As mais belas declarações de amor são ditas no silêncio das palavras
Hoje em dia dizer ‘eu te amo’ é tão natural quanto dirigir embriagado ou encontrar uma notícia de corrupção estampada nos jornais. Algumas pessoas dizem ‘eu te amo’ para o primeiro bêbado-desconhecido que lhe dá um beijo, ou para aquela pessoa com a qual passou uma única noite na vida, e pouco conhece dela. Às vezes comete-se o absurdo de dizer que ama alguém que nunca conversou, viu, ou teve qualquer tipo de envolvimento. E eu não sei o que leva as pessoas a esse tipo de atitude, talvez seja carência, protocolo, falsidade, ou simplesmente rotinização. Talvez o amor tenha de fato perdido o sentido pra muita gente e esteja se confundindo com paixão, desejo, interesses e conveniências.
É preciso abrir os olhos e encarar que a superficialidade está tomando conta da nossa cultura, sociedade e relações. E isso realmente me assusta bastante.
Eu sempre tive dificuldade de expressar meus sentimentos, sobretudo com palavras, porém com o tempo eu venho aprendendo a lidar com isso. Hoje ainda desperto a insegurança e incompreensão de muitas pessoas que não conseguem decifrar o que sinto em relação a elas. Elas precisam de palavras, afirmações de que as amo, mas muitas vezes eu não sei falar com palavras, só com atitudes. Será que todo mundo sabe ler tais demonstrações?
Às vezes penso que essa dificuldade me faça enxergar o mundo diferente da maioria das pessoas, de forma mais cética, e faça eu me recusar a entrar nesse modelo de produção em série do amor, de amor fácil e pseudo-espontâneo, que se reproduz mais rápido que bactérias, sem exigir qualquer sentimento ou consistência da relação. É o amor que não é amor, é banal, é só palavra, sem substrato. E é claro que isso não dura, logo a pessoa estará dizendo eu te amo a outro, e outro, e outro...
Dizer ‘eu te amo’ é fácil, e não tem mais o valor de antigamente, tornou-se tão corriqueiro, tão freqüente, que perdeu o sentimento próprio da palavra. Por isso hoje em dia apenas falar é pouco, é preciso provar que se ama. E há quem ainda pense que prova de amor é colocar uma faixa escrita ‘eu te amo’ na frente da casa do dito(a) cujo(a), uma bela e emocionante mensagem fonada, três mil pétalas de rosas jogadas de um helicóptero, ou quem sabe uma jóia caríssima. Isso não é prova de amor, e é tão superficial quanto as próprias declarações de amor.
Diante disso, fico observando não mais as palavras que ouço, não dou tanto cartaz aos ‘eu te amo’ que escuto, apenas observo, e observo atentamente, pois as mais belas declarações de amor são ditas no silêncio das palavras. Quem ama não precisa repetir um mantra nem lembrar o outro a todo instante que o ama, embora possa fazê-lo. Amar é ter atitude, é demonstrar, ao invés de falar. Quem ama se sente amado e tem a certeza desse sentimento, e enxerga ele em cada atitude do outro, seja num carinho, num gesto de apoio, num beijo, numa atitude de atenção, ou num simples ‘oi’.
O amor deve ser algo maior do que uma frase, e nunca caberá todo nela. Ele precisa de mais espaço, e o ganha nas atitudes cotidianas, pequenos gestos, companheirismo, na conversa, no toque. Por essas e por outras que confio mais nos atos do que nas palavras, espero ser amado, espero ouvir que sou amado, mas observo atentamente se as palavras condizem com as condutas, e se essas são sinceras. É preciso ficar esperto, pois hoje em dia qualquer um ama qualquer um, em tese, mas amor verdadeiro e sincero, ah, esse tá difícil de encontrar.
[Mente Hiperativa]