sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pense positivo


Pense positivo

Era um bebezinho tão bonito quanto qualquer outro ali, mas estava sozinho, as atenções não se distribuíam igualmente e ele era o único solitário. E porque uma criatura tão inocente estaria sendo renegada de tal forma? Porque o evitavam dessa maneira tão fria? Que mal ele poderia ter feito sendo tão puro, incauto e indefeso? Todos o observavam à distância, com medo de tocá-lo, de pegá-lo no braço, medo que ele vomite, babe ou faça xixi. Medo, o medo era tão grande que se tornou irracional e absurdamente imbecil, mas as pessoas não o notavam assim. Aquele bebê era tão importante quanto qualquer um, tão inofensivo quanto os outros; somente por conta de uma sorologia viral positiva tornou-se distinguível da maioria e alvo de extrema recusa de contato. Será que um exame poderia transformar um bebê tão puro em um monstro tão repugnante? Quando será que o preconceito e a ignorância serão menores que o amor ao próximo?

Espero que não demore muito.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O amargo sabor da traição



O amargo sabor da traição

Só há traição quando há confiança, primeiro você dá crédito à pessoa, investe nela, crê que ela nunca seria capaz de te fazer mal algum, e de repente quando menos espera ela usa da tua confiança pra te trair, te apunhala pelas costas sem a menor piedade. Em troca de quê? Queria entender porque certas pessoas nos iludem e depois nos causam mal, será que elas têm prazer nisso? Será sincero seu arrependimento ou tudo faz parte de um jogo sádico para obter o perdão e nos enganar novamente?

Queria ter que não vivenciar isso, mas talvez na vida seja preciso experimentar de todos os sentimentos, bons e ruins, e ao menos tentar aprender a lidar com eles. Dentre todos esses sentimentos um dos mais amargos com certeza é a traição, uma mistura de dor e profundo desgosto. Ao ser traído o primeiro pensamento que passa na nossa cabeça é "porquê ele(a) fez isso?". Talvez nunca entenderemos. Depois um profundo arrependimento toma conta de nós, e em seguida a raiva. Finalmente precisamos refletir e tomar uma atitude a respeito, e essa é a parte MAIS difícil.

Não há uma forma exata de lidar com a traição, diz-se que se alguém te trai uma vez a culpa é do outro, mas se trai duas, a culpa é sua. Então deveríamos romper a relação ao menor sinal de traição? Ou perdoar e alimentar essa condição de falta de confiança e respeito? Pra maioria das pessoas, em tese, a confiança só se perde uma única vez e nunca mais se resgata, mas será assim na prática? Quantas vezes acabamos por perdoar e somos novamente traídos? Quantas vezes a traição se torna uma rotina, uma balela, e a confiança perde sua importância na relação? Muitas vezes nos enganamos, fugimos da realidade, não queremos aceitar que somos traídos, mas infelizmente não dá pra se enganar pra sempre.

E quando se trata de uma traição amorosa, de um casal, ainda dá -com muita coragem- pra acabar o namoro/casamento e seguir a vida, mas se a traição for entre familiares? Se for um irmão, um pai, uma tia? Como lidar com esse sentimento diante da impossibilidade de romper completamente o laço que os une? É muito bonita a mensagem cristã de perdoar e oferecer a outra face, mas será que estamos preparados pra isso? Será que é tão fácil assim? E o peso de todas as consequências que isso traz? E a vida inteira de traições que pode vir a seguir?

Ainda preciso aprender a lidar com essa questão. É muito difícil.
[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

(Re)construindo o conceito de amor



(Re)construindo o conceito de amor

Descobri que meu inconsciente me move rumo à relações fracassadas e inconcebíveis, ele age como uma espécie de ímã que me atrai sempre na direção do "amor-cilada". Digo isso porque minhas relações nunca duram, sempre são complicadas, curtas e frustrantes. E não pense que tenho gosto pela decepção, também não faço a escolha consciente de sofrer ou pular de relação em relação, o problema é que minha mente tem uma visão distorcida a respeito do amor. É sempre assim, ela trabalha arduamente na seleção de romances fadados ao insucesso, escolhe justamente aqueles que qualquer um diria: "assim você não vai ser feliz", e dessa forma justifica o fato de não terem dado certo.

