Dia do "Grrr"
No dia do "Grrr" a esposa traida resolveu se vingar do marido, e pôs laxante na sua sopa, servindo-o delicadamente na hora do jantar. As crianças não ouviam nem obedeciam os pais, abandonaram os estudos e só queriam saber de brincar. O cachorro, cheio de raiva, mordeu o dono, cansou de tanto ser maltratado.
Ao saber que era o dia do "Grrr" a empregada gritou com a patroa, chamou-a de perua e tudo mais, sentiu-se aliviada depois. A patroa por sua vez gritou com a filha, descarregando frustrações que nem sabia que tinha, pois a vida perua esvaziara aos poucos sua cabeça.
O rei, no dia do "Grrr", cansou de ser rei, cansou de ordenar o exército, de ter um nome a zelar, de ter inúmeros traíras à mesa, largou a coroa e foi passear; deixou o castelo, deixou a rainha, deixou as jóias e o prestígio, queria apenas relaxar.
No dia do "Grrr" o padre dançou, a freira se maquiou, e tudo parecia desandar. Cansados da vida que levavam todos resolveram mudar, colocando pra fora todo aquele incômodo. O nerd, no dia do "Grrr", queimou os livros e fez uma fogueira linda na porta de casa. O rico rendeu-se ao churrasco na lage e até se divertiu, coisa que há muito tempo não acontecia.
O céu se carregou de chuva, os rios trabalharam demais, se encheram, e no dia do "Grrr" transbordaram pela cidade. Os carros cansados de correr, se deixaram levar pelas águas. As árvores trocavam de lugar, aproveitavam o descuido do tempo, a confusão, e soltaram seu "Grrr" também.
Era o dia do "Grrr" e cada um se expressava de uma forma, colocando pra fora a raiva, o que estava guardado e fazia mal. Até mesmo as estátuas se alongavam, no meio da praça, como se fossem atletas se aquecendo para o treino. Era duro ficar parado tanto tempo na mesma posição.
Todos tiveram sua oportunidade, e a noite estava se aproximando, as nuvens correram com pressa. O sol se foi devagar, e a lua tomou seu lugar. O dia estava acabando, o dia do "Grrr". Amanhã tudo retornaria ao seu devido lugar, cada árvore, cada palavra dita, e toda a raiva e revolta seria guardada novamente, engolida e fechada, até outra oportunidade surgir. E tudo desandar novamente.
[Mente Hiperativa]
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