quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Piuí


Piuí

O meu coração
igual a um trem
às vezes vazio,
outras lotado.

Ah, esse meu trem
tantos carregou
no entra-e-sai
não fica ninguém.

Sou tão solitário
-o motorista-
todo restante
é passageiro!

Um dia canso
me aposento
largo o meu trem
pra viver de amor.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O tempo: meu amigo-inimigo


O tempo: meu amigo-inimigo

O tempo me embala, me acalma
E eu me balanço na eterna espera
Do presente do futuro distante...
Me sacudo e me levanto
Me animo e descanso
Esperando o tempo chegar
Aguardando o tempo passar
E no embalo do tempo eu vou
Não sei pra onde vou, mas vou

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Revendo meu conceito de 'eterno'


Revendo meu conceito de 'eterno'

Eu sempre achei que o eterno fosse um tempo inconjugável, até então não acreditava que ele fosse verdadeiro e por isso nem utilizava-o no meu cotidiano. A vida, no entanto, me fez perceber que eternos são aqueles momentos que não queremos apagar da memória, são as pessoas inesquecíveis pra nós, os fatos que mudaram o nosso rumo, as emoções que nos marcaram profundamente.

O eterno já foi passado, mas continua presente, e certamente será ainda futuro.

E pouco importa se o eterno durou uma hora, sete dias ou dez anos, ele é um tempo que não pode ser medido, é sem unidade, livre, sem amarras. O eterno pode ter origem em atitudes passadas, porém ainda é capaz de projetar profundas sensações que repercutem no presente, afirmando assim a sua natureza perpétua.

Depois de tanto tempo desacreditando no 'pra sempre' hoje eu posso enxergar claramente que o eterno não só existe como vive na nossa mente, e se conjuga, sim senhor!



[Mente Hiperativa]

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A escola da vida


A escola da vida

Eu não saberia responder t
odos os questionamentos da vida, tampouco já me deparei com todas as perguntas. Talvez eu não passe de um ignorante ousando na arte de viver, ou apenas um semi-analfabeto sedento por conhecimento. Eu só sei que a todo momento eu me questiono acerca da vida, e se respostas não encontro ao menos outras dúvidas me guiam adiante. E assim, sem certezas nem soluções, vou vivendo a vida e me alfabetizando em sua grande escola. Quem sabe um dia eu possa lecionar o pouco que aprendi, quem sabe um dia minhas mãos calejadas possam prevenir os mesmos calos alheios, e permiti-los novos calos de dor e conhecimento.

[Mente Hiperativa]

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Expectativas


Expectativas

Por um olhar que me faça sorrir


Por um sorriso que me faça suar

Por um suor que me faça delirar

Por um delírio que me faça viver

Por uma vida que me faça feliz

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Não me chame de velho, sou idoso!


Não me chame de velho, sou idoso!

O idoso é uma espécie de velho que sofreu um upgrade, como uma foto antiga que foi reparada pelo photoshop e agora está sem rugas, com os dentes mais brilhantes, alvos, com a pele mais firme e sem aquele ar cansado de quem já viveu muitas décadas e precisa se esticar numa cova rasa. Atualmente, velho é apenas uma gíria usada entre jovens pra se dirigir a um deles; chamar uma pessoa de mais idade por esse nome passou a ser não apenas falta de educação, como até incoerência.

Digo isso porque antigamente os velhos -como sugere a própria nomenclatura- eram pessoas que pareciam cansadas, usadas, sem serventia, que não prestavam mais à sociedade e não traziam qualquer rendimento a ela ou a si mesmos. Hoje em dia, no entanto, isso não condiz mais com a realidade visto que as pessoas não ficam inúteis, inválidas ou incapazes, ao contrário, o tempo passa e elas se permanecem produtivas, mantendo suas capacidades preservadas e levando uma vida saudável e atarefada.



