[Mente Hiperativa]
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
quarta-feira, 5 de julho de 2017
Esconde-esconde
Esconde-esconde
A felicidade rondava minha casa, ensaiava bater à porta e de repente parecia desistir. À espreita na janela eu acompanhava seus movimentos, ansioso, até o dia em que resolvi parar de persegui-la. Assim acabei me acostumando a levar a vida de forma serena, sem esperar grandes rompantes de alegria. Tudo ia bem até o momento em que fui surpreendido pelo toque da campainha. Abri a porta e ela saiu correndo como um relâmpago, mas a essa altura eu nem me preocupava mais em tentar agarrá-la, pois já havia aprendido a me divertir com essas aparições inesperadas. Tranquilamente a vida seguia seu rumo, fechei a porta, as cortinas, não havia motivo algum pra desespero. Eu sabia que logo ela faria outra visita surpresa, ela sempre volta.
[Mente Hiperativa]
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Só mais uma
Só mais uma
Com seu talento notável conquistou várias partidas, mas como todo bom jogador nunca soube a hora de parar. Jogava compulsivamente e à cada aposta sentia prazer ao saber que era tudo ou nada, que poderia perder toda sua conquista, mas era justamente esse risco que alimentava-lhe a alma. A cada vitória era tomado pelo desejo de vivenciar novamente aquela sensação e à cada derrota a dor o fazia jurar que jogaria só mais uma.
E como um vício que jamais tem fim ele virava as noites nos cassinos da cidade colecionando prêmios cobiçados e perdendo tudo em seguida, sempre voltando à mesa pra vingar seu orgulho ferido. O ciclo de prazer e dor se mantinha vivo e o motivava nesse jogo de roleta, cartas e amor. Eram fichas e mais fichas, o coração ia a mil em apenas um segundo, quase saía pela boca, mas mantinha-se vivo por pura vontade de vencer, só mais uma.
[Mente Hiperativa]
domingo, 24 de julho de 2016
A morte: fatalidade ou escolha?
A morte: fatalidade ou escolha?
E se a morte não existisse e cada um determinasse o instante do seu fim? Em que momento você ia querer parar? Aliás, você ia querer parar? Teria que ter coragem ou motivo suficiente pra encerrar a vida, já que por conta própria ela jamais acabaria. Parece surreal, mas será que não é assim que ocorre?
A morte é o grande mistério da vida, será que temos o poder de determinar nossa causa mortis ainda que sem ter plena consciência disso? Através das nossas experiências, consumos, modo de vida, exposições e circunstâncias?
O tabagista que morