quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Felicidade




Felicidade



Apesar de tudo eu sigo feliz, os problemas parecem tão pequenos diante de todo o resto.



[Mente Hiperativa]

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cada escolha uma renúncia



Cada escolha uma renúncia



Toda escolha implica, necessariamente, numa renúncia. É sempre assim, e sempre será.


Na vida todos os dias nos deparamos com um emaranhado de oportunidades, caminhos que se cruzam, se bifurcam, ou até mesmo se subdividem em várias opções que nos obrigam a seguir apenas uma delas. Às vezes podemos nos dar ao luxo de adiar nossas decisões ou até mesmo optar pelo comodismo de não mudar nossa rota e com isso não precisar fazer escolhas, apenas negar os outros caminhos ricos em oportunidades e medos. Na maioria das vezes, porém, não há como fugir das escolhas.



Às vezes penso no porquê de sentirmos dificuldade na hora de tomar uma decisão, e dentre tantos motivos tenho forças pra crer que o maior desafio seja abandonar a zona de conforto em que vivemos, recheada de problemas já conhecidos, e nos desafiarmos a novos problemas, a uma nova rotina até então obscura. Afinal o novo assusta.



Eu já fiz muitas escolhas, muitas delas bastante sérias, que mudaram ou decidiram o rumo que eu ia tomar na vida, e claro que foi muito difícil. Recentemente tomei uma decisão que sabia que não seria fácil sustentar, sabia que estava me jogando num mar de incertezas, num território minado em que eu não teria mapa algum em mãos. Eu poderia ter optado por não precisar enfrentar meus medos, poderia ter ficado onde estava, no conforto dos problemas que eu já conhecia e mesmo sem saber resolvê-los plenamente tinha algum domínio sobre eles, sabia pelo menos como lidar com eles.



Entretanto eu me desafiei e preferi o NOVO, novos desafios, novos problemas, novas tristezas, sim, mas também novas glórias, novas alegrias, novos méritos. Não é fácil mudar de vida, dar uma guinada, contrariar pessoas que amamos, diria até magoá-las, de certa forma. Mas se eu senti necessidade, se percebi que era preciso e, sobretudo, se a minha coragem foi maior que meu medo, é porque de fato eu precisava dessa mudança.



Eu resolvi sair da confortável cadeira em que estava sentado observando a rotina passar na minha frente, sempre repetitiva e previsível, e me levantei para andar pela pista sem saber ao certo o que poderia encontrar. Mas sigo com a esperança de que seja a melhor escolha e a certeza de que novos desafios virão pela frente.



[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ritual



Ritual



Depois de uma noite de farra, no dia seguinte
Me acordo e tomo logo um banho longo e frio
É pré-requisito pra recuperar minha dignidade


[Mente Hiperativa]

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A esperança vive!



A esperança vive!


A dor de um corpo que não é meramente física.
Um sofrimento que é quase sobre-humano.

A rotina que se repete incessante, dura e cruel.

Privação, solidão, tédio, angústia, incerteza. Medo.



Mas há sempre uma esperança, imortal esperança.



[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O falo


O falo

Não é sinônimo de órgão sexual masculino, o falo

Ele não é anatômico, não é palpável, não tem vida

É como o cajado que guia ou castiga as ovelhas do pastor

Ou o cetro autoritário dos reis, ou mágico dos curandeiros

É como a força e a bravura da espada do guerreiro

Como a batuta do maestro que rege a orquestra

Ou a colher de pau do cheff a preparar deliciosos pratos

Semelhante ao apontador do mestre, transmissor de conhecimento

Ou à varinha do feiticeiro que brinca com a realidade e a magia

É como um dedo em riste, impositivo, impiedoso

Ou um salto alto, sensual, doloroso, mas atraente

O falo não se adquire, não se perde, nem nunca se possui

Não passa de uma invenção humana e inapreensível.

[Mente Hiperativa]

domingo, 13 de novembro de 2011

Convite?


Convite?

Ela me chamou
E eu não pude resistir
Foi embora para seu quarto
E deixou a porta entreaberta
Olhou pra trás
Seria um convite?
Deveria eu recusar?

Ela me chamou
Não com a boca em palavras
Mas com o olhar dissimulado
Que não mais me enganava
Eu sei o que queriam
Era um convite sim
E eu não recusei

[Mente Hiperativa]

sábado, 12 de novembro de 2011

Incondicional

Incondicional
Eu não ligaria se por acaso você tivesse uma má aparência. Não me importo com que os outros possam pensar a nosso respeito. E nem dou importância pra o que dizem às más-línguas. Meu sentimento é assim: incondicional. Nota: Imagem em referência ao Fantástico filme "A cura".

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Um encontro


Um encontro

Ele quis um mc fish com fritas, ela apenas coca-cola. Ele destruia a tampa do copo com as mãos, ela fazia movimentos repetitivos e circulares com o canudo dentro do copo. Ele estava nervoso, ela mais ainda. Eram dois estranhos, tão conhecidos, cheios de medos e receios, impressões e expectativas.

Era pra ser apenas uma diversão, mas então por quê tanto medo?

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eu quero um lar


Eu quero um lar

Eu não quero uma casa, eu quero um lar
Paredes que me abraçem quando eu chegar
Sofás grandes e agradáveis de sentar
Quadros coloridos, bonitos de se admirar
Comida gostosa, cheirosa, pra eu me alimentar
Uma cama confortável pronta pra eu cochilar
Lençóis estirados ou amassados, tanto faz, dá pra relaxar
Muita luz pra o meu pensamento se iluminar
Plantas, verde, vida, clorofila ao ambiente perfumar
Quero uma vida nova, gente pra eu poder amar
Não precisa ser casa grande, do tamanho que eu ocupar
Que caiba minha felicidade a qual não aguento mais sufocar

Quem disse que eu quero uma casa? Eu quero um lar!

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dia do "Grrr"


Dia do "Grrr"

No dia do "Grrr" a esposa traida resolveu se vingar do marido, e pôs laxante na sua sopa, servindo-o delicadamente na hora do jantar. As crianças não ouviam nem obedeciam os pais, abandonaram os estudos e só queriam saber de brincar. O cachorro, cheio de raiva, mordeu o dono, cansou de tanto ser maltratado.

Ao saber que era o dia do "Grrr" a empregada gritou com a patroa, chamou-a de perua e tudo mais, sentiu-se aliviada depois. A patroa por sua vez gritou com a filha, descarregando frustrações que nem sabia que tinha, pois a vida perua esvaziara aos poucos sua cabeça.

O rei, no dia do "Grrr", cansou de ser rei, cansou de ordenar o exército, de ter um nome a zelar, de ter inúmeros traíras à mesa, largou a coroa e foi passear; deixou o castelo, deixou a rainha, deixou as jóias e o prestígio, queria apenas relaxar.

No dia do "Grrr" o padre dançou, a freira se maquiou, e tudo parecia desandar. Cansados da vida que levavam todos resolveram mudar, colocando pra fora todo aquele incômodo. O nerd, no dia do "Grrr", queimou os livros e fez uma fogueira linda na porta de casa. O rico rendeu-se ao churrasco na lage e até se divertiu, coisa que há muito tempo não acontecia.

O céu se carregou de chuva, os rios trabalharam demais, se encheram, e no dia do "Grrr" transbordaram pela cidade. Os carros cansados de correr, se deixaram levar pelas águas. As árvores trocavam de lugar, aproveitavam o descuido do tempo, a confusão, e soltaram seu "Grrr" também.

Era o dia do "Grrr" e cada um se expressava de uma forma, colocando pra fora a raiva, o que estava guardado e fazia mal. Até mesmo as estátuas se alongavam, no meio da praça, como se fossem atletas se aquecendo para o treino. Era duro ficar parado tanto tempo na mesma posição.

Todos tiveram sua oportunidade, e a noite estava se aproximando, as nuvens correram com pressa. O sol se foi devagar, e a lua tomou seu lugar. O dia estava acabando, o dia do "Grrr". Amanhã tudo retornaria ao seu devido lugar, cada árvore, cada palavra dita, e toda a raiva e revolta seria guardada novamente, engolida e fechada, até outra oportunidade surgir. E tudo desandar novamente.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Onde está Deus?


Onde está Deus?

Outro dia eu estava bastante perdido e então resolvi procurar a ajuda de Deus. Vi num carro o adesivo 'propriedade exclusiva do senhor' e fui falar com o motorista que pela lógica deveria ser o próprio Deus, ou no máximo alguém bastante próximo dele que tomou o veículo emprestado. Porém a abordagem foi bastante infeliz, o motorista nada amistoso me deu uma bronca e arrancou veloz, me deixou falando sozinho.

Noutro carro eu vi o símbolo de uma conhecida igreja, pensei que dessa vez eu teria mais sorte e fui falar com o proprietário. Eu ia perguntar a ele onde poderia me encontrar com Deus, diria ainda que preciso de sua ajuda. Quando me aproximei percebi que ele estava bastante ocupado discutindo no trânsito, havia ultrapassado o sinal vermelho e ainda assim usava palavras de baixo escalão e gestos obcenos contra um pedestre que atravessou na sua frente. E quando o guarda lhe abordou ele ofereceu propina. De repente desisti, achei que ele não saberia me dizer onde me encontrar com Deus.

Saí pelas ruas observando o alto, procurando Deus nas cruzes, crucifixos, encontrei pessoas que usavam terços, medalhinhas, camisas estampadas com Nossa Senhora, fotos de Jesus em cadernos, mas ninguém me ajudou. Recebi até um panfleto com a palavra de Deus e parei pra escutar o que essa pessoa tinha a me dizer, ele repetiu salmos e citações bíblicas, palavras bonitas, mas não me ajudou. Ele quis me converter, me cobrou privações, me cobrou contribuição financeira, me cobrou promessas, me pediu isso e aquilo, mas não ouviu os meus pedidos.

Lembrei de quando eu era menino e minha professora de religião dissera que a igreja era a casa de Deus, resolvi então procurá-lo diretamente em sua casa. Procurei algumas igrejas, assisti diversos cultos/missas, recebi abraços e apertos de mão, panfletos, ouvi belíssimas mensagens de solidariedade e amor ao próximo. E no fim vi passar cestinhas e caixinhas pedindo dinheiro. Embora eu não tenha falado diretamente com Deus, depois desses encontros eu me senti um pouco mais aliviado em meu sofrimento.

Tudo parecia caminhar bem até acabar o culto/missa. Lá fora inevitavelmente sempre havia pessoas humildes na calçada, pedindo ajuda, e me partiu o coração ver os fiéis deixarem a igreja direto para seus carrões importados, negando o pão a quem tem fome, negando o cobertor a quem tem frio. E então eu me perguntei: de que adianta frequentar o culto/missa se não colocarmos em prática os ensinamentos de Deus ali ensinados?

O dia chegava ao fim e eu não tivera êxito no meu encontro com Deus, nem mesmo em sua casa eu pude senti-lo plenamente e já estava conformado que não iria encontrá-lo. Passei diante de uma banca de revista e li a seguinte frase numa de suas paredes: 'o Senhor é meu pastor e nada me faltará'. Esse sim me pareceu verdadeiramente íntimo de Deus, fui falar com ele, que estava fechando a banca, e quando eu disse que não ia comprar nada, que só queria um conforto, ele me despachou e disse que não tinha tempo pra conversa fiada. Olhei novamente para a frase da parede: faltou amor ao próximo, altruísmo, solidariedade.

Esse dia vivi uma experiência reveladora, aprendi que não basta frequentar e conhecer a religião, é preciso colocar em prática suas lições, aprendi também que adesivos, mensagens e imagens não significam absolutamente nada, não querem dizer que a pessoa seja mais cristã que a outra, mais devota ou religiosa do que outra que não estampa em si as palavras ou imagem de Deus.

Sem ter conseguido encontrar Deus na minha incessante busca eu fui à praia, já era noite e ela me recebeu de braços abertos. O vento acariciou o meu rosto, a areia massageou os meus pés. E a água lavou minha alma. Nesse momento fechei os olhos e reconheci que Deus não estava preso num pedaço de madeira, nem impresso numa frase qualquer, não estava na igreja, nem dirigindo um carro, Deus não estava longe, Deus estava o tempo todo dentro de mim, tão perto, e eu perdendo tempo em procurá-lo tão longe.