Hoje em dia não se fazem mais velhos como antigamente, que morriam aos 60, cegos e caducos, se balançando numa cadeira num canto escuro e esquecido da sala enquanto o resto da família jantava alegremente na cozinha. O idoso chegou pra mudar essa realidade, e assim nasceu já velho, mas com o pique de quem gosta de correr na praia, trabalhar, sair à noite e até namorar, por que não? O idoso é o velho com a alma de jovem, com um adicional imenso de experiência de vida e sabedoria, ele não baba nem usa fraldas, e ao contrário de muito jovenzinho cabeça-de-vento, eles podem ter uma ótima memória, trabalham em casa e fora dela, praticam esportes e cuidam da saúde.



Por essas e por outras eles têm estatuto, tem baile, clube, tem força pra lutar, constituem muitas vezes uma parcela considerável no mercado consumidor, participam da renda familiar, opinam, e muitos são dados às modernices tecnológicas e comportamentais. Tem muito velho, digo, idoso, mais novo do que muito jovem por aí.



Sendo assim, o idoso é o novo velho, repaginado, versão 2.0, com novos aplicativos de série, cartão de memória expandida e designer moderno. Não se iluda com os números, pois o desempenho supera esse dado meramente matemático. Não se prenda aos padrões de antigamente, tão retrógrados, que delegavam o asilo e o descanso a quem passava determinado marco da vida. Os idosos estão com tudo. Entendeu, meu velho?

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A tal batalha diária


A tal batalha diária

Luto contra moinhos de dentro de minha alma, é uma batalha diária e silenciosa cujo barulho me atordoa dia e noite. Aqueles que passam desavisados por mim podem nem notar, eu sorrio e disfarço, mas por dentro sou sangue e ódio, duelo e vida. E dessa guerra saem muitos feridos, até mortos; será que eu sairei vencedor ou vencido no fim disso tudo? Eu queria ter essa resposta mas infelizmente não sei, à cada dia me sinto mais maduro e mais sofrido, sem dúvida é uma guerra sem fim. Receio que só termine com a morte, a dura batalha de viver.

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Verdades inquietas


Verdades inquietas

É tão rico o campo das suposições, é tão vasto, é tão envolvente que nos seduz a tomá-lo como verdade, a firmá-lo como realidade; e não meramente como uma hipótese elaborada pela nossa imaginação fértil. E como são tolos aqueles que se deixam levar pelas suposições, que se enganam com verdades inventadas pra aliviar suas culpas ou encobrir seus crimes. Palpites não passam de verdades inquietas. Supor não é burrice, mas se deixar guiar por pistas que não se confirmam é o mesmo que se jogar do precipício com a certeza de que uma rede o espera lá embaixo. Você arrisca supor o que acontecerá?

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

E você?


E você?

O tempo passou
O filósofo pensou
O arroz queimou
O fogo apagou
O amor minguou
O mar acalmou
(E você,)
O que plantou?

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

(L)


(L)

E mesmo que seja proibido
Ainda que seja difícil
A despeito da distância
Das diferenças, dos medos
Independente de qualquer coisa
O amor supera tudo
E se concretiza!

[Mente Hiperativa]

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Amizade X distância


Amizade X distância

A amizade embora faça rima com proximidade não precisa desta para ser plena. Não são mais amigos aqueles que moram no mesmo quarteirão em que nós vivemos, tampouco aqueles que passam o dia inteiro conosco na escola ou no trabalho. A pouca distância é apenas uma pretexto que nos encoraja a conhecer melhor as outras pessoas, é como uma oportunidade de estreitar os laços, encontrar afinidades. E por outro lado, quando a distância se torna grande ela pode ser usada maliciosamente como desculpa para o afastamento e consequente enfraquecimento da relação.

