida.

E diante disso o desapego surge como o grande desafio da vivência humana, como esquecer e romper laços? Como lutar contra o desejo que outrora era tão natural? Como deixar de amar de um dia para o outro?

Gritar aos quatro cantos que o amor morreu só reforça a ideia de que ainda está vivo pulsando e resistindo às suas tentativas de assassinato.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Surpresas da vida


Surpresas da vida
Microconto.

Não quis fazer intercâmbio de seis meses para o Canadá,
não queria atrasar o curso universitário.
Mais tarde descobriu que tinha um tumor,
teve que trancar a faculdade por um ano pra se tratar.

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O que te prende?


O que te prende?

Já parou pra pensar o que te prende? O que te impede de alçar voo pra longe e abandonar tudo e todos? Pense naquilo que é importante na sua vida e que não te permite ir embora, aquilo que te faz bem, que você tem medo de perder ou viver sem.

Às vezes sinto vontade de deixar tudo, mas imediatamente algumas pessoas e situações me vem à mente e sou impedido de abandoná-los, é o amor. Não seria capaz de deixar meu mundo pois aqui tenho felicidade, sou amado, amo, sou feliz, me sinto seguro. Não é puramente comodismo, talvez seja um pouco, porém há outros fatores mais fortes que me seguram aqui.

O que te prende? Dinheiro, comodidade, sentimentos, medos, pessoas, situações? O que te impede de voar pra longe? Já pensou nisso? Pense agora.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

AUTISMO - o impressionante caso de CARLY FLEISCHMANN


AUTISMO - o impressionante caso de CARLY FLEISCHMANN

Conheci a história de Carly Fleischmann ao ler o livro "Autismo - não espere, aja logo!" e fiquei completamente admirado, bestificado, sem palavras. Eu pude ver os olhos tristes dela ao dizer certas coisas, pude imaginar parte - e não me atrevo a dizer 'tudo' - que ela sente, a rejeição, a estranheza das pessoas, a carência, a vontade de ser como os outros.

Já é o sexto livro que leio sobre autismo e de todos eles esse foi o que mais me emocionou, pois diferente da maioria que é escrito por profissionais da área (psiquiatras, neurologistas, psicólogos...) esse foi escrito por um pai. O destaque que dou a esse livro não é por conter mais informações nem informações mais valiosas, mas pela maneira como o assunto é abordado, bem mais sentimental e menos profissional, o autor não escreve com termos técnicos nem linguagem 'fria' e científica, o autismo aqui não é um capítulo de psiquiatria, mas um capítulo de sua vida. O Paiva Júnior descobre que seu filho é autista, ele não estudou tal transtorno na faculdade, a vida lhe impôs tal estudo na prática. Além disso, a narração não é em terceira pessoa como se o indivíduo autista fosse o outro, ele fala como se fosse parte dele, e de fato é uma situação que ele vive todos os dias, todas as horas do dia, não é como um médico ou psicólogo que analisa um caso clínico com o devido distanciamento profissional e esse é o diferencial da obra.

Não quero com isso tirar o merecimento dos outros livros, inclusive acho que pra ler esse é preciso ter lido algum mais técnico antes pra se familiarizar com os sintomas, conhecer um pouco do tratamento e o caminho pelo qual o autismo se conduz. E então, quando souber alguma coisa sobre o assunto, leia esse livro, e não apenas dominará tecnicamente o transtorno como também sentirá um pouco do que sente alguém que tem um filho (ou parente) autista. É uma leitura emocionante.

Mas voltando à história de Carly Fleischmann -a quem dirijo a postagem - ela foi diagnosticada com autismo grave e retardo mental severo, mas acabou contrariando todas as expectativas médicas e intrigando a ciência ao mostrar uma evolução inesperada. Quero compartilhar a história dela pra mostrar que o conhecimento da ciência é ínfimo, não sabemos de NADA, tudo que conhecemos é pouquíssimo e que ainda temos MUITO a aprender sobre a mente e seu funcionamento.

