domingo, 25 de novembro de 2012

Meu medo de (a)mar


Meu medo de (a)mar 

Lembro como se fosse ontem a primeira vez que me deparei com a imensidão do oceano, sou capaz de descrever as sensações que me acometeram em tal ocasião. Primeiro me senti amedrontado diante do seu tamanho, tive medo de ser engolido pelas suas águas imponentes, medo de me perder naquele infinito azul que mais parecia emendar com o céu. Por alguns segundos ainda me desafiei a fechar os olhos para me sentir tomado por ele, eis que fui dominado por uma terrível sensação de afogamento. Faltou-me o ar, me senti sufocado, e então abri os olhos rapidamente pra me certificar de que estava sob a proteção da terra firme e que aquilo tudo não passava de um devaneio da minha cabeça. Depois disso foi difícil entrar novamente no mar.

Passado o susto, me dei conta de que a despeito do medo sentia também um enorme fascínio pelo oceano, ele conseguia de alguma forma me encantar e me seduzir. Sinto-me convidado a invadi-lo, ao mesmo tempo em que tenho receio de suas águas. É mesmo contraditório falar sobre ele e mesmo depois de tanto tempo do nosso primeiro encontro ainda hoje ele me deixa bastante confuso. Quando me encontro com oceano sinto uma tensão que toma conta de mim e me divide entre o desejo e o medo. Não tenho coragem de pular de cabeça em suas águas, mas queria que fossem calmas o suficiente para que eu pudesse mergulhar devagar.

Ainda assim visito o mar, gosto de admirá-lo sentado na areia. De longe ele me parece tão calmo, aprazível, que se eu não tivesse um dia entrado em suas águas até acreditaria ser isso verdade, mas o conheço de perto e sei dos seus perigos, da sua correnteza e profundidade assustadora. Por isso prefiro me guardar a certa distância, embora às vezes me arrisque a chegar perto e permitir que ele me molhe os pés. Tento me manter afastado, mas uma hora ou outra acabo cedendo aos seus chamados, hesito, me entrego, mas sempre volto em direção à areia, pois sei que boia alguma será capaz de me salvar desse mar infinito.

Em algumas dessas aventuras acabo adentrando demais nas suas águas, além do que acho que deveria, e quando me dou conta a água já cobre meu pescoço. É tarde demais. Momentaneamente me sinto seguro, mas logo uma onda forte me abate, sinto o gosto salgado na boca, não sei se é do mar ou de minhas lágrimas, e por mais que eu bata os pés e mãos acabo me afogando, penso que não vou suportar e quando acordo estou na beira da praia. Ao recuperar a consciência prometo a mim mesmo jamais me aventurar pelo mar de novo, mas quando dou por mim estou só com os pés na água, devagar e cheio de medo, mas estou lá.

[Mente Hiperativa]

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Patinho feio


Patinho feio

Sempre fui uma criança tímida e extremamente calada, daquelas que não sorri e só se aproxima de alguém em troca de um doce, nunca por um abraço ou beijo. Com o tempo fui aprendendo a lidar com as pessoas, porém apenas no meu ambiente familiar conseguia me sentir plenamente confortável, ainda assim com certa ressalva. E fora daquele lugar me sentia completamente vulnerável, deslocado, e exposto a todo tipo de situação incômoda. Por isso sempre tive medo das pessoas, elas me pareciam estranhas, falavam e agiam de uma forma que eu não era capaz de entender.

Depois, na adolescência, a situação ficou ainda pior por que tive a confirmação de que eu era realmente diferente de todos aqueles que me rodeavam; não era só impressão minha ou coisa da minha cabeça, a cada dia eu recebia provas concretas disso. Sei que cada um carrega uma essência única, mas há certos valores e comportamentos que são intrínsecos aos grupos sociais e eu não compartilhava da maioria deles. Sendo assim, não me sentia encaixado em canto algum desse mundo, me isolava e sofria retaliação por ser dessa forma tão estranha, por sentir e pensar diferente da maioria deles.

