domingo, 27 de abril de 2014

Sonho de (a)mar


Sonho de (a)mar 

As melhores noites de sono são aquelas em que o tempo está frio; os melhores sonhos são os que se passam como uma experiência real.

Naquela noite fechei os olhos e logo adormeci, o som dos grilos parecia cada vez mais distante, cedendo lugar à voz suave da emoção que progressivamente inundava meus ouvidos. Ela falava coisas bonitas e tentava me convencer a fazer um passeio de barco cujo caminho era bastante assustador. Pegando gentilmente em minhas mãos, ela foi me conduzindo pelo oceano de incertezas ao mesmo tempo em que me encorajava a superar qualquer dificuldade que surgisse pelo caminho. E assim me deixei levar pela correnteza de suas águas. 

Diversos foram os percalços, mas a emoção me deu a força suficiente pra seguir adiante com firmeza. Tudo parecia tranquilo, olhei ao redor e o horizonte se perdia de vista, o azul do (a)mar emendava com o azul infinito do céu e então senti-me todo água, comungando daquela imensa massa líquida. Nesse exato momento o azul começou a escurecer, o tempo fechou e o céu desabou na minha cabeça como uma tempestade negra e traiçoeira. De repente me vi ao relento em um barco abandonado em meio ao mar-aberto, pronto pra ser engolido por suas águas enfurecidas. Não sei ao certo o que despertou essa ira, mas tive muito medo, me encolhi e esperei que algo me salvasse daquela situação angustiante. 

Uma pontada dolorosa na cabeça me fez despertar do sonho, era a mão pesada da razão que me trazia de volta sem a sutileza daquela que me encorajou ao passeio. Eu estava completamente suado, molhado com as águas do (a)mar e custei a acreditar que era um sonho, pois a sensação era bastante clara: eu estava mesmo me afogando num poço de insegurança. Ainda assustado, sentei na cama e pude contemplar novamente o som dos grilos. Lá fora a chuva forte alagava a cidade com sua dor, aqui dentro do meu peito o silêncio tentava sufocar qualquer resquício de emoção do (a)mar.

[Mente Hiperativa]