Carly foi diagnosticada na infância com autismo severo e retardo mental grave, apresentou comprometimento motor com atraso de funções básicas como sentar e andar, manifestação de movimentos constantes e repetitivos, não desenvolveu a fala. Com um diagnóstico tão sombrio ninguém esperava uma que um dia Carly pudesse levar uma vida 'normal', os progressos eram mínimos e todos pareciam se conformar com a sua situação; seus pais, no entanto, nunca desistiram da filha e jamais perderam a esperança e a força necessária pra lutar pelo bem-estar da pequena Carly.

O tempo passou e aos 11 anos, sem nunca ter sido ensinada a ler ou escrever, muito menos a usar o computador Carly se aproximou dele e digitou as palavras DOR e AJUDA, em seguida correu para o banheiro e vomitou. Aquilo foi incrível, afinal até então ela era tida como deficiente mental, incapaz, desconectada do mundo, e de repente ela mostra que está plenamente ligada em tudo que se passa, que domina a linguagem, que sente da mesma forma que nós e sabe se expressar. Foi uma surpresa muito boa, tão boa que o pai de Carly colocou em xeque o diagnóstico de retardo mental severo; uma das terapeutas inclusive chegou a dizer que tal atitude sugeria que havia muito mais coisas se passando na cabeça de Carly além do que poderiam supor até então.

Depois disso os pais passaram a estimulá-la a escrever, mas ela resistiu a comunicar-se novamente, tentaram por meses, inclusive submetendo seus pedidos ao ato dela digitar no computador. Um dia, porém, ela resolveu desabafar seus sentimentos e acabou revelando uma enorme capacidade de articular ideias, mostrou que tem entendimento de sua condição, que sente o mundo ao seu redor, que sabe onde está, com quem e o que faz. Foi uma revelação e tanto. Segue alguns de seus dizeres:

"Sou autista, mas isso não me define. Conheça-me antes d eme julgar."

"Se eu não bater a cabeça parece que eu vou explodir, eu tento não fazê-lo mas não é como apertar um botão."

"Eu sei o que é certo e o que é errado, mas é como se eu lutasse contra o meu cérebro o tempo todo."

"Eu queria ir à escola como uma criança normal, mas não quero que fiquem com medo de mim quando eu bater na mesa ou gritar."

"As pessoas pensam que sou burra porque não sei falar."

Essa última frase foi a que mais me marcou, mostra um pouco do estigma que ela carrega e fica bastante claro o quanto ela sofre com a subestimação, com a indiferença, com o desprezo, com o preconceito e desinformação das pessoas que a rodeiam.

Diante disso tudo, os médicos reconsideraram o diagnóstico de retardo mental severo. E eu me atrevo a mais, eu questiono o esteriótipo que é colocado aos autistas, dizem que são desconectados, aluados, incapazes, deficientes, antissociais, lerdos, loucos e tantas outras coisas. Será mesmo que são isso tudo? De fato eles têm um funcionamento cerebral atípico, mas isso não os torna inferiores. O autista tem muito a nos ensinar, basta querermos aprender, podemos nos envolver e conhecer o seu mundo ao invés de apenas querer trazê-lo ao nosso. Burro são os que não conseguem enxergar isso como uma oportunidade de aprendizado e aceitação das diferenças.

A história completa de Carly Fleischmann: http://www.vocesabia.net/saude/autismo-o-caso-impressionante-de-carly-fleischmann/

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Escuridão


Escuridão

Descobri um novo mundo, apaguei a luz e multipliquei o valor de cada toque, ampliei a sensibilidade da minha pele, meus dedos passaram a ser a chave para sentir nessa nova dimensão. O seco, o molhado, o quente, o úmido, cada toque projeta um calafrio, um alisado, uma mordida, a saliva que pinta o corpo com cores  que não posso ver. Sinto agora coisas que antes não eram possíveis, percebo com mais astúcia o que meu olhar precocemente revelava, de olhos fechados posso explorar mais profundamente a realidade que me cerca. No escuro existe um novo mundo, mais rico, mais interessante e bem mais extenso do que minha visão pode proporcionar. Assim me debruço nas novas possibilidades que a negritude oferece, me aproveito disso tudo e me sinto um turista perdido na escuridão. E como é bom perder-me.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Adeus, filho perfeito


Adeus, filho perfeito

Saiu do consultório médico decepcionado com o diagnóstico que recebera do filho. E agora, o que diria aos amigos? Como aceitar que o filho não era Perfeito como sempre sonhou? Por tanto tempo alimentou expectativas de que poderia levar o filho ao treino de futebol, queria ensiná-lo a surfar, comprar bateria e guitarra para que ele pudesse formar uma banda com os amigos, quem sabe até ensaiar na garagem de casa a despeito das reclamações da vizinhança. Amigos? Será que o filho seria capaz de fazê-los depois dessa notícia? Não tinha mais certeza de nada, e seus sonhos caíram por terra.