O ingrediente principal e essencial da boa amizade é a cumplicidade -que também faz rima- essa sim é imprescindível numa relação e não se mede em metros, quilômetros ou qualquer outra unidade de espaço. A cumplicidade é gerada através da troca de experiências, baseada na confiança, e aumentada através da exaustiva interação, ainda que a longa distância.

Eu, por exemplo, tenho amigos que moram no mesmo bairro em que eu resido mas que vejo pouquíssimas vezes pessoalmente, também tenho amigos que vivem em outros estados do país e nem por isso deixam de ser tão importantes pra mim. O que os torna tão grandes é o fato de que nos falamos com frequência, sempre dividimos nossas alegrias e angústias, eles sabem muito de mim, e eu deles, trocamos intensamente experiências e emoções, nos apoiamos e nos consolamos. Mesmo fisicamente distantes.

Paradoxalmente, tenho vizinhos que sequer sei os seus nomes, apenas troco cumprimentos eventualmente quando os encontro no elevador ou na área comum do prédio. E tenho colegas de faculdade que vejo diariamente mas não sei nem que ideias e sonhos carregam, pois não trocam comigo qualquer pensamento ou emoção mais íntima, são portanto apenas conhecidos, embora estejam tão perto de mim.

Sendo assim eu só posso constatar que a distância não implica necessariamente no enfraquecimento de uma amizade, acredito que quando queremos e corremos atrás o sentimento nunca fica minguado. Quando as pessoas dizem que a distância os afastou é porque na verdade elegeram novas prioridades pra sua vida, talvez o namoro, a carreira, ou mesmo novos amigos, mas isso tudo não passa de uma desculpa.

[Mente Hiperativa]

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Estrago


Estrago
Estrago

E se eu tivesse estragado tudo
seria eu mais feliz no estrago causado?

Será que a coisa errada
é a coisa presente que fiz e mantenho?

Ou será que não passam de desculpas
que uso pra postergar a felicidade?

Nunca saberei como seria
se não fosse como é agora?

Será que todo o estrago já foi causado
ou ainda dá pra estragar um pouco mais?


[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Receita de bolo


Receita de bolo


Pega

Aperta

Mexe

Mexe

Esquenta

Cresce

Enfia

Pinga

Tira

E pronto

Tá pronto

O bolo


[Mente Hiperativa]


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um brinde a (nossa) loucura!


Um brinde a (nossa) loucura!

Sem querer me flagro pensando em você, imaginando seu rosto como deva ser, sinto até as minhas mãos percorrendo-o como se o esculpissem delicadamente à minha maneira. Então eu lembro dos seus olhares, seus gestos, recordo os nossos passeios, as nossas viagens, que nunca ocorreram. Parece incrível, mas consigo enxergar com detalhes todos os nossos encontros, ainda que nenhum deles tenha acontecido de fato. Talvez eu seja um lunático, ou esteja sofrendo de um amor incipiente. Talvez seja um caso de internação, intervenção, ou quem sabe eu só precise de uma interação, pra ter certeza de que é você quem eu tanto procurava.

Às vezes até eu duvido que isso seja realidade, penso que pode ser apenas um sonho bonito ou alguma invenção da minha cabeça desmiolada. Comigo tudo é possível, afinal nunca tive os dois pés plantados no chão, meus parafusos sempre pareceram um pouco frouxos. E prestando atenção isso combina tanto com você, que desde o começo me falou -como quem confessa um crime- que era meio doida. Ah, não se preocupe não, doidice não me assusta, não. Acho até charmoso de sua parte.

Talvez seja bobagem minha recordar o que não houve, e talvez nunca haverá. Podem ser lembranças reais ou apenas suspiros poéticos do meu pobre coração solitário. De uma forma ou de outra o seu lado desconhecido e enigmático é pra mim bastante charmoso, me encanta. E será que é normal pensar tanto em alguém que mal conhece?

Pra ser sincero nem me importo se é normal ou não, afinal quem sou eu pra me achar normal? Já passei dessa fase de tentar ser o que não sou. Apesar das minhas loucuras eu tenho convicção de que você é bem real, tirando a parte das recordações imaginárias sobram ainda algumas poucas conversas interessantes que tivemos. Quem sabe um dia não nos esbarramos por aí e colorimos essas lembranças que já estão desenhadas na minha memória?

Espero um dia poder brindar contigo à nossa loucura, e quando isso for real eu não mais vou pensar nas lembranças dos dias que ainda não foram, pois aí sim eles já vão estar sendo. Quer mais uma dose de vinho? Senta aqui e vamos terminar aquela conversa do outro dia... Você tão anda sumida, por onde esteve nos últimos tempos?

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cinismo


Cinismo

Eu quero o dom das meias-palavras, aquelas bonitas de sabor amargo, que descem cortando a garganta de quem as engole por acaso. Vou usá-las como um grito mudo, direto nos ouvidos daqueles que ousarem cruzar o meu caminho.

Preciso aprender urgente o dom do cinismo, aquele que nos faz falar sem querer ter dito, que nos faz agir sem ter prévio conhecimento da ação. Eu quero usar as armas sem teoricamente saber atirar, e assim acertar na mira, num golpe de misericórdia.

Eu quero saber fingir que não sei, mas sabendo, e fazendo tudo consciente, me fazendo de inocente. Assim eu posso cortar gargantas que falam mais do que suas línguas lhe ordenam, posso deixar surdos os ouvidos que muito querem escutar, além do que deviam.

Quero ser cínico a ponto de esquecer de que sei o que faço, e assim me perder no compasso, agir, e punir, sem nem sentir, não quero peso, não quero culpa, quero só meias-palavras, bonitas e amargas, ingênuas, docemente proferidas, e pessimamente digeridas.

Um dia ainda aprendo a não me importar tanto com esses detalhes, que me tiram toda a frieza. Ainda vou aprender a usar essas armas, e aí não serei mais vítima, serei tão vitima quanto o próprio algoz que serei eu mesmo. Um dia eu deixo esse amadorismo pra ser um profissional no fingimento.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O amor (des)obrigado


O amor (des)obrigado
O

Eu não preciso de regras, código de conduta ou boas maneiras. Não quero bula ou instruções de como viver a vida nem de quem devo amar. O amor não reconhece deveres, ele é instintivo. Também não quero o amor por obrigação ou convenção. Eu preciso sentir que sou amado, mais do que ouvir, eu quero 'sentir', e não me bastam as conveniências, dispenso-as todas. O amor não é imposto, nem nunca será subentendido, eu quero o amor que grita, que se expressa, que se mostra. Pra mim amor recolhido não passa de uma lei socialmente aceita de que pessoas devem se amar. E eu não acredito em nada que seja socialmente imposto, prefiro acreditar no que meu coração sente. Por isso eu digo que estou me lixando para a opinião pública e que as conveniências não me convém, ou você me ama pelo que sou (e demonstra isso) ou esqueça qualquer obrigação de ter que me amar por isso ou por aquilo, por qualquer laço ou regra tola.


Eu só quero o amor de quem me ama, seja parente, aderente, ou mesmo serpente, dispenso qualquer sentimento por obrigação.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Amigos serão sempre Amigos (?)


Amigos serão sempre Amigos (?)
Amigos serão sempre Amigos (?)

Com o tempo você percebe que as pessoas pelas quais você seria capaz de morrer, hoje não fazem por merecer que você perca um dedo. É incrível e ao mesmo tempo desolador notar que aqueles que você dedicou tanto amor hoje não fazem a mínima questão de estar ao seu lado. Mais incrível ainda é deixar de sofrer pela ausência deles e tornar-se um pouco monstro e um pouco maduro a ponto de aceitar que eles nunca mais serão como já foram um dia.