Hoje sou adulto e só agora começo a entender que de fato não sou igual aos outros e quais as repercussões atreladas à essa singularidade. Algumas pessoas pensam que sou bobo e tentam me usar, outras se esquivam do contato comigo por julgarem que não tenho juízo adequado. Quanto à essas pessoas não posso forçá-las a lidarem comigo de uma forma saudável, mas tenho tantas outras que mesmo não sendo iguais a mim tentam me entender e isso já me conforta bastante. Não quero acreditar que minha 'esquisitice' me torne inferior a eles, por mais que tentem me fazer pensar assim, também não quero que ela seja empecilho pra lidar com os outros.

Diante de tantos atritos com a vida e tantas angústias aparentemente sem sentido, acabei aprendendo que não adianta lutar contra ela ou contra todos; é perda de tempo e sofrimento em vão. Não há sentido fugir de sua própria missão, se estou nesse lugar diferente e rodeado de pessoas diferentes é por que tenho algo a fazer aqui. Agora eu tenho consciência de que vim aqui pra aprender com eles, e quem sabe ensiná-los alguma coisa também. É possível que a minha forma 'estranha' de enxergar o mundo sirva de motivo para nos intrigar e nos aproximar, gerando discussões proveitosas e troca de experiências com enriquecimento mútuo.

[Mente Hiperativa]

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Choque de mundos


Choque de mundos

Meu mundo seguia tranquilo por sua velha órbita ovalada quando de repente se chocou com o seu, e foi fantástico! Fiquei algum tempo imerso num estado de êxtase, girando, perdido, até me reencontrar e seguir adiante. Mas claro que não segui pelo mesmo caminho, minha trajetória foi completamente afetada por esse encontro, meus contornos também assumiram um novo padrão.

Arrancamos pedaços um do outro, e por isso nunca mais serei o mesmo. Agora tenho partes suas que invadiram minha mente e como sementes se plantaram no meu cérebro. São ideias que acolhi e desejo cultivar em meu mundo, meu novo mundo que agora tem um novo formato graças a essa trombada dolorosa, mas necessária.

Depois do ocorrido fiquei a pensar em quantas vezes nos cruzamos sem nos notar, tantas ocasiões nos tangenciamos e tive o presságio de que você me atingiria, mas até então nunca havia acertado no meu palpite. Eis que um dia sem esperar levo uma pancada violenta e encaro você tão perto de mim, me provocando alterações desastrosas e ao mesmo tempo deliciosas de se viver.

Depois disso eu continuo eu mesmo, mas jamais serei o mesmo.

[Mente Hiperativa]

sábado, 10 de novembro de 2012

A quem serve a religião?


A quem serve a religião?


Quanto mais tenho contato com as religiões, mais reconheço o quanto são utilizadas como instrumentos de manipulação das massas, arrecadação de dinheiro e criação de necessidades que de fato não existem. Claro que não se pode generalizar o uso da má fé por todos os que se dizem religiosos, pois muito deles são apenas instrumentos da organização, estão alienados e podem nem perceber o mal que fazem; porém, outros entendem bem as consequências dos seus atos e se aproveitam do poder que lhes é dado. Algumas igrejas, inclusive, são verdadeiras indústrias que se alimentam de fiéis e seus medos, levando-os a crenças distorcidas e atos irracionais, tudo “em nome da fé”.

É preciso reconhecer que mesmo tão danosas as religiões têm um importante papel, sobretudo no que diz respeito ao conforto espiritual que oferecem. Porém, será justo que cobrem retorno financeiro por essa ajuda que vem de uma dimensão superior? A divindade registrou instituições terrenas para arrecadarem dinheiro em seu nome? E que tipo de essência seria essa que prega valores solidários e fraternos, mas cobra quantias em troca de um “ombro amigo”?

Particularmente nunca precisei me dirigir às estátuas de gesso pra fazer pedidos e acho estranho suplicar por proteção a uma figura inanimada talhada em madeira. Também não sinto a menor necessidade de visitar uma construção suntuosa, que ostente o luxo e a grandiosidade, a fim de me encontrar com a divindade quando posso senti-lo na praia, na praça, ou até mesmo no escuro do meu quarto. Tenho consciência de que Ele está em todos os lugares, inclusive dentro de mim.

Também não encaro com naturalidade a ideia de contar a um desconhecido os meus delitos, somente porque ele usa batina e carrega um crucifixo no pescoço. A impressão que tenho é que ele não saberá me julgar adequadamente, nem confio na sua penitência que consiste em me manda repetir frases prontas inúmeras vezes. Acredito que minhas conversas com Deus carregam muito mais sentimentos do que essas orações que já vêm prontas.

