sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Eu amo outro homem


Eu amo outro homem


Determinado dia um amigo chegou para o grupo e disse: “quero dormir com dois homens”. Todos ficaram perplexos, abismados, nunca imaginaram ouvir tais palavras saindo da boca dele, logo da boca DELE. Ninguém sabia exatamente o que fazer, alguns riram, outros caçoaram, a maioria recebeu a declaração com imenso espanto. Eu encarei com naturalidade, afinal sabia que ele tinha dois filhos e imediatamente deduzi que podiam ser eles os homens referidos na conversa; não concebi a ideia com olhos maldosos e inquisidores como os outros

E logo em seguida, o amigo confirmou minha suspeita ao confessar que os homens em questão eram de fato seus dois filhos, levando todos a caírem na gargalhada, completamente desarmados diante de tão natural e incondenável declaração de amor. E se não fossem os filhos, mas outros dois homens quaisquer, teria ele o direito de amar e expressar esse amor? Homens podem se amar?

Infelizmente a questão do amor masculino ainda é bastante negligenciada por todos nós, os homens aprendem desde cedo que não podem chorar, são treinados exaustivamente para não evidenciar suas fraquezas, recebem cobranças exageradas para que sejam sempre fortes, imponentes, brutos e racionais. Também não lhes dão o direito de poder amar ou extravasar seu amor por outro homem, ainda que seja um familiar ou amigo de infância, pode ser até um desconhecido que acabou de salvar-lhe a vida, mas o homem é orientado a nunca dizer que o ama ou será eterno motivo de piada.

Então, esses são os valores que a sociedade nos impõe, porém o amor não reconhece qualquer um desses impedimentos e pulsa dentro de nós a todo instante, ignorando qualquer empecilho para sua realização. O amor é inerente ao gênero e no caso específico de dois homens ele acaba por se disfarçar através da atenção, chamadas telefônicas, abraços tímidos e distanciados, apertos de mão firmes e sustentos. Até mesmo um convite pra beber e colocar o papo em dia pode ser uma forma discreta e socialmente aceita de um homem dizer pra outro “gosto de você, sua companhia é boa pra mim” ou “preciso de você por perto, meu amigo, te amo”.

Dificilmente o amor entre homens se fará através de declarações mais ousadas e intensas, evitamos a todo custo mostrar explicitamente nosso amor por receio de gerar algum desconforto ou má-interpretação de nossa virilidade. Temos medo de infringir as regras aprendidas logo na infância – que a essa altura já se encontram solidificadas em nossas mentes – e então sufocamos o ‘eu te amo’ fingindo que apenas gostamos do outro homem como quem gosta de um copo de cerveja ou de um vídeo game de última geração. Encaramos como algo natural e morno que não precisa ser admitido ou negado, o amor entre homens é sempre desconversado.

Isso tudo acontece pelo simples fato de que o ‘eu te amo’ dirigido a outro homem nos coloca numa situação complicada de ter que negar tudo que foi aprendido desde a infância e reforçado ao longo da vida. Além disso, muitas vezes essa declaração pode lhe render algum questionamento de gênero ou até conduta sexual, o que é algo completamente descabido. O amor fraterno, puro e inocente não reconhece qualquer impedimento para se manifestar, nós é que por pura insegurança ponderamos e ajustamos socialmente as proporções evidentes que esse sentimento pode atingir diante dos olhares da sociedade. Em outras palavras, sentimos o amor dentro de nós, no entanto temos o devido cuidado para que ele não pareça destoante do pensamento da maioria.

Diante disso tudo afirmo sem medo algum que amo outro homem. Aliás, amo vários homens. Inclusive todas as noites eu durmo com outro homem no meu quarto, meu irmão mais velho. Há outro homem com o qual faço sexo casual e todo dia lhe digo as seguintes palavras “eu te amo, seu gostoso”, esse homem sou eu mesmo e as declarações faço diante do espelho toda manhã. Tem outro homem que vem passar os fins de semana comigo, faço comida pra ele, dou-lhe banho, coloco-o pra dormir, faço carinho e encho-o de beijo, é o meu irmão caçula. Além desses, há tantos outros homens que fazem parte da minha história, me presenteiam com momentos de companhia, conversa e apoio, são meus amigos que tanto amo e não tenho problema algum em apertar suas mãos com firmeza ou abraçá-los.

Acredito que meu amigo tenha sido bastante perspicaz ao desafiar os outros com sua declaração de que gostaria de dormir com dois homens sem dizer de imediato que seriam eles os seus dois filhos. Sem dúvida alguma ele foi inteligente e soube aguçar a imaginação alheia, causando-lhes um espanto desmedido. Homens também amam, choram, sofrem por amor, se abraçam e manifestam sentimentos. O amor entre homens é assim, cheio de mitos e ao mesmo tempo tão simples. Tenho a consciência de que o amor é o único caminho que Deus nos ensinou pra alcançá-lo e ele não é feio, sujo ou vedado aos homens. Sendo assim, não precisamos ter vergonha de amar, pois o homem que ama outro homem ama a si mesmo. Eu amo outros homens, eu me amo, e isso não é problema pra quem tem consciência e segurança de sua masculinidade.

[Mente Hiperativa]

7 comentários:

  1. Adorei a perspectiva que você abordou, ela foi inesperada e, também achei suave, além de tratar de amor entre homens no sentido de amizade, de irmãos e fraternal, ao mesmo tempo, também tratou de amor carnal.

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  2. Demais isso.

    Acho que, se as pessoas aprendessem desde cedo a AMAR, textos como esse seriam desnecessários. Já nascemos amando, mas as pessoas tem socialmente o poder de interferir até no que devemos ou não sentir. E se grupos opressores tem poder, então vamos torcer para que haja mais mentes abertas assim como a tua, para que um dia a maioria social se una em prol de alguma coisa boa como o amor.

    Dizer eu te amo nunca é exagero se ele se referir á algo ou alguém que lhe faz bem, e que tu quer que continue fazendo.

    Grande e apertado abraço.

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  3. Muito bom rapaz!!

    Grande abraçoooooooooo!! =D

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  4. Muito bom rapaz!!

    Grande abraçoooooooooo!! =D

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  5. Adorei o texto. Sabes bem que sou particularmente interessada nos debates de gênero.
    Iniciei meus estudos de gênero estudado o masculino , as obras de Sócrates Nolasco discutem muito do que você postou desse texto.
    adorei

    Parabéns pela pespectiva que abordou o assunto!

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  6. concordo contigo!!! se despir desses preconceitos n é fácil, porque nossa cultura nos programa a ver esses (raros)comportamentos masculinos de forma maldosa..poucos pensam assim.

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