Sentiu-se perdido, perdido e triste, como poderia concretizar tantos sonhos diante de um diagnóstico severo como esse? Autista??? Esse médico não devia saber o que estava falando... Na hora pensou até em processá-lo, depois desistiu e pegou o carro, saiu sem rumo, queria espairecer, esquecer que esse dia aconteceu e acreditar que tudo não passava de loucura da cabeça do médico. No dia seguinte, mais calmo, tomou uma importante decisão: procuraria outro médico, e outro, e outro, até que algum deles atestasse a normalidade do filho. Foi uma verdadeira peregrinação, mas as respostas eram sempre as mesmas e nenhum falou aquilo que ele queria ouvir.

Ele não aceitou fácil, mas o filho era sim diferente; nem melhor, nem pior, apenas diferente. Bastava observar aquele pequeno por alguns instantes pra notar que interagia com o mundo de uma forma toda peculiar. Mas ainda assim ele transmitia vida nos seus olhos, pois ao contrário do que muitos ainda pensam o autista não é morto por dentro, não tem um olhar vago e movimentos vazios e repetitivos, ele vive, sorri, cria laços e afeto.

Mesmo diante disso tudo o pobre pai apenas pensava numa maneira de levar adiante todos aqueles sonhos que construiu em torno do filho Perfeito. Entretanto eu lhe pergunto, porque não levar adiante os tais sonhos? O fato de ser uma criança diferente não o torna incapaz, porém o preconceito poderá sim torná-lo um inútil, inclusive pode privá-lo de ser feliz. Se a criança é diferente ele poderá te oferecer uma nova forma de enxergar o mundo, ele tem talentos que podem ser diferentes dos talentos da maioria e certamente te deixarão surpreso.

O pai demorou a aceitar, mas passado o primeiro momento de susto ele procurou se informar sobre o autismo e descobriu que não é o fim do mundo. Depois disso, alimentado pela esperança de ver o filho bem, ele prosseguiu pela enorme caminhada que o espera pela frente, árdua e recompensadora, que lhe trará como troféu um filho atleta, músico, surfista, sociável, com boas notas e o mais importante de tudo, Feliz. 

Nenhum filho nasce perfeito, assim como ninguém é super-herói antes de ser pai. Esses conceitos são construídos com luta e merecimento; então será melhor desistir dos sonhos ou continuar a percorrê-los?

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

3 Anos de Mente Hiperativa


3 Anos de Mente Hiperativa

Parece que foi ontem que tive a ideia (e a coragem) de criar um blog. Digo coragem porque não é fácil se dedicar a escrever, sobretudo não é fácil expor seus pontos de vista na rede sabendo que todo tipo de gente poderá ler. No começo me senti bastante inseguro, com medo de não saber escrever direito, de não conseguir agradar e principalmente de não ter assunto pra alimentar o blog com frequência. Antes disso eu nunca tinha cultivado o hábito de escrever, não fiz nem faço o curso de letras ou jornalismo, então tudo o que sei - se é que sei alguma coisa - aprendi na prática, escrevendo e escrevendo, errando, corrigindo, publicando, dando a cara a tapa, enfim.

Depois de um tempo, muito trabalho e alguns elogios, acabei me convencendo de que eu escrevia razoavelmente e constatei isso ao ler as postagens antigas e perceber o quanto me aprimorei, era indiscutível o meu crescimento. Mas depois de superar essas dificuldades iniciais, outras surgiram, passei a ansiar por comentários, precisava deles e os utilizava como um termômetro do blog, queria saber o que os leitores pensavam sobre o que eu escrevia, necessitava que me dissessem se tinham gostado ou não, se houve alguma identificação, se lhes serviu de alguma ajuda. Depois tive medo de me tornar vaidoso em excesso.

