A vida e a angústia de seu eterno nascer
Pouco importam as respostas dessas perguntas, pois não fomos consultados em nossa vontade, quando chega a hora não há escolha senão nascer.
O parto é assim, um ato violento que por algum tempo nos causa enorme choque e sofrimento: falta de ar, frio intenso, luzes fortes, injeções, manipulações, manobras e todo tipo de estresse. Certamente a saída do útero não é um dos momentos mais agradáveis que se tem, é uma passagem muito forte e angustiante que coloca o recém nascido num sofrimento inevitável. Diante disso, um bebê tão vulnerável nada pode fazer a não ser chorar bem forte, e eis que a natureza mostra sua sabedoria, pois é exatamente esse choro que lhe garante impulso pra respirar e o mantém vivo nesse novo mundo. Daí em diante o organismo vai se ajustando aos poucos, tudo vai se tornando adequado até que o novo ambiente pareça mais ameno e receptivo. É apenas o começo de uma vida repleta de nascimentos.
Estendendo o conceito de nascimento aos diversos desafios a que somos submetidos ao longo da vida, como entrada de novos ciclos, tomada de grandes decisões, reviravoltas, superações, avaliações, além de inúmeras outras situações difíceis e inadiáveis, todos eles são iniciados por novos partos, sofríveis e passageiros; muitas vezes inadiáveis. Talvez nesses momentos decisivos nós resgatemos inconscientemente toda dor e sufoco que foi naquele primeiro dia de vida extra-uterina, também a sensação de impotência, incapacidade e vulnerabilidade que foi vivenciada naquele momento. Assim, diante de novos e grandes desafios (verdadeiros nascimentos) muitas vezes não conseguimos enxergar nada a fazer a não ser chorar, como se o choro pudesse novamente nos dar a força que precisamos pra nos mantermos vivos. E depois de um breve sufoco tudo se normaliza, nascemos de novo e seguimos a vida com novas descobertas num mundo repleto de novidades. Até que venha o próximo nascimento, e com ele a dor do parto.
[Mente Hiperativa]
Muito boa metáfora. Nascer a gente nasce sempre, difícil é aprender a andar. E nessa maternidade da vida, não tem outra opção se não nascer, não existem preservativos. LOL
ResponderExcluirAbraço
Milhares não estavam preparados para nascer, pois o tempo passa e até hoje vivem no ventre materno. Dependente e carente de mãe, não crescem e nem cortam o cordão umbilical nunca.
ResponderExcluirBjux
curti o texto , tem total consonância com o CAP 1 do livro solidão da François Dolto. Creio q vc ia curtir muitooo!!!
ResponderExcluirFelizmente e infelizmente, palavras verdadeiras.
ResponderExcluirViver é muito perigoso, já dizia o grande Guimarães. Lembrei-me dele ao ler esse texto. Como já vivemos correndo perigos. E como somos vencedores quando sobrevivemos aos desafios da vida!
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