Assim, eu que estava perdido, acabei me encontrando com Deus.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Psicologia


Psicologia

Há sempre dois caminhos:

Ou você encara de frente os seus problemas
E sofre,
E aprende,
E amadurece

Ou cria mecanismos para driblar os desafios
E foge,
E pára,
E não cresce

A vida é sinônimo de sofrer
E se for pra sofrer
Que sofra pra aprender
E evoluir
E não repetir
Os mesmos erros

Não crie mecanismos


[Mente Hiperativa]

domingo, 6 de novembro de 2011

Inércia


Inércia

Café sem cafeína
Cerveja sem álcool
Casamento sem amor
Filhos sem cumplicidade
Natal sem Cristianismo
Presente sem afeto
Dinheiro sem boa-causa

Vivemos por inércia
Sem acreditar nas coisas
Mantendo apenas a tradição
Criamos algumas fantasias
E dissociamos da realidade
Traimos nossas convicções
Em nome da comodidade

[Mente Hiperativa]

sábado, 5 de novembro de 2011

Como tudo começou


Como tudo começou

Os olhos se olharam
Tristonhos
Sorriram
E piscaram
Se abraçaram

Os braços correram
Os corpos
Se cruzaram
Se encontraram
Cansados

As bocas molhadas
Falavam
E beijavam
Comiam
E grunhiam

Os corpos sedentos
Se amavam
Se entregavam
Suados
Sofridos

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Já se foi o tempo das Amélias


Já se foi o tempo das Amélias

Já se foi o tempo das Amélias...

Que Cuidavam com zelo da casa e da família
Levavam o marido embora até a porta
E se arrumavam pra ficar bonitas só pra ele

Já se foi o tempo das Amélias...

Que esperavam o marido chegar do trabalho
Abriam o portão para ele entrar com o carro
E lhe serviam uma comida quentinha à mesa

Já se foi o tempo das Amélias...

Que educavam tão bem os próprios filhos
Acompanhando-os todos os dias, o dia todo
Sem precisar de babá ou psicóloga

Já se foi o tempo das Amélias...

Que não precisavam usar microondas
Nem comida pré-pronta ou disk-entrega
A comida era caseira, temperada com amor

Já se foi o tempo das Amélias...

Que tinham tempo para seu marido e filhos
Não usavam mil cremes, entretanto eram lindas
O amor era verdadeiro e superava tudo

Sorte teve o meu avô!

Nota: Quem me conhece e/ou me segue aqui no MH sabe que não sou chauvinista, o tom que quis dar ao texto foi de nostalgia e jamais de machismo. Espero que eu tenha conseguido passar a impressão correta, e caso isso não tenha acontecido espero que me entendam.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Casual



Casual

Foi um lance de pele
De carne e de osso
Dominado pela lascívia
Corpo e corpo

Foi uma pegada
Um forte desejo
Atração incontrolável
Coito e coito

Tinha visgo
Tinha suor
Salgado
Molhado

Sede
Tinha libido
Tinha hormônio
Efêmero
Intenso

Hálito


[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A loucura (nossa) de cada um


A loucura (nossa) de cada um

Estava cercado de loucos que babavam e batiam a cabeça na parede. Ao seu lado um senhor repetia a escalação da seleção Brasileira de 70, "Carlos Alberto, Tostão, Pelé, Gérson, Rivelino"... Uma mulher contava os dedos repetidas vezes, sem parar, como se conferisse se 'ainda' estavam todos ali. Alguns imitavam animais, outros conversavam sozinhos ou ouviam vozes, todos loucos. E ele ali no meio, fazendo parte do cenário.

Depois de poucos minutos começou a se questionar o que fazia naquele lugar, afinal não era como aquelas pessoas, chegou a pensar em ir embora e largar aquela idéia -agora sem sentido- de ir ao médico. Ele não era louco como aqueles que estavam ali, talvez dono de uma outra loucura, uma loucura light, uma semi-loucura, uma loucura elitizada, refinada, contida...

