quinta-feira, 27 de setembro de 2012

AUTISMO - o impressionante caso de CARLY FLEISCHMANN


AUTISMO - o impressionante caso de CARLY FLEISCHMANN

Conheci a história de Carly Fleischmann ao ler o livro "Autismo - não espere, aja logo!" e fiquei completamente admirado, bestificado, sem palavras. Eu pude ver os olhos tristes dela ao dizer certas coisas, pude imaginar parte - e não me atrevo a dizer 'tudo' - que ela sente, a rejeição, a estranheza das pessoas, a carência, a vontade de ser como os outros.

Já é o sexto livro que leio sobre autismo e de todos eles esse foi o que mais me emocionou, pois diferente da maioria que é escrito por profissionais da área (psiquiatras, neurologistas, psicólogos...) esse foi escrito por um pai. O destaque que dou a esse livro não é por conter mais informações nem informações mais valiosas, mas pela maneira como o assunto é abordado, bem mais sentimental e menos profissional, o autor não escreve com termos técnicos nem linguagem 'fria' e científica, o autismo aqui não é um capítulo de psiquiatria, mas um capítulo de sua vida. O Paiva Júnior descobre que seu filho é autista, ele não estudou tal transtorno na faculdade, a vida lhe impôs tal estudo na prática. Além disso, a narração não é em terceira pessoa como se o indivíduo autista fosse o outro, ele fala como se fosse parte dele, e de fato é uma situação que ele vive todos os dias, todas as horas do dia, não é como um médico ou psicólogo que analisa um caso clínico com o devido distanciamento profissional e esse é o diferencial da obra.

Não quero com isso tirar o merecimento dos outros livros, inclusive acho que pra ler esse é preciso ter lido algum mais técnico antes pra se familiarizar com os sintomas, conhecer um pouco do tratamento e o caminho pelo qual o autismo se conduz. E então, quando souber alguma coisa sobre o assunto, leia esse livro, e não apenas dominará tecnicamente o transtorno como também sentirá um pouco do que sente alguém que tem um filho (ou parente) autista. É uma leitura emocionante.

Mas voltando à história de Carly Fleischmann -a quem dirijo a postagem - ela foi diagnosticada com autismo grave e retardo mental severo, mas acabou contrariando todas as expectativas médicas e intrigando a ciência ao mostrar uma evolução inesperada. Quero compartilhar a história dela pra mostrar que o conhecimento da ciência é ínfimo, não sabemos de NADA, tudo que conhecemos é pouquíssimo e que ainda temos MUITO a aprender sobre a mente e seu funcionamento.

Carly foi diagnosticada na infância com autismo severo e retardo mental grave, apresentou comprometimento motor com atraso de funções básicas como sentar e andar, manifestação de movimentos constantes e repetitivos, não desenvolveu a fala. Com um diagnóstico tão sombrio ninguém esperava uma que um dia Carly pudesse levar uma vida 'normal', os progressos eram mínimos e todos pareciam se conformar com a sua situação; seus pais, no entanto, nunca desistiram da filha e jamais perderam a esperança e a força necessária pra lutar pelo bem-estar da pequena Carly.

O tempo passou e aos 11 anos, sem nunca ter sido ensinada a ler ou escrever, muito menos a usar o computador Carly se aproximou dele e digitou as palavras DOR e AJUDA, em seguida correu para o banheiro e vomitou. Aquilo foi incrível, afinal até então ela era tida como deficiente mental, incapaz, desconectada do mundo, e de repente ela mostra que está plenamente ligada em tudo que se passa, que domina a linguagem, que sente da mesma forma que nós e sabe se expressar. Foi uma surpresa muito boa, tão boa que o pai de Carly colocou em xeque o diagnóstico de retardo mental severo; uma das terapeutas inclusive chegou a dizer que tal atitude sugeria que havia muito mais coisas se passando na cabeça de Carly além do que poderiam supor até então.

Depois disso os pais passaram a estimulá-la a escrever, mas ela resistiu a comunicar-se novamente, tentaram por meses, inclusive submetendo seus pedidos ao ato dela digitar no computador. Um dia, porém, ela resolveu desabafar seus sentimentos e acabou revelando uma enorme capacidade de articular ideias, mostrou que tem entendimento de sua condição, que sente o mundo ao seu redor, que sabe onde está, com quem e o que faz. Foi uma revelação e tanto. Segue alguns de seus dizeres:

"Sou autista, mas isso não me define. Conheça-me antes d eme julgar."

"Se eu não bater a cabeça parece que eu vou explodir, eu tento não fazê-lo mas não é como apertar um botão."

"Eu sei o que é certo e o que é errado, mas é como se eu lutasse contra o meu cérebro o tempo todo."

"Eu queria ir à escola como uma criança normal, mas não quero que fiquem com medo de mim quando eu bater na mesa ou gritar."

"As pessoas pensam que sou burra porque não sei falar."

Essa última frase foi a que mais me marcou, mostra um pouco do estigma que ela carrega e fica bastante claro o quanto ela sofre com a subestimação, com a indiferença, com o desprezo, com o preconceito e desinformação das pessoas que a rodeiam.

Diante disso tudo, os médicos reconsideraram o diagnóstico de retardo mental severo. E eu me atrevo a mais, eu questiono o esteriótipo que é colocado aos autistas, dizem que são desconectados, aluados, incapazes, deficientes, antissociais, lerdos, loucos e tantas outras coisas. Será mesmo que são isso tudo? De fato eles têm um funcionamento cerebral atípico, mas isso não os torna inferiores. O autista tem muito a nos ensinar, basta querermos aprender, podemos nos envolver e conhecer o seu mundo ao invés de apenas querer trazê-lo ao nosso. Burro são os que não conseguem enxergar isso como uma oportunidade de aprendizado e aceitação das diferenças.

A história completa de Carly Fleischmann: http://www.vocesabia.net/saude/autismo-o-caso-impressionante-de-carly-fleischmann/

[Mente Hiperativa]

5 comentários:

  1. É a tal história,de o ser humano julgar inferior a si os que dele diferem...

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  2. Nunca achei q os autistas fossem nada disso, claro que alguns possuem um quadro mais severo, porém a maioria deles possuem um inteligencia INCRÍVEL! Acho que tenho essa visão por ser fisioterapeuta, mas o preconceito é algo real e presente na vida dessas pessoas.

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  3. Eu tenho uma teoria que fiz após conhecer a história de Carly Fleischmann. Penso que os autistas não tem uma defasagem em relação aos não autistas. Pelo contrário, estão além. Eles sentem-se prisioneiros das sensações porque processam tudo com muito mais eficiência e qualidade de informações, só que existe uma limitação física / elétrica por conta da quantidade e isso lhes causa a necessidade de um travamento e diminui a eficácia. Ainda não encontrei uma analogia para explicar melhor minha ideia e é difícil colocar em palavras. Eu penso que a solução é simples, tão simples que é invisível para quem vê mas não enxerga. Talvez os autistas não precisam de algo que os eleve ao nosso nível, mas nós que precisamos de algo que nos eleve ao nível deles. Correndo o risco de ser egoísta, talvez eles precisem de algo que atrapalhe ao invés de algo que ajude. Talvez eles precisem de um limitador de velocidade.

    É só uma ideia. Nunca conheci um autista. Tenho um sobrinho down, e tenho absoluta certeza que ele está além de todos a sua volta.

    Parabéns pelo post. Se quiser me achar, meu face é /anjosoft

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  4. Onde posso encontrar o livro para ler na versão português? Onde você conseguiu?

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