Por muito tempo quis acreditar que tinha falta de sorte no amor ou que vivia uma fase ruim a qual logo ia terminar; depois achei que tivesse uma fixação pelo desafio, uma estranha busca por árduas (e inatingíveis) conquistas. Refleti bastante sobre essas questões, embarquei numa longa jornada junto aos meus pensamentos até começar a entender o que se passava nas profundezas da minha mente. Hoje tudo começa a clarear, algumas coisas parecem bem óbvias apesar de até ontem se manterem incompreensíveis. Deu muito trabalho, mas tudo começa a vir à tona.

Enfim descobri - na verdade estou começando a entender - que a grande chave de tudo é que assimilei o amor de forma errada. Desde muito cedo aprendi que ele tinha um caráter clandestino, vi isso com meus olhos, senti isso nas minhas vivências, constatei isso tão de perto que ninguém conseguiu me convencer do contrário. Nem mesmo a vida com todo o seu poder de persuasão foi capaz de desmentir essa ideia que construí em torno do amor, e assim passei a repetir de forma inconsciente esse padrão errôneo instituído na mais tenra idade.

Recentemente compreendi que de alguma forma inconsciente alimento um ciclo vicioso que faz parecer atraente o amor que nunca vai dar certo, me sinto seduzido por esse sentimento distorcido que condiz com as referências que tenho. Mas a diferença é que agora tenho a oportunidade de lutar contra esse mecanismo que me causa tanta angústia e dor. Aprendi o amor de uma forma errada, tornei-me um ser errante que insiste em sabotar a si mesmo. Preciso reconstruir a impressão que tenho sobre o amor, reeditar meus conceitos e aprender a amar. Assim serei feliz.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O doce sabor do passado


O doce sabor do passado

Eu vejo aquele senhor sentado no sofá reclamando da TV, ele diz que no seu tempo havia programas de qualidade, mais interessantes, diz também que as mulheres se valorizavam mais e não se ficavam rebolando nuas em troca de alguns poucos vinténs. Embora eu saiba que a TV sempre foi um instrumento de alienação das massas e que as mulheres sempre foram usadas para entreter o público masculino ele pode ter alguma razão no que diz, afinal a qualidade da programação televisiva hoje em dia não vale muita coisa. Mas esse senhor não para de reclamar por aí.

Tudo que ele vê, fala que não presta, tudo que é novo não é tão bom quanto era no seu tempo. Ele diz que hoje os jovens não querem nada com a vida, que moram com os pais até atingirem a maturidade, e que no tempo dele começou a trabalhar desde muito cedo, 14 anos já labutava como vendedor; aos 18 já morava sozinho e pagava as próprias contas. Eu sei que os tempos mudaram, o mundo mudou, e nós jovens mudamos também, mas esse senhor parou no tempo. Ele não consegue entender que hoje em dia o trabalho braçal não tem tanto valor, que é preciso estudar e estudar cada vez mais, e que o estudo é sim o melhor investimento, diferente de como era no seu seu tempo.

Às vezes quando ele está reclamando do mundo eu concordo com esse senhor, balanço a cabeça e finjo que ele está certo, que o mundo de hoje não é nada comparado ao daquele tempo. Mas é só pra não ter que discutir e me desgastar com ele. Outras vezes tento mostrar-lhe as coisas boas que o mundo tem, tento convencê-lo de que sempre houve de tudo no mundo, e tento situá-lo no tempo presente, mas é muito esforço em vão pois ele nunca me ouve nem concorda comigo. É difícil conversar com quem é dono da razão, sábio e experiente, eles sempre dizem que um dia entenderemos o que eles estão nos falando... Então me pergunto, será que hoje ele entende o que seus pais diziam?

Esse senhor é tão novo que nem imaginam, diferente do que podem ter pensado ele não é um ancião, tem menos de cinquenta anos, mas talvez já se comporte como um sem nem notar isso. Vive preso ao passado, ouvindo as mesmas músicas, frequentando os poucos lugares 'do seu tempo', recordando a vida que viveu mas que não voltará. E que vida terá pela frente dessa maneira?


