terça-feira, 24 de julho de 2012

Sou poeta, dá licença?



Sou poeta, dá licença?

Eu posso falar de amor sem vivê-lo, posso viver a dor de alguém que me cerca, ou de alguém que nunca existiu. Posso ser feliz sem ser, viajar por todo o mundo, por outros mundos, sem sair de casa, mantendo-me no calabouço do meu quarto. Eu sou o mendigo que implora esmola na rua, mas que só espera receber algum valor humano, sou a velhinha experiente que sofre jogada na sala como uma máquina velha sem função, sou a criança de olhos expressivos que não sabe nada do mundo e justamente por isso é bastante feliz. Eu sou o intelectual que fala, o ignorante que afirma, e o sábio que nada sabe, sou a força do povo, o luxo da elite, sou a ilusão do poder, sou a faca que rasga a carne sem a menor piedade. Sou frio, sou sensível, sou feito de dor e de lágrimas, de palavras agressivas e doces. Sou poeta, enfim.

Através de inúmeras histórias eu conto o que vivo, mas a verdade é que todo escritor é um grande fingidor que vive vidas e mais vidas sem nunca vivê-las de fato, mas vive em sua mente e as presencia, experimenta, convive e até inventa. Eu sou poeta, tenho licença pra isso, tenho várias vidas, muitas vivências, algumas terrenas, outras imaginadas, porém uma só essência que me motiva a escrever. E quem poderá dizer que eu não vivi aquele amor ardente que vi no filme hoje mais cedo? Quem dirá que eu não senti a dor daquela desconhecida no shopping domingo à tarde, a qual desabafava com a amiga na mesa ao lado enquanto eu almoçava? Quem pode falar que não sinto o desprezo que sente aquele indigente noticiado ontem na TV, abandonado na sarjeta e posteriormente queimado por um bando de burguesinhos?


Eu sou poeta e preciso viver a vida, sentir a adrenalina pulsando, meu sangue correndo nas veias, preciso sentir a dor, a decepção, a alegria, a euforia, sentimentos que transformo em palavras. Eu tenho licença pra cometer erros gramaticais, criar teorias, inventar personagens, manipular e brincar com as palavras. A mim tudo é permitido fazer pra passar adiante a impressão que tenho sobre a vida, tenho licença poética e posso usar do que for pra escrever, mas nunca duvide de uma coisa: o que escrevo será sempre a expressão da verdade que carrego no peito.


[Mente Hiperativa]

2 comentários:

  1. Poetas são poetas até nos momentos de solidão. Poeta tem muitas vidas, muitas experiências vividas, e cada uma... uma nova poesia. Parabéns.

    Abraço.

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