Às vezes dá raiva, às vezes dá um alívio, mas seja pelo sofrer ou pelo amadurecimento, aprendemos que é preciso se render ao famigerado 'adeus'. Eles não voltarão a ser como antes e é preciso deixá-los partir, até porque ele já se foram, permanecem apenas no nosso pensamento que em vão ainda nos remete a eles.

Eu tenho essa mania de lembrar de quem já me esqueceu, mas prometi a mim mesmo que ia revisar esse conceito, elaborar uma maneira de fugir desse sofrimento sem quê nem porquê. Prometo que se meus amigos quiserem ir, deixarei eles partirem, não vou chorar nem sofrer, afinal novas experiências os aguardam. E a mim também, adeus.

[Mente Hiperativa]

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Novo layout

(clique na imagem para vê-la aumentada)


Novo layout

Novo visual. O que acharam? Críticas, elogios? Tô aceitando, meus leitores invisíveis.



[Mente Hiperativa]

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Devaneios de uma madrugada sem você


Devaneios de uma madrugada sem você

Eu quero curtir o silêncio tranquilo ao teu lado, quero teus ditos e não-ditos, o falado e o cogitado, quero teus dilemas e pensamentos, tuas carícias, teu afago. Quero ter certeza de que te tenho mesmo sem te ter plenamente. Preciso ouvir da tua boca o som do 'eu te amo' pra saber que nada mais te importa, e que sem mim nada mais faz sentido. Preciso saber que eu sou teu mundoe que você pensa em mim todas as noite antes de colocar a cabeça no travesseiro e dormir. Eu quero invadir os teus sonhos, sem pedir licença, tomar conta dos teus pensamentos, fazer parte da tua vida. Você me permite?

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Melancolia


Melancolia

Melancolia
Alguém bateu à porta
Se for a tal felicidade
Que volte outra hora.



[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Trem da felicidade


Trem da felicidade
m da felicidade

Tem vaga nesse trem
chamado felicidade?
Será que ainda tem?

Vou no último vagão,
se for preciso, eu vou.
Não tem problema não.

Tá cheio? Tá lotado?
Ocupo pouco espaço,
vou até pendurado.

Mas ficar fora, fico não.
Espera que te pego
na próxima estação.


[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Morrer assim, desse jeito assim, nunca esperei.


Morrer assim, desse jeito assim, nunca esperei.
Morrer assim, desse jeito assim, nunca esperei.

Morava à beira mar e naquele dia ensolarado foi até a área de lazer do prédio levar o irmãozinho à piscina, mas chegando lá viu que estava lotada de pessoas e por isso bastante desconfortável. Resolveu, então, descer até o hall principal do prédio e distraí-lo com outra atividade qualquer.

Nesse hall havia um vidro bem grande que partia do chão até o teto e formava uma espécie de parede que permitia uma bela vista da praia a quem estava na sala. A vista era realmente bela, tanto que ele parou pra contemplá-la por alguns instantes, olhava o mar, as pessoas na areia, sentadas em suas cadeiras, tomando cerveja e se bronzeando despreocupadamente ao sol.

De repente ele se surpreende com uma onda que atinge as pessoas e as obriga a mudar de lugar, a se afastarem um pouco do mar. Ele procura o irmão com o olhar pelo hall, mas ao perceber que ele está com o pai, volta sua atenção à praia. Acompanha o movimento do mar, que parece agressivo. Mais uma onda vem e novamente molha as pessoas que, abusadas, se afastam um pouco mais do mar e ganham alguns metros aquém da faixa de areia.

Depois dessas ondas tudo fica calmo, e o mar parece secar. Mas não seca como normalmente acontece, ele secou rápido demais, de modo que os peixes ficam ainda pulando na areia seca. Absurdo, você pode pensar, ele também pensou ao contemplar estarrecido a enorme onda que se formava logo adiante. Seus olhos estavam arregalados e num grito desesperado ele disse em vão: "paaaaaaai", enquanto apontava para aquela onda que até projetava uma sombra sobre o solo.

