terça-feira, 1 de novembro de 2011

Bodas de prata

Bodas de prata

O casamento se arrastava como se arrastam as cobras pelo deserto, mas ainda as cobras deviam ser mais felizes numa relação do que aquele pobre homem em seu casamento. Era duro chegar em casa cansado depois de um dia de trabalho e se deparar com o desprezo em forma de gente, sentado na poltrona da sala. Era difícil ouvir seu próprio 'boa noite' ecoar pelo ambiente, batendo na parede e voltando pra sua cara como um amargo tapa de realidade. O silêncio lhe incomodava, era ensurdecedor, e o distanciamento entre eles era frio e cruel.

Não foi do dia pra noite que o seu amor naufragou, mas apenas agora seus olhos percebiam o tamanho do desastre e pensavam, esperançosos, se ainda havia jeito de resgatar aquele sentimento que os unira há tantos anos. Apenas depois que o filho casou e saiu de casa foi que ele se deu conta do imenso vazio que habitava sua sua vida, especificamente do abismo que o separava da esposa. Talvez não tenha percebido antes porque ela era também mãe, além de esposa. E agora era o quê?

Cansado do eterno clima fúnebre que tomava conta de sua casa e vida, resolveu tomar uma atitude, chamou a esposa para um jantar romântico num restaurante fino recém-inaugurado na cidade. Diante do convite ela manifestou surpresa e encanto num só rosto, e ele se animou com isso, afinal ela parecia ter gostado da idéia. O jantar foi agradável, a companhia foi interessante, lembrava um pouco a moça que conhecera alguns anos atrás e levara ao altar, jurando amá-la na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença... E ambos permaneciam ricos e saudáveis, diga-se de passagem.

Depois do jantar foram para um motel, tomaram alguns drinks para esquecer a crise, numa tentativa desesperada de libertar os desejos que outrora eram tão espontâneos, no tempo de recém-casados, e que hoje deviam estar confinados em algum lugar da mente onde se guardam as velhas lembranças. E como num resgate do tempo, logo os dois corpos se confundiam debaixo dos lençóis de cetim, tentando tornar-se somente um.

Ele acariciou todo o corpo da esposa tentando reconhecê-la, beijou-a com entusiasmo para reacender o fervor que parecia apagado pelo tempo, e cheirou cada dobra de sua pele tentando resgatar o cheiro daquela paixão, sem saber que até mesmo os cheiros envelhecem.

A noite foi longa e a lua não pôde espiar o que aconteceu por detrás das cortinas daquele quarto, mas o sol enfim raiou e trouxe consigo uma enorme ressaca àqueles dois que ainda repousavam sob a proteção dos lençóis acetinados. Acordaram e olharam-se como dois estranhos se olham depois de uma noite de álcool e sexo.

[Mente Hiperativa]

2 comentários:

  1. OI,MH!Estranho isso né, como com o passar do tempo e a convivÊncia as pessoas parecem que morrem uma para outra o amor morre, a amizade morre, parecem dois estranhos que apenas moram juntos e nem sabe mais porque.
    Beijosss

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  2. ainda bem q ao menos teve sexo...já eh um grande avanço
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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