quinta-feira, 28 de julho de 2011

Uma fuga alucinada - ou um passeio de metrô

Uma fuga alucinada - ou um passeio de metrô

Ele cansou daquela casa, daquela atmosfera, daquele ar insuportavelmente seco e frio, cansou daquelas paredes encardidas e insípidas. Fugiu de casa, não deixou bilhete, aviso ou justificativa, só fugiu desesperadamente rápido de tudo aquilo que sentia.

Não levou consigo nenhuma mochila, não levou roupas, comida, livros, nada, somente a roupa do corpo e alguns trocados que tinha na carteira, não queria nada daquele lugar, nenhum sentimento, nenhuma recordação, foi embora sem olhar pra trás, sem despedidas, sem drama, sem saudade, e assim partiu pra não mais voltar.

Vagou um pouco pelas ruas sem saber pra onde ir até que avistou a estação do metrô, comprou um ticket e apanhou o primeiro carro a sair, sem nem olhar o destino, pouco lhe importava a essa altura, queria mesmo era se ver bem longe dali e de tudo aquilo que tanto lhe trazia incômodo.

Sentou-se no fundo do metrô, na janela, e ficou contemplando a paisagem que corria com pressa, as árvores, o sol forte, quente, e as casas, muitas casas, todas diferentes da sua, cheias de cores, alegrias, pessoas, enfim, cheias de vida.

Observava também o entra-e-sai de gente, os tipos humanos, seus costumes, suas conversas, tudo ele anotava atentamente em sua mente, ao fundo ouvia o som abafado de um rádio, talvez fosse do próprio metrô ou quem sabe de algum usuário incoveniente. Mas o som não lhe incomodava, aliado ao friozinho do ar-condicionado parecia até um acalanto de mãe.

O metrô segue sua viagem deslizando pelos trilhos, produzindo aquele som característico das rodas correndo, levando, rolando, suando, que enchia seus ouvidos, aquele som - calmante e agradável - era a trilha sonora da sua fuga.

Enfim o metrô chega ao fim da linha, à última estação, e então todos descem felizes por terem chegado ao seu destino. Ele teme ficar sozinho no vagão e vai atrás de todo mundo, mas diferente dos outros que tinham encontrado o seu caminho, ele permanecia a esmo e por isso pegou o metrô de volta, retornou ao ponto zero.

A viagem de volta pareceu mais curta, o som do metrô deslizando pelo trilho lhe acompanhou fielmente, fazendo-o lembrar do seu propósito de fugir e de estar ali naquele momento. As árvores continuaram passando rápidas pela janela, mas o sol não mais brilhava quente e imponente, agora estava se pondo, se despedindo, como as pessoas fizeram na última estação.

Finalmente chegou em casa, não estava arrependido de ter saido asssim sem avisar, sem deixar explicação alguma, logo ao entrar na sala constatou que ninguém havia dado por sua falta, ninguem havia percebido sua evasão, seu sumiço. E não poderia ter sido diferente, ele fugiu de casa pra fugir da solidão e do tédio, morava sozinho.

[Mente Hiperativa]

Um comentário:

  1. OI,MH!Saudade de vc e das suas visitas!Que foto é essa, isso não é em Recife né?Achei roupa demais pra Recife,kkk.Esse tanto de roupa a gente usa aqui no Sul,não ai que é verão o ano inteiro.
    Pois é as vezes dá vontade de fugir de casa mesmo de cometer certas transgressões, morar sozinho é meu maior desejo ultimamente,mas sei que é pauleira, deve ter dias que a solidão deve doer demais,mas como tudo na vida tem seu lado bom e ruim...
    Beijosss

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