A onda derrubou todos que frequentavam a praia, e num piscar de olhos cobriu tudo que havia pela frente. O vidro do hall, que antes parecia uma janela para o mundo, fora completamente encoberto de água. E seu coração nesse momento batia disparado, em contraste com o seu corpo que estava completamente congelado, paralisado, diante de tamanha cena catastrófica, antes só vista nos noticiários e grandes produções Hollywoodianas.

Seu ouvido, que nunca fora tão bom, conseguiu ouvir os estalos do vidro, e enquanto seus olhos permaneciam arregalados eles observavam pequenas rachaduras se formarem e crescerem, crescerem, até romperem o painel de vidro. A água se espalhou por todo o ambiente, gritos desesperados agora se misturavam com o barulho da água arrastando tudo, até que se fez o silêncio. Tudo ficou sem cor, nem som, não era preto e silêncio, era uma sensação antes desconhecida que se traduzia exatamente em "nada". Não sabia se havia perdido a consciência ou simplesmente morrido. Só sabia que não mais existia naquele momento.

E então acordou do pesadelo, sem entender o que se passou naquele dia tão terrível ou que sensações poderia estar escondendo o seu subconsciente.


[Mente Hiperativa]

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mistério na praia


Mistério na praia
Mistério na praia


Naquela tarde ensolarada eu caminhava pela praia quando de repente avistei uma mulher de joelhos na linha em que a água do mar toca a areia. Ela chorava por dois corpos que jaziam dentro d'água, parcialmente imersos, um adolescente e um homem maduro. No ímpeto do momento eu corri em direção a eles sem saber direito o que estava acontecendo, se os dois estavam ali mortos há muito tempo ou se estavam ainda agonizando, afogados, eu não sabia de nada. Nesse momento o pânico tomou conta de mim e eu me vi na obrigação de fazer alguma coisa.

Eu corri e fiz respiração boca-a-boca no garoto, tampei-lhe o nariz e soprei na sua boca energicamente, depois juntei as duas mãos ao seu peito e fiz uma massagem cardíaca, e repeti, e repeti, parecia que ele estava mesmo morto pois não reagia. Enquanto isso a mulher apenas chorava, sem falar nada nem me explicar o que havia acontecido. Então, de súbito, o garoto cuspiu um pouco d'água. E eu encorajei-o com palavras a respirar e viver, na esperança de que ele respondesse e me mostrasse que estava consciente. Ele cuspiu mais água, muita água, e começou a respirar com dificuldade.

Eu não sei dizer ao certo quanto tempo durou essa ação, mas logo que me certifiquei de que o garoto estava vivo e respirando bem eu me virei em direção ao homem mais velho que jazia ao seu lado para tentar reanimá-lo também. No entanto, era notável que ele havia morrido e não reagiria a qualquer estímulo; ele já aparentava palidez, frieza, e até fedia à carne podre, de modo que eu nada pude fazer para ajudá-lo, senti-me impotente.

De repente o garoto se virou pra mãe e resmungou: "mãe, estou com fome". Eu sorri de alegria por ter salvo aquela criatura, mas ao mesmo tempo uma lágrima caiu do meu olho por não ter feito nada por aquele que presumidamente seria o seu pai. O garoto estava falando normalmente, parecia consciente e orientado, embora não desse importância ou não se lembrasse do que havia acontecido antes do afogamento. Ele simplesmente ignorava a existência daquele corpo boiando na água ao seu lado.

Pra mim foi difícil aceitar que precisei escolher uma vida dentre duas pra salvar, foi difícil admitir que sacrifiquei um em favor do outro. Na verdade eu só tive tempo de pensar nessas coisas depois do ocorrido, na hora foi tudo muito rápido e eu só agi no intuito de salvar vidas. As diversas elucubrações, planos ou escolhas hipotéticas de como poderia ter sido feito só tiveram espaço depois, justamente quando não havia mais tempo de pensar.

