sábado, 20 de agosto de 2011

Melhor morrer de vodca, que de tédio


Melhor morrer de vodca, que de tédio

Poeta é gente que vive, intensamente, que sente a vida correr pelos dedos, que transpira cada momento bom, compartilha suas alegrias explicitamente na ludicidade de suas palavras.

Poeta é gente que morre, um pouco à cada dia, de tuberculose, tristeza e depressão, de amores incompreendidos, por vezes até platônicos e deixa tudo claro nas entrelinhas de seus escritos.

A vida de poeta é extrema, exagerada, boêmia, alguns se matam em vida, outros através de seus personagens. Goethe, por exemplo, matou-se através do jovem Werther; Maiakoviski foi mais visceral, suicidou-se logo após concluir sua obra 'A plenos pulmões'. Sarcasmo?

Wladimyr Maiakovski sintetizou a "vida poeta" com a seguinte frase: 'Melhor morrer de vodca, que de tédio'.

A vida poeta é uma vida de dor e sofrimento, mas também de alegrias fantasiosas e muita criatividade. Na vida poeta não existe espaço para o tédio, tudo é intenso, não cabe escolhas, tudo é pra ser vivido: o que há de bom e o que há de ruim.

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Trecho final de 'A PLENOS PULMÕES'


Camarada vida,
vamos,
para diante,
galopemos
pelo quinqüênio afora.
Os versos
para mim
não deram rublos,
nem mobílias
de madeiras caras.
Uma camisa
lavada e clara,
e basta, —
para mim é tudo.
Ao
Comitê Central
do futuro
ofuscante,
sobre a malta
dos vates
velhacos e falsários
apresento
em lugar
do registro partidário
todos
os cem tomos
dos meus livros militantes.


Dezembro, 1929 / janeiro, 1930

(Tradução: Haroldo de Campos)

[Mente Hiperativa]

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