Eu vejo esse senhor reclamando do mundo, dizendo que tudo mudou, que antes era bem melhor. Eu sei que ele se sente um intruso nessa sociedade, perdido, sozinho, pois se recusa a encarar e conhecer o novo. Queria fazer com que ele entendesse que quem vive de passado nunca irá encontrar seu espaço no presente; quem se nutre de nostalgia jamais se sentirá confortável na contemporaneidade. Mas como convencê-lo a experimentar o novo, eu não sei como fazê-lo.

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Minha primeira vez


Minha primeira vez

Eu a conheci por intermédio de um amigo que me deu o seu telefone, conversamos rapidamente e logo marcamos um encontro. Cheguei pontualmente ao local combinado, estava um pouco ansioso por esse momento e só eu sei o quanto pensei nisso a semana inteira, contando os dias pra que chegasse logo a quinta-feira. Foi até irônico, pois na "hora H" estava muito nervoso e queria que tivesse demorado mais para eu poder me preparar para tamanho evento em minha vida. Foi difícil pra mim fazer aquilo, era diferente de quando eu fazia pela internet, escondido atrás de uma tela de computador, e assim podia falar coisas que eu nunca imaginaria falar pra alguém. Confesso que mais difícil ainda foi olhar nos olhos dela enquanto falava aquelas coisas, me senti estranho, era diferente de qualquer experiência que tive anteriormente.

No começo eu mal sabia onde colocar as mãos, ficava imóvel, mas inquieto por dentro, estava tímido, com receio de fazer algo errado ou agir de maneira precipitada. Isso foi só no começo, pois logo eu estava lá deitado, relaxando aos poucos, gesticulando e falando, finalmente quando me dei conta a coisa começou a fluir naturalmente. E claro que ela fez de tudo pra me deixar assim à vontade, tinha mais experiência que eu  e me ajudou a vencer a barreira da timidez e escancarar pra ela as verdadeiras intenções que me trouxeram ali. Eu podia enxergar claramente que à medida em que eu falava ela se empolgava mais com aquilo tudo.

É impressionante como em alguns poucos minutos - que na hora me pareceram eternos - eu passei de um estado de timidez e nervosismo para outro de plena descontração, era agradável estar ali com ela fazendo aquelas coisas, em tão pouco tempo eu estava interagindo com bastante intimidade, contando detalhes da minha vida pessoal a uma pessoa que acabara de conhecer. Claro que ainda estava um pouco nervoso com aquilo tudo, afinal era a minha primeira vez fazendo aquilo e tudo ainda era novo pra mim, mas foi muito bom.

Depois de uma hora nós terminamos e no final das contas deu tudo certo, não foi tão difícil quanto pensei que seria. Eu sei que pode parecer bobagem, mas é difícil deitar num divã e colocar pra fora as suas emoções e vivências mais íntimas para uma pessoa que você mal conhece. No entanto, após essa primeira sessão eu senti uma sensação de leveza tomar conta de mim, meu corpo e mente ficaram mais leves, tenho certeza de que esse caminho me proporcionará uma melhor compreensão de mim mesmo e das minha atitudes, com certeza me fará crescer e amadurecer. Assim foi a minha primeira vez...  ...num consultório de psicologia.

[Mente Hiperativa]



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Feira de ilusões


Feira de ilusões

Estou aqui vendendo pedaços do meu coração, cheguem mais, cheguem mais, tem todo tipo de decepção. Eu tenho aqui comigo falta de atenção, traição, tenho gente que reclama demais e gente que não vale um tostão. Não se avexe não, eu tenho mercadoria de todo preço, desde uma mentirinha boba até um grande problemão, tenho produto novo que chegou num faz um dia não. Tô aceitando dinheiro, cheque pré-datado e até vale-refeição, mas se for pedir fiado passe amanhã que hoje não tem, não. Se por acaso você tiver muito desesperado sem dinheiro na mão, eu aceito visa, master e hiper, posso até dividir no cartão. Mas meu caro, minha cara, meu freguês amigão, não pense que eu tô vendendo porcaria, não ache que eu tô ofertando ilusão, eu já sofri por amor, já tive muita decepção, hoje apenas vendo na feira um monte de conselho do bão. Se resolvi colocar pedaços da minha vida no banejão não é pra me dar bem, é pra ajudar esse povão. Sendo assim, quem tiver sofrendo bastante, chorando por conta de paixão, me procure logo na feira, que eu trato de dar a minha opinião.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Terra de ninguém