Hoje me sinto seguro ao escrever, não me considero um escritor, apenas alguém que aprendeu a usar as palavras pra desabafar sobre os próprios conflitos e talvez até ajudar os outros. Nesses três anos derramei muito sangue e lágrimas através de minhas palavras, foram tantas angústias antes sufocadas que agora puderam ser expressas em textos, alegrias, exaltações, pedidos de desculpas que nunca chegaram aos ouvidos de quem devia, mas puderam escapar da minha boca através dos meus dedos, agradecimentos, saudades, ódio, incompreensão, tudo que eu senti eu pude expressar aqui nesse espaço.

Fiz amigos também, estreitei laços com alguns leitores, trocamos ideias mais íntimas, conversamos com frequência; alguns desses conheci pessoalmente, outros mesmo sem ter visto já moram no meu coração. Já recebi emails e comentários de pessoas que se identificaram profundamente com algum texto, que viveram algo parecido, e muitas pessoas disseram que se sentiram confortadas ao saber que não estão sós, souberam de alguma forma aproveitar minhas palavras pra lidar com determinada situação. Isso é tão prazeroso, me sinto tão bem, tão útil, tão leve. Até diminui minha dor.

Quero agradecer a todos que participam desse projeto comigo, aos que comentam, criticam, seguem e aos que apenas leem, silenciosamente, as minhas postagens. Fiquem sabendo que esse blog só deu certo porque não estou sozinho, tenho o estímulo e a participação de vocês.

Com relação ao futuro meu plano é continuar escrevendo mais e mais, colocar pra fora de forma organizada boa parte do que se passa na minha mente hiperativa, problemas, soluções, conflitos, ideias, emoções. Vou seguir com o projeto adiante e quem sabe um dia ele se torne um livro. Já recebi essa sugestão de alguns leitores-amigos, levei muito tempo pra aceitá-la e me sentir pronto pra isso. Agora só falta organizar as ideias. Sendo assim, o blog continuará como sempre foi, meu refúgio sagrado, secreto, que não sinto necessidade de estampar em outdoors pela cidade ou nos murais do facebook, não tenho a pretensão de transformá-lo num contador de visitas e comentários, quero que seja esse espaço que exponho ideias e ouço opiniões, o lugar de poucos e fiéis amigos-seguidores.

Lembro com carinho da primeira postagem ainda no blog original que um dia foi tirado do ar, fiquei muito triste nesse dia, porém essa situação propiciou a criação desse novo blog que não deixa de ser uma continuação repaginada do bom e velho MH.


Nota: como presente de aniversário estou aceitando comentários, fiquem à vontade e sintam-se em casa, sempre.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Quero mais verde!


Quero mais verde!

E de repente o mesmo banquete de sempre já não enche a minha barriga, o meu objeto de desejo já não me satisfaz como antes; parece que a fonte [de prazer] secou e o que antes agradava, hoje não tem mais tanta importância. Me pergunto se TUDO mudou ou apenas EU mudei? Às vezes sinto um desânimo sem motivo, uma apatia, um desprezo com relação ao mundo e aos mundanos... Nessas horas penso na vida e vejo que sou um pouco zumbi, movido por desejos que não são mais meus, me forçando a lutar por causas que não são minhas, seguindo uma vida que não me pertence mais. E onde estou eu no meio disso tudo?

Definitivamente é hora de mudar os rumos!

Tento entender o que se passa comigo, tento juntar as peças desse enorme quebra-cabeça chamado vida e procuro encontrar alguma imagem que faça sentido no meio de tantos pensamentos e ideias, tantas informações bombardeadas no dia-a-dia, permissões, proibições, notícias, medos, reviravoltas, sentimentos, angústia desconhecidas, críticas sociais, pressões de consumo, sonhos bizarros e Freudianamente inexplicáveis. Diante de tanta confusão procuro pensar quem eu sou, e esquecer quem estou sendo. Enquanto isso no meu peito há um enorme buraco, e o quanto de coisa será que cabe nesse imenso vazio?

