domingo, 16 de dezembro de 2012

Tenho uma deficiência, tenha pena de mim e me sustente



Tenho uma deficiência, tenha pena de mim e me sustente

Certo dia eu estava no ônibus voltando da universidade, cansado de um dia de trabalho e estudo, e um cidadão joga no meu colo um pequeno papel. Isso mesmo, ele joga, não oferece nem pede licença, simplesmente sacode o papel num gesto robotizado e segue adiante distribuindo papeizinhos no colo dos outros passageiros. No bilhete havia escrito: "sou surdo, por favor me ajude com 0,50R$, 1R$ ou 2R$ para eu terminar de construir minha casa." Não sei se é verdade ou mentira, mas de qualquer forma não lhe dei qualquer trocado e explico já o porquê.

Minha vontade imediata foi escrever no verso do papel: "Já pensou em trabalhar pra ganhar dinheiro?" Mas permaneci quieto até que ele veio recolher o papel e eu o entreguei de volta. Poucas pessoas lhe deram moedas e eu as compreendo. Sou uma pessoa generosa, tenho o coração imenso, mas não é por isso que saio distribuindo dinheiro a todos que me pedem. É preciso ser crítico e saber dizer não. Ajudo aqueles que trabalham a despeito das suas limitações, ajudo com comida, com uma palavra amiga, com remédio. Procuro não me deixar levar pelo sentimentalismo e apelos emocionais que muitas vezes as pessoas tentam nos despertar; alguns o fazem porque têm mau-caráter, outras por mera acomodação e não podemos ser vítimas de nenhum deles.

Ao saber disso, algumas pessoas me julgam insensível, dizem que eu não tenho pena de uma pessoa assim, que pede dinheiro por necessidade. Tenho pena sim, pena dele ser tão acomodado a ponto de achar que uma limitação o impede de levar uma vida normal, pois já vi muita gente com limitações iguais ou maiores que trabalham, casam, têm filhos, saem na rua, estudam e fazem todo tipo de coisa que uma pessoa sem deficiência pode fazer. Por outro lado, já vi inúmeros casos de pessoas que fingem necessidades especiais apenas pra ganhar dinheiro fácil, e pior, alguns usam o dinheiro que recebem pra cheirar cola, comprar crack ou bebidas alcoólicas.

Então, o que eu digo é que não fui sempre assim tão cético, à princípio eu me deixava levar pela conversa e sempre ajudava, depois fui enxergando que não há coitadinhos nem vítimas e que embora a vida possa nos empregar algumas dificuldades a forma como reagimos a elas muda tudo. O mesmo surdo que estava ali pedindo dinheiro e vivendo da esmola dos outros tem plena capacidade de estudar ou trabalhar e ganhar bem mais sem precisar depender da boa vontade alheia. É uma questão de atitude e se você me disser que não há oportunidades pra ele eu digo que as oportunidades não caem do céu, mas brotam no suor da testa de cada um. Se hoje ele não tem condições de encontrar um emprego certamente poderá encontrar um trabalho digno, pode vender algum produto, efetuar algum serviço, basta querer pois o mundo está cheio de oportunidades pra quem quer trabalhar. Pode faltar emprego, mas trabalho não falta.

Por essas e por outras que eu não alimento o coitadismo e me recuso a sustentar vagabundo que não quer trabalhar e não se esforça pra merecer cada centavo que lhe entrego. Admiro quem luta e não se entrega às dificuldades da vida, tenho repúdio aos que se escondem atrás de uma deficiência ou qualquer outra condição pra levar a vida na moleza. E se pareço duro demais é porque a vida não é mole pra mim, ela me ensinou que é preciso perseverar pra atingir seus objetivos e ser alguém na vida. Eu não espero que nada caia do céu, não desperto a pena dos outros pra que possa viver deles numa vida mansa, eu luto pra ter uma vida boa e tenho as minhas dificuldades e limitações como qualquer um tem. Por que, então, os outros não podem trabalhar e lutar ao invés de ficar aguardando esmolas?

[Mente Hiperativa]

4 comentários:

  1. Acho que dar dinheiro faz tudo, menos ajudar a pessoa. Quanto mais gente dando dinheiro, mais a pessoa fica no comodismo de ganhar. Pode ser uma vida difícil morar na rua e tudo, mas por outro lado é bem cômoda. Ser indiferente quando alguem pede esmola, pode ajudar mais do que dar algumas moedas que vão servir pra compra bebida ou drogas. Ou comida, provavelmente comida, mas dinheiro fácil não é dinheiro honesto.

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    1. Ao invés de dar dinheiro quantos se prontificam a dar alguns minutos de conversa? Que bom seria se realmente se importassem com a pessoa, se perguntassem seu nome e ouvissem sua história. Esse tipo de conforto vale muito mais que algumas moedas.

      Abç

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  2. Ah, essa pergunta é fácil de ser respondida.
    Porque é (bem) mais fácil, pedir!

    E outra, a maioria não quer comida, não quer ajuda psicológica, não. Quer dinheiro mesmo. E frente à recusa, sai de baixo! Infelizmente já passei por algumas situações bem constrangedoras por negar...

    Beijão!

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