Era bastante difícil acreditar que fosse tão louco quanto aqueles... Sua loucura era diariamente menosprezada por si mesmo, ele a renegava diante do menor sinal de lucidez e 'normalidade', vivia em busca de provas para atestar a si mesmo a própria sanidade, mas nem isso conseguia. É verdade que não babava e nem batia a cabeça na parede, muito menos sabia a seleção de 70 pra poder ficar a repeti-la. Mas isso não o tornava menos louco do que os demais naquela sala apertada. Talvez ele fosse o pior dos loucos, o que passa a vida lutando pra parecer normal, o louco SUBestimado.

É fácil ser louco sem ter que se segurar numa camisa de força, poder colocar pra fora toda a sua loucura, sem pudor, sem estresse, sem medo. O louco que mais sofre certamente é o louco que não tem essa liberdade, seja porque a sociedade o impede ou porque ele mesmo tenta não sucumbir à própria loucura, contendo-se. O pior louco talvez seja o que reluta em aceitar sua condição, o que sofre calado sem buscar ajuda.

Após uma breve relexão ele se levantou da sala de espera e foi embora do consultório médico. Andou na areia da praia, sentiu o vento tocar-lhe o rosto, sentiu-se tão normal, tão saudável e equilibrado que hesitou em remarcar a consulta perdida pouco antes no psiquiatra. Afinal, ele era normal, não precisava disso, não era como 'aqueles' lá.

E seguiu a vida, até a próxima crise. Até ser obrigado a encarar sua loucura novamente. E voltar àquele lugar repleto de loucos.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Bodas de prata

Bodas de prata

O casamento se arrastava como se arrastam as cobras pelo deserto, mas ainda as cobras deviam ser mais felizes numa relação do que aquele pobre homem em seu casamento. Era duro chegar em casa cansado depois de um dia de trabalho e se deparar com o desprezo em forma de gente, sentado na poltrona da sala. Era difícil ouvir seu próprio 'boa noite' ecoar pelo ambiente, batendo na parede e voltando pra sua cara como um amargo tapa de realidade. O silêncio lhe incomodava, era ensurdecedor, e o distanciamento entre eles era frio e cruel.

Não foi do dia pra noite que o seu amor naufragou, mas apenas agora seus olhos percebiam o tamanho do desastre e pensavam, esperançosos, se ainda havia jeito de resgatar aquele sentimento que os unira há tantos anos. Apenas depois que o filho casou e saiu de casa foi que ele se deu conta do imenso vazio que habitava sua sua vida, especificamente do abismo que o separava da esposa. Talvez não tenha percebido antes porque ela era também mãe, além de esposa. E agora era o quê?

Cansado do eterno clima fúnebre que tomava conta de sua casa e vida, resolveu tomar uma atitude, chamou a esposa para um jantar romântico num restaurante fino recém-inaugurado na cidade. Diante do convite ela manifestou surpresa e encanto num só rosto, e ele se animou com isso, afinal ela parecia ter gostado da idéia. O jantar foi agradável, a companhia foi interessante, lembrava um pouco a moça que conhecera alguns anos atrás e levara ao altar, jurando amá-la na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença... E ambos permaneciam ricos e saudáveis, diga-se de passagem.

Depois do jantar foram para um motel, tomaram alguns drinks para esquecer a crise, numa tentativa desesperada de libertar os desejos que outrora eram tão espontâneos, no tempo de recém-casados, e que hoje deviam estar confinados em algum lugar da mente onde se guardam as velhas lembranças. E como num resgate do tempo, logo os dois corpos se confundiam debaixo dos lençóis de cetim, tentando tornar-se somente um.

Ele acariciou todo o corpo da esposa tentando reconhecê-la, beijou-a com entusiasmo para reacender o fervor que parecia apagado pelo tempo, e cheirou cada dobra de sua pele tentando resgatar o cheiro daquela paixão, sem saber que até mesmo os cheiros envelhecem.

A noite foi longa e a lua não pôde espiar o que aconteceu por detrás das cortinas daquele quarto, mas o sol enfim raiou e trouxe consigo uma enorme ressaca àqueles dois que ainda repousavam sob a proteção dos lençóis acetinados. Acordaram e olharam-se como dois estranhos se olham depois de uma noite de álcool e sexo.

[Mente Hiperativa]