A quem serve a religião?
Quanto mais tenho contato com as religiões, mais reconheço o quanto são utilizadas como instrumentos de manipulação das massas, arrecadação de dinheiro e criação de necessidades que de fato não existem. Claro que não se pode generalizar o uso da má fé por todos os que se dizem religiosos, pois muito deles são apenas instrumentos da organização, estão alienados e podem nem perceber o mal que fazem; porém, outros entendem bem as consequências dos seus atos e se aproveitam do poder que lhes é dado. Algumas igrejas, inclusive, são verdadeiras indústrias que se alimentam de fiéis e seus medos, levando-os a crenças distorcidas e atos irracionais, tudo “em nome da fé”.
É preciso reconhecer que mesmo tão danosas as religiões têm um importante papel, sobretudo no que diz respeito ao conforto espiritual que oferecem. Porém, será justo que cobrem retorno financeiro por essa ajuda que vem de uma dimensão superior? A divindade registrou instituições terrenas para arrecadarem dinheiro em seu nome? E que tipo de essência seria essa que prega valores solidários e fraternos, mas cobra quantias em troca de um “ombro amigo”?
Particularmente nunca precisei me dirigir às estátuas de gesso pra fazer pedidos e acho estranho suplicar por proteção a uma figura inanimada talhada em madeira. Também não sinto a menor necessidade de visitar uma construção suntuosa, que ostente o luxo e a grandiosidade, a fim de me encontrar com a divindade quando posso senti-lo na praia, na praça, ou até mesmo no escuro do meu quarto. Tenho consciência de que Ele está em todos os lugares, inclusive dentro de mim.
Também não encaro com naturalidade a ideia de contar a um desconhecido os meus delitos, somente porque ele usa batina e carrega um crucifixo no pescoço. A impressão que tenho é que ele não saberá me julgar adequadamente, nem confio na sua penitência que consiste em me manda repetir frases prontas inúmeras vezes. Acredito que minhas conversas com Deus carregam muito mais sentimentos do que essas orações que já vêm prontas.
Penso que através da religião e de um discurso bem elaborado o homem é capaz de criar necessidades que não existem, utilizando-as para manipular o povo sedento de ajuda e extrair destes alguma riqueza. Isso tudo é feito em nome da fé, mas muitas vezes apenas usam o nome de Deus para atingir benefícios próprios. E quem será que vai julgá-los no tribunal do juízo final? Saibam eles ou não, o julgamento se dá na nossa consciência e os juízes sabem de TUDO que fizemos, afinal somos nós os nossos próprios juízes. Talvez hoje muitos não se deem conta do mal que fazem, mas um dia irão despertar para as atrocidades cometidas, ah, se vão.
Por essas e por outras que não sigo religião alguma, isso tudo não faz o menor sentido pra mim, por mais que o senso comum diga ser “o certo”. Eu não preciso de intermediários pra falar com Deus, do mesmo modo que não preciso pagar ao homem tarifa de qualquer natureza pelos conselhos e benevolências que Ele me concede. Se tudo de bom que me acontece é dado por Ele e conquistado por mim, porque eu deveria pagar a uma figura religiosa por isso?
Acredito na essência energética de Deus, no livre-arbítrio, no julgamento de nossa consciência, no amor planetário supremo, mas não tente me convencer de certos absurdos como "apenas a minha religião poderá lhe salvar". Não acredito em povo escolhido, muito menos que não há salvação fora de determinada igreja. Quem opta por ser salvo é o próprio indivíduo que corre atrás dessa libertação, não é a igreja ou a religião que a concede. Cada um de nós é uma igreja e a salvação consiste em criar laços de fraternidade e solidariedade planetária. A salvação está dentro de nós mesmos e consiste em não cair nas teias do orgulho, egoísmo, fanatismo, e outras mazelas.
Novamente afirmo que não se pode generalizar todos os que se dizem religiosos, porém é preciso ficar atento e refletir a respeito da doutrina que se segue. Não aconselho ninguém que abandone sua religião, mas convido todos a filosofarem a respeito delas, sobre o que têm feito, se parece certo ou errado, estimulo a crítica construtiva, o questionamento, a contestação. Além do mais, é preciso estabelecer quem é você e quem é a religião, não se pode tornar os dois algo indissociável nem mesmo permitir que ela seja soberana à sua vontade.
[Mente Hiperativa]