Penso que através da religião e de um discurso bem elaborado o homem é capaz de criar necessidades que não existem, utilizando-as para manipular o povo sedento de ajuda e extrair destes alguma riqueza. Isso tudo é feito em nome da fé, mas muitas vezes apenas usam o nome de Deus para atingir benefícios próprios. E quem será que vai julgá-los no tribunal do juízo final? Saibam eles ou não, o julgamento se dá na nossa consciência e os juízes sabem de TUDO que fizemos, afinal somos nós os nossos próprios juízes. Talvez hoje muitos não se deem conta do mal que fazem, mas um dia irão despertar para as atrocidades cometidas, ah, se vão.

Por essas e por outras que não sigo religião alguma, isso tudo não faz o menor sentido pra mim, por mais que o senso comum diga ser “o certo”. Eu não preciso de intermediários pra falar com Deus, do mesmo modo que não preciso pagar ao homem tarifa de qualquer natureza pelos conselhos e benevolências que Ele me concede. Se tudo de bom que me acontece é dado por Ele e conquistado por mim, porque eu deveria pagar a uma figura religiosa por isso?

Acredito na essência energética de Deus, no livre-arbítrio, no julgamento de nossa consciência, no amor planetário supremo, mas não tente me convencer de certos absurdos como "apenas a minha religião poderá lhe salvar". Não acredito em povo escolhido, muito menos que não há salvação fora de determinada igreja. Quem opta por ser salvo é o próprio indivíduo que corre atrás dessa libertação, não é a igreja ou a religião que a concede. Cada um de nós é uma igreja e a salvação consiste em criar laços de fraternidade e solidariedade planetária. A salvação está dentro de nós mesmos e consiste em não cair nas teias do orgulho, egoísmo, fanatismo, e outras mazelas.

Novamente afirmo que não se pode generalizar todos os que se dizem religiosos, porém é preciso ficar atento e refletir a respeito da doutrina que se segue. Não aconselho ninguém que abandone sua religião, mas convido todos a filosofarem a respeito delas, sobre o que têm feito, se parece certo ou errado, estimulo a crítica construtiva, o questionamento, a contestação. Além do mais, é preciso estabelecer quem é você e quem é a religião, não se pode tornar os dois algo indissociável nem mesmo permitir que ela seja soberana à sua vontade.

[Mente Hiperativa]

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem é dono de quem?


Quem é dono de quem?

Um dia o sujeito resolveu deixar o carro em casa e foi trabalhar a pé. Chegando ao trabalho foi indagado pelo motivo o qual foi andando, visto que possuía um carro. Ele disse que de fato era dono de um carro e não o contrário, de modo que naquele dia decidiu ir trabalhar com as próprias pernas e o carro ficaria em casa.

Ao ouvir essa história lembrei  de algumas pessoas conhecidas que se dizem donas dos seus iphones, das suas roupas de marca e dos seus carros importados, mas que não conseguem viver sem eles. Quem é dono de quem, afinal?

Já parou pra refletir nisso? Já se deu conta de que muitas vezes somos reféns das coisas que, em tese, possuímos? E sua profissão, você é dono dela? Estudamos tanto tempo pra sermos donos de uma profissão, abdicamos de tanta coisa por ela, permitimos que ela invada nosso dia-a-dia e de repente percebemos que não temos mais autonomia sobre nossa própria vida, ela acaba sendo dominada inteiramente pelo nosso trabalho. E quem é dono de quem nessa história toda? Você é dono da sua profissão ou ela é dona de você?

É preciso estar sempre atento para não se tornar um escravo, nossa autonomia e liberdade devem ser preservadas acima de qualquer coisa. Abram os olhos e enxerguem além.

[Mente Hiperativa]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Não me esqueça



Não me esqueça

Vou escrever meu nome num post-it e colar na sua agenda, no espelho do banheiro vou pregar o mais belo poema de amor e na janela do seu quarto, deixarei minha foto a te espreitar por detrás da cortina. Também vou colocar um coração vermelho no fundo da sua gaveta, pois não quero que se esqueça de mim.

Tenho esse plano secreto que você jamais poderá saber.


[Mente Hiperativa]