A senhora continuou calada e eu respeitei o luto dela, embora achasse estranho que não dissesse nada nem fizesse o menor esforço pra esclarecer as coisas. Ela levantou-se e foi andando na frente, em direção à avenida, enquanto o garoto seguiu comigo de mãos dadas atrás dela. A praia estava cheia e aparentemente as pessoas não se davam conta do acidente ocorrido, pois não estavam aglomeradas em torno dos afogados, cada um simplesmente vivia sua vida, pegava seu bronze e bebia sua água de coco como se nada estivesse acontecendo ali.

De repente eu procuro a mulher com os olhos e não a encontro. Fico parado no calçadão da praia segurando o garoto firmemente pela mão sem saber onde a mãe dele foi parar. Nessa hora me preocupo e me sinto confuso, sem saber o que fazer, sem saber onde ela está e o que se passa na sua cabeça. Na verdade eu nem sei o que houve naquela praia. Acidente, será? Penso que sim, prefiro não imaginar coisas piores, mas nada me garante que tenha sido um acidente. Por que tanto silêncio? Por que tanta indiferença? Por que ela sumiu? Me sinto confuso.

A melhor conclusão que eu chego é de que devo procurar a delegacia mais próxima e esperar que a mãe apareça ou entre em contato pra buscar o seu filho. Mas antes paro num quiosque pra comprar um lanche, o garoto estava com muita fome.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Novo-de-novo


Novo-de-novo
Novo-de-novo

E se eu fosse em-branco de novo, se tudo fosse novo, de novo, e cada experiência fosse inédita? E se cada toque revelasse sensações desconhecidas pra mim? E minha língua mostrasse novos sabores?

E se eu fosse todo apagado, e não tivesse experiências tão ruins armazenadas na minha mente? Se eu pudesse andar sem saber que existem minas, e pudesse amar sem saber que há o risco da desilusão?

E se meu passado fosse amassado e eu todo-novo pra viver o futuro? Se tudo-novo fosse meu lema e eu pudesse experimentar sem saber que gosto tem? E se eu pudesse viver sem amarras nem medos, sem receios nem recordações?

E se eu fosse ingênuo de novo, e perdesse minhas referências, boas e ruins? Se eu fosse só amnésia e vontade-de-viver, sem quê, nem porquê? E se eu esquecesse de tudo que já vivi, de bom e ruim, e só me restasse redescobrir?

[Mente Hiperativa]

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A matemática do amor


A matemática do amor
A matemática do amor

Um mais um
É igual a dois

O três fica fora

Seja o primeiro

Ou o terceiro
Mas o AMOR

Só é pra DOIS



[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Felicidade SEM tamanho


Felicidade SEM tamanho
Felicidade SEM tamanho

Aquela história estava escritas nas estrelas, até eu que sou leigo de amor e de astrologia pude perceber ao contemplar o luar. Como eles não percebiam que eram feitos um para o outro? Como conseguiram viver todo esse tempo tão próximos sem estarem juntos, resistindo ao amor que pulsava dentro de cada um e os atraia mutuamente? Eu não sei explicar, eu não posso sentir o conflito interno, eu não consigo entender como não se renderam a tamanha paixão.

Tudo bem, eu sei que as dificuldades amedrontavam, que o horizonte era indefinido, que as águas eram turvas e nada calmas, mas o amor, ele supera essas e todas as outras dificuldades que possam vir a surgir. Agora, juntos, fica muito mais fácil superar qualquer problema, enfrentar qualquer desafio, agora eles se sentem mais fortes, tem um ao outro, e isso faz toda a diferença de agora em diante.

