terça-feira, 25 de setembro de 2012

Adeus, filho perfeito


Adeus, filho perfeito

Saiu do consultório médico decepcionado com o diagnóstico que recebera do filho. E agora, o que diria aos amigos? Como aceitar que o filho não era Perfeito como sempre sonhou? Por tanto tempo alimentou expectativas de que poderia levar o filho ao treino de futebol, queria ensiná-lo a surfar, comprar bateria e guitarra para que ele pudesse formar uma banda com os amigos, quem sabe até ensaiar na garagem de casa a despeito das reclamações da vizinhança. Amigos? Será que o filho seria capaz de fazê-los depois dessa notícia? Não tinha mais certeza de nada, e seus sonhos caíram por terra.

Sentiu-se perdido, perdido e triste, como poderia concretizar tantos sonhos diante de um diagnóstico severo como esse? Autista??? Esse médico não devia saber o que estava falando... Na hora pensou até em processá-lo, depois desistiu e pegou o carro, saiu sem rumo, queria espairecer, esquecer que esse dia aconteceu e acreditar que tudo não passava de loucura da cabeça do médico. No dia seguinte, mais calmo, tomou uma importante decisão: procuraria outro médico, e outro, e outro, até que algum deles atestasse a normalidade do filho. Foi uma verdadeira peregrinação, mas as respostas eram sempre as mesmas e nenhum falou aquilo que ele queria ouvir.

Ele não aceitou fácil, mas o filho era sim diferente; nem melhor, nem pior, apenas diferente. Bastava observar aquele pequeno por alguns instantes pra notar que interagia com o mundo de uma forma toda peculiar. Mas ainda assim ele transmitia vida nos seus olhos, pois ao contrário do que muitos ainda pensam o autista não é morto por dentro, não tem um olhar vago e movimentos vazios e repetitivos, ele vive, sorri, cria laços e afeto.

Mesmo diante disso tudo o pobre pai apenas pensava numa maneira de levar adiante todos aqueles sonhos que construiu em torno do filho Perfeito. Entretanto eu lhe pergunto, porque não levar adiante os tais sonhos? O fato de ser uma criança diferente não o torna incapaz, porém o preconceito poderá sim torná-lo um inútil, inclusive pode privá-lo de ser feliz. Se a criança é diferente ele poderá te oferecer uma nova forma de enxergar o mundo, ele tem talentos que podem ser diferentes dos talentos da maioria e certamente te deixarão surpreso.

O pai demorou a aceitar, mas passado o primeiro momento de susto ele procurou se informar sobre o autismo e descobriu que não é o fim do mundo. Depois disso, alimentado pela esperança de ver o filho bem, ele prosseguiu pela enorme caminhada que o espera pela frente, árdua e recompensadora, que lhe trará como troféu um filho atleta, músico, surfista, sociável, com boas notas e o mais importante de tudo, Feliz. 

Nenhum filho nasce perfeito, assim como ninguém é super-herói antes de ser pai. Esses conceitos são construídos com luta e merecimento; então será melhor desistir dos sonhos ou continuar a percorrê-los?

[Mente Hiperativa]

2 comentários:

  1. legal sua postagem.
    A maior parte dos filhos é fruto do narcisismo dos pais e por isso é tao dificil pra eles aceitar um filho "diferente" dos demais!
    Mas afinal , todas as crianças e adultos no fim das contas sao diferentes

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    1. Verdade, todos nós somos diferentes mesmo, mas ainda assim os esteriótipos pesam pra quem os ouve, de modo que um filho rotulado disso ou daquilo torna-o ainda mais diferentes. E isso soa ruim, apesar de propriamente não ser.

      bjo

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