quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A loucura (nossa) de cada um


A loucura (nossa) de cada um

Estava cercado de loucos que babavam e batiam a cabeça na parede. Ao seu lado um senhor repetia a escalação da seleção Brasileira de 70, "Carlos Alberto, Tostão, Pelé, Gérson, Rivelino"... Uma mulher contava os dedos repetidas vezes, sem parar, como se conferisse se 'ainda' estavam todos ali. Alguns imitavam animais, outros conversavam sozinhos ou ouviam vozes, todos loucos. E ele ali no meio, fazendo parte do cenário.

Depois de poucos minutos começou a se questionar o que fazia naquele lugar, afinal não era como aquelas pessoas, chegou a pensar em ir embora e largar aquela idéia -agora sem sentido- de ir ao médico. Ele não era louco como aqueles que estavam ali, talvez dono de uma outra loucura, uma loucura light, uma semi-loucura, uma loucura elitizada, refinada, contida...

Era bastante difícil acreditar que fosse tão louco quanto aqueles... Sua loucura era diariamente menosprezada por si mesmo, ele a renegava diante do menor sinal de lucidez e 'normalidade', vivia em busca de provas para atestar a si mesmo a própria sanidade, mas nem isso conseguia. É verdade que não babava e nem batia a cabeça na parede, muito menos sabia a seleção de 70 pra poder ficar a repeti-la. Mas isso não o tornava menos louco do que os demais naquela sala apertada. Talvez ele fosse o pior dos loucos, o que passa a vida lutando pra parecer normal, o louco SUBestimado.

É fácil ser louco sem ter que se segurar numa camisa de força, poder colocar pra fora toda a sua loucura, sem pudor, sem estresse, sem medo. O louco que mais sofre certamente é o louco que não tem essa liberdade, seja porque a sociedade o impede ou porque ele mesmo tenta não sucumbir à própria loucura, contendo-se. O pior louco talvez seja o que reluta em aceitar sua condição, o que sofre calado sem buscar ajuda.

Após uma breve relexão ele se levantou da sala de espera e foi embora do consultório médico. Andou na areia da praia, sentiu o vento tocar-lhe o rosto, sentiu-se tão normal, tão saudável e equilibrado que hesitou em remarcar a consulta perdida pouco antes no psiquiatra. Afinal, ele era normal, não precisava disso, não era como 'aqueles' lá.

E seguiu a vida, até a próxima crise. Até ser obrigado a encarar sua loucura novamente. E voltar àquele lugar repleto de loucos.

[Mente Hiperativa]

4 comentários:

  1. Cada qual com sua loucura. Percebo que estamos cada vez mais surtando por aí. Seria a doença do momento?
    Um abraço

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  2. afinal, quem não é louco?

    abraços,
    raileronline

    (que bom que conseguiu colocar o widget do skoob)

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  3. É assim mesmo... a gente reconhece em certos momentos que precisa de ajuda, mas quando decide ir, acha que não é tão grave assim... Me identifiquei muito :)
    beeijo

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  4. Claro, e porque você viria se não fosse pela caipinha? hauhauhau
    Abraço

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