Fico feliz, muito feliz, em poder ter feito parte dessa história tão bonita, de ter chegado no fim do segundo tempo da partida, quando um time já estava saindo de campo e o outro já tinha considerado o jogo perdido. Eu ajudei a mudar esse desfecho tão infeliz, eu mostrei que era possível o caminho do amor, eu dei uma de cupido com boa pontaria, mirei nos alvos e deixei que eles fizessem o resto.

Eu estou numa felicidade que não cabe em mim, eu sou só sorrisos e boas vibrações, estou extasiado, é muito bom, é bom demais. O que eu sempre quis aconteceu, eu ajudei a encontrar um cuidador do meu tesouro mais precioso. O que mais posso querer nessa vida?

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Apologia à chuva


Apologia à chuva
Apologia à chuva

Gosto do cheiro que a chuva traz quando encharca o solo, aquele cheiro de terra molhada, cheia de vida, de brotos e cogumelos, de seres que saem do chão e se multiplicam revelando a fecundidade latente que há na terra. Como é bom poder admirar a chuva e perceber a vida que ela mantém, só na chuva a vida se manifesta de forma plena.

Quando começa a chover eu abro as janelas de casa, deito no sofá e fecho os olhos. Fico apenas contemplando aquele odor que gentilmente é trazido às minhas narinas e remete à minha infância, à casa da minha amada vó. Foi lá que desde pequeno eu aprendi a gostar desse cheiro, lembro que a chuva molhava a terra do jardim-de-inverno e incensava toda a casa com aquele perfume gostoso.

Nessas horas, deitado no sofá, eu imagino toda aquela vida entrando pelo meu nariz, atingindo meus alvéolos e penetrando na minha corrente sanguínea. Assim eu trago toda a vida contida na chuva pra dentro de mim, me renovo, me fortaleço com a força da natureza pulsando dentro de mim.

Também gosto de ouvir o barulho da chuva gotejando sobre as folhas das árvores, se jogando das calhas em um jato único e suicida, depois se chocando contra o chão duro e cimentado. É um som tranquilizante, que acalma minha alma perturbada, eu me rendo, nem durmo, só relaxo ao som da chuva caindo dos céus. Preste atenção, todos os pássaros se calam diante da chuva, as cigarras e os cachorros, todos silenciam pra ouvir a chuva, ela acalma os ânimos.

Além de tudo a chuva ainda lava as ruas, limpa e purifica todos os lugares por onde passa, nos pede licença e procede com sua limpeza geral. Ela carrega o que há de ruim, deixa apenas o que for forte, firme, o que fez por merecer ficar, o resto é levado embora. E quem não gosta de tomar um banho de chuva não sabe o que está perdendo, a diversão, a liberdade, a conjugação a própria natureza, a limpeza que ela proporciona.

Chuva, sua linda, venha cá.


[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Eu caí


Eu caí
Eu caí

Um dia eu sonhei que as nuvens de algodão não passavam de fumaça sob os meus pés, e de repente, como se houvesse o espirro de um gigante, tudo sumia e eu caia na terra fria e asquerosa. Assim mesmo, como um útero que aborta o filho e o joga na sarjeta podre, abandonando-o sozinho.

É verdade, num dia desses eu vivia no céu, mas tudo acabou, eu caí e estou aqui jogado no chão. Eu realmente esperei que a tua mão enorme e generosa aparasse a minha queda, mas onde você estava nesse momento tão triste que não pôde me ajudar?

Esperei algum tapete mágico do aladdin me segurar, ou quem sabe o bom velhinho passando com seu trenó naquele exato momento, podia ser um balão, um zepelin perdido no tempo... Ou até panapaná de borboletas-monarca.

Ah, chega de fantasia, não há nada que me salve da queda, ela é certa. Eu cai e já deixei de idealizar possíveis salvadores. Agora tenho consciência de que estou só, e como só que sou trato de me levantar e limpar a terra que me sujou. Se não há quem me salve, salvo-me eu mesmo. Chega de chorar, ou esperar. Chegou a hora de agir.


[Mente Hiperativa]