domingo, 7 de abril de 2013

A vida e a angústia de seu eterno nascer


A vida e a angústia de seu eterno nascer

O nascimento é a primeira situação traumática que enfrentamos na vida, de repente abandonamos o abrigo quente e protegido que é o ventre materno; às vezes somos até arrancados de lá pelas mãos do médico ou através do fórceps. Mas será que estávamos preparados pra nascer? Será que realmente desejávamos abandonar nosso casulo confortável e encarar as dificuldades do mundo lá fora?
Pouco importam as respostas dessas perguntas, pois não fomos consultados em nossa vontade, quando chega a hora não há escolha senão nascer.

O parto é assim,  um ato violento que por algum tempo nos causa enorme choque e sofrimento: falta de ar, frio intenso, luzes fortes, injeções, manipulações, manobras e todo tipo de estresse. Certamente a saída do útero não é um dos momentos mais agradáveis que se tem, é uma passagem muito forte e angustiante que coloca o recém nascido num sofrimento inevitável. Diante disso, um bebê tão vulnerável nada pode fazer a não ser chorar bem forte, e eis que a natureza mostra sua sabedoria, pois é exatamente esse choro que lhe garante impulso pra respirar e o mantém vivo nesse novo mundo. Daí em diante o organismo vai se ajustando aos poucos, tudo vai se tornando adequado até que o novo ambiente pareça mais ameno e receptivo. É apenas o começo de uma vida repleta de nascimentos.

Estendendo o conceito de nascimento aos diversos desafios a que somos submetidos ao longo da vida, como entrada de novos ciclos, tomada de grandes decisões, reviravoltas, superações, avaliações, além de inúmeras outras situações difíceis e inadiáveis, todos eles são iniciados por novos partos, sofríveis e passageiros; muitas vezes inadiáveis. Talvez nesses momentos decisivos nós resgatemos inconscientemente toda dor e sufoco que foi naquele primeiro dia de vida extra-uterina, também a sensação de impotência,  incapacidade e vulnerabilidade que foi vivenciada naquele momento. Assim, diante de novos e grandes desafios (verdadeiros nascimentos) muitas vezes não conseguimos enxergar nada a fazer a não ser chorar, como se o choro pudesse novamente nos dar a força que precisamos pra nos mantermos vivos. E depois de um breve sufoco tudo se normaliza, nascemos de novo e seguimos a vida com novas descobertas num mundo repleto de novidades. Até que venha o próximo nascimento, e com ele a dor do parto.

[Mente Hiperativa]