À cada dia me rebelo mais e amadureço. Não quero mais o que outrora quis, me enchi disso tudo, larguei o que não sou. É hora de fazer mais uma faxina geral na vida, cortar o que não sou e deixar crescer o que for naturalmente eu. Quero ser mais VERDE, quero ser mais EU, e ser feliz sem ter que agir conforme as massas, conforme os outros, da maneira que a mídia e a sociedade querem que eu seja. Preciso ME perguntar antes de tudo se tal atitude ou comportamento me agrada, se esse sou eu, e depois seguir em frente ou dobrar à esquerda. Não quero ser uma obra dos outros, que sofre pra se encaixar num modelo e depois sofre por não se sentir confortável no mesmo modelo, afinal ninguém cabe perfeitamente numa fôrma.


[Mente Hiperativa]

domingo, 16 de setembro de 2012

Comece


Comece

Amanhã é segunda-feira

comece uma nova dieta

inscreva-se na natação

corra na praia no fim da tarde

compre sapatos novos

ou gravatas novas

assista menos televisão

leia mais

escreva um verso por dia

contemple a natureza

ouça o silêncio

admire-se no espelho

paquere pessoas desconhecidas

beije mais

ame

ligue para aquele amigo sumido

tome um café na lanchonete da esquina

e olhe ao seu redor

enxergue um novo mundo

se dê novas oportunidades

ande por novos caminhos

abandone o carro

e vá a pé

ou pegue carona com aquele colega distante

estreite laços

converse mais

faça novos amigos

jogue fora o que não presta

doe o que não usa mais

abra espaço para coisas novas

no armário e na vida

amanhã é segunda-feira

que tal começar algo novo?

[Mente Hiperativa]


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mudando os ares


Mudando os ares

Eu queria sair daqui, não pra fugir dos meus problemas, pois já entendi que não posso fazê-lo. Meu desejo era apenas mudar os ares, conhecer novos lugares, novas pessoas, afastar-me do meu mundo, tão pequeno. E assim eu fui, de malas prontas cheias de entusiasmo e alegria, passei um tempo fora, e foi uma experiência reveladora. No novo mundo eu não descobri nada que mudasse minha vida, mas nele eu pude enxergar de longe a minha realidade, pude enxergar o que de perto eu não consegui ver.

Viajei pra esquecer de tudo, e acabei entendendo o que eu queria esquecer.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Amor indigesto



Amor indigesto

Acordei com fome, muita fome, peguei os melhores ingredientes para preparar um prato de AMOR. Eu sei que amor não enche barriga, mas eu estava com desejo de comê-lo. Fiquei salivando só em pensar naquele amor bem temperado, picante e assado; reguei-o no vinho e rapidamente o coloquei no forno pré-aquecido.

Em meia hora estava pronto o amor e antes que desse tempo de aprontar a mesa, eu já tinha devorado tudo. Talvez eu tenha comido muito rápido, ou o meu estômago não tenha aceitado-o bem, de uma forma ou de outra corri ao banheiro, coloquei o dedo na garganta e vomitei o amor. Ele não me fez bem, eu precisava pôr pra fora. Confesso que sempre faço isso, não é novidade pra mim. É difícil admitir, mas talvez eu sofra de bulimia amorosa.

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Feridas da infância


Feridas da infância

Quando eu era criança fui machucado, não no corpo, mas na mente. Eu sofri, chorei, calei. O tempo passou, tornei-me adulto e pensei que as feridas haviam fechado. Ledo engano... A criança que um dia sofreu ainda permanece dentro de mim e cada vez que eu - agora adulto - entro em contato com a mesma situação que causou esse trauma, a criança indefesa e confusa se põe a chorar.

Isso explica bastante coisa, agora entendo porque em certos momentos não consigo agir, me sinto engessado, fica difícil fazer qualquer coisa por mais simples que seja. Eu como adulto conseguiria resolver, porém nesses momentos a criança é chamada e traz consigo toda a memória dolorosa que viveu, resgata todo o estresse e o instala no eu-adulto. Então, o adulto fica sem saber o que fazer e a criança dentro dele apenas sofre, calada.

Antes eu não tinha esse entendimento acerca dos meus medos e bloqueios, mas de agora em diante devo me esforçar para aprender a cuidar dessa criança que vive dentro de mim. Sendo assim tenho que explicá-la que o eu-adulto deve tomar frente diante desses eventos traumáticos, preciso proteger a criança e deixar que o adulto enfrente seus medos de forma racional.

[Mente Hiperativa]