Terra de ninguém

Meu coração é terra de ninguém, terreno baldio abandonado, é planície virgem coberta de grama, paraíso tropical, coqueiro e mar, com ondas azuis e convidativas, é ventania, que vira tempestade, vulcão adormecido que acorda e destrói, tornando férteis as terras que inunda com sua lava, quente e corrosiva, meu coração, pobre coração, é todo remendado, já foi brinquedo na mão de umas, já foi sonho na cabeça de outras, hoje ele é obscuro, indecifrável, mais do que a esfinge egípcia, ele é devorador, é uma incógnita, e tem seus segredos guardados nas estátuas da ilha de Páscoa, escritos nas linhas de Nazca, ou quem sabe na pedra de Roseta, meu coração é a Atlântida afundada no meu peito, ou nas profundezas do mar, é o triângulo das bermudas que engole navios, aviões, e outros corações apaixonados, é o Eldorado tão cobiçado pelo seu ouro maciço, mas que não dá qualquer prova de existência, ele é um buraco negro, que contraria as leis da física, desafiou até o tal Einstein, meu coração é quase um mapa ilustrado do século XVI,  que esconde um grande tesouro, mas se mostra rodeado por muitos monstros marinhos, é a personificação do desconhecido, rodeado de mistérios bem guardados, é a escuridão, a incerteza, tudo junto, meu coração não facilita, não estende a mão, apenas bate, e bate, insiste em bombear qualquer vida que seja, age no ímpeto de manter qualquer suspiro de amor, a despeito da dor, do sofrimento, sem saber até quando, mas bate, sem saber se um dia alguém terá coragem de se apossar dessas terras sem dono, de enfrentar tantos desafios e agruras por mais ou menos quatrocentos gramas de músculo estriado. Espero que sim.

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Viva os loucos



Viva os loucos

Louco é todo aquele que não se encaixa na legislação vigente, que não encontra lugar na sociedade e que não se sente feliz diante dela. São tantos os loucos, os que são e os que já foram, e tantos que ainda serão. Ser louco é fácil, basta ter um pouco mais de bom-senso do que a média, é só pensar e se questionar, encontrar motivos pra se sentir mal diante de tamanhas atrocidades que os 'semelhantes' cometem. Numa sociedade doente é considerado louco aquele que se sente diferente da maioria e que não se sente semelhante à mesma. Quem será o louco então? O que a loucura tem de ruim? Não entendo porque os loucos não são venerados como gênios, idolatrados como santos, sábios, endeusados e sobretudo ouvidos. Os loucos teriam muito a ensinar caso tivessem reconhecido seu valor, caso tivessem a oportunidade de pensar, se tivessem credibilidade para isso. Quero me manter louco a vida inteira, e nunca me render a esse sistema, nunca aceitar passivamente a normalidade dos costumes vigentes, verdadeiramente insanos, que machucam outros seres, que passam por cima da coletividade, que subtraem, que não fazem qualquer sentido, que prejudicam mais do que ajudam. Quero ser louco, me orgulho de ser louco, de ser diferente, de pensar diferente. Sou louco com orgulho. Obrigado.

[Mente Hiperativa]

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Isso é viver


Isso é viver

Entregue-se ao medo
Ande abraçado ao desafio
Faça da luta sua companheira
A vida é cheia de novidades
Procure-as exaustivamente
E não desanime se der errado
Pra cada derrota que se sofre
Surgem múltiplas oportunidades
Abandone seu casulo confortável
Encare o mundo e as pessoas
Isso é viver

[Mente Hiperativa]