terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mistério na praia


Mistério na praia
Mistério na praia


Naquela tarde ensolarada eu caminhava pela praia quando de repente avistei uma mulher de joelhos na linha em que a água do mar toca a areia. Ela chorava por dois corpos que jaziam dentro d'água, parcialmente imersos, um adolescente e um homem maduro. No ímpeto do momento eu corri em direção a eles sem saber direito o que estava acontecendo, se os dois estavam ali mortos há muito tempo ou se estavam ainda agonizando, afogados, eu não sabia de nada. Nesse momento o pânico tomou conta de mim e eu me vi na obrigação de fazer alguma coisa.

Eu corri e fiz respiração boca-a-boca no garoto, tampei-lhe o nariz e soprei na sua boca energicamente, depois juntei as duas mãos ao seu peito e fiz uma massagem cardíaca, e repeti, e repeti, parecia que ele estava mesmo morto pois não reagia. Enquanto isso a mulher apenas chorava, sem falar nada nem me explicar o que havia acontecido. Então, de súbito, o garoto cuspiu um pouco d'água. E eu encorajei-o com palavras a respirar e viver, na esperança de que ele respondesse e me mostrasse que estava consciente. Ele cuspiu mais água, muita água, e começou a respirar com dificuldade.

Eu não sei dizer ao certo quanto tempo durou essa ação, mas logo que me certifiquei de que o garoto estava vivo e respirando bem eu me virei em direção ao homem mais velho que jazia ao seu lado para tentar reanimá-lo também. No entanto, era notável que ele havia morrido e não reagiria a qualquer estímulo; ele já aparentava palidez, frieza, e até fedia à carne podre, de modo que eu nada pude fazer para ajudá-lo, senti-me impotente.

De repente o garoto se virou pra mãe e resmungou: "mãe, estou com fome". Eu sorri de alegria por ter salvo aquela criatura, mas ao mesmo tempo uma lágrima caiu do meu olho por não ter feito nada por aquele que presumidamente seria o seu pai. O garoto estava falando normalmente, parecia consciente e orientado, embora não desse importância ou não se lembrasse do que havia acontecido antes do afogamento. Ele simplesmente ignorava a existência daquele corpo boiando na água ao seu lado.

Pra mim foi difícil aceitar que precisei escolher uma vida dentre duas pra salvar, foi difícil admitir que sacrifiquei um em favor do outro. Na verdade eu só tive tempo de pensar nessas coisas depois do ocorrido, na hora foi tudo muito rápido e eu só agi no intuito de salvar vidas. As diversas elucubrações, planos ou escolhas hipotéticas de como poderia ter sido feito só tiveram espaço depois, justamente quando não havia mais tempo de pensar.

A senhora continuou calada e eu respeitei o luto dela, embora achasse estranho que não dissesse nada nem fizesse o menor esforço pra esclarecer as coisas. Ela levantou-se e foi andando na frente, em direção à avenida, enquanto o garoto seguiu comigo de mãos dadas atrás dela. A praia estava cheia e aparentemente as pessoas não se davam conta do acidente ocorrido, pois não estavam aglomeradas em torno dos afogados, cada um simplesmente vivia sua vida, pegava seu bronze e bebia sua água de coco como se nada estivesse acontecendo ali.

De repente eu procuro a mulher com os olhos e não a encontro. Fico parado no calçadão da praia segurando o garoto firmemente pela mão sem saber onde a mãe dele foi parar. Nessa hora me preocupo e me sinto confuso, sem saber o que fazer, sem saber onde ela está e o que se passa na sua cabeça. Na verdade eu nem sei o que houve naquela praia. Acidente, será? Penso que sim, prefiro não imaginar coisas piores, mas nada me garante que tenha sido um acidente. Por que tanto silêncio? Por que tanta indiferença? Por que ela sumiu? Me sinto confuso.

A melhor conclusão que eu chego é de que devo procurar a delegacia mais próxima e esperar que a mãe apareça ou entre em contato pra buscar o seu filho. Mas antes paro num quiosque pra comprar um lanche, o garoto estava com muita fome.

[Mente Hiperativa]

2 comentários:

  1. Amigo, eu vejo muito de você nesse texto, no sonho e tal. Na forma como você se importou com a mulher que chorava, como salvou o garoto e se sentiu mal por não ter ajudado o homem. Eu sei que tu não gosta de indiferença também! O significado deve sonho deve ser mais sobre suas emoções, do que sobre qualquer outra coisa. (Isso serve pro sonho da tsunami também, rs).

    Abraçãaao <3

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  2. Estou aceitando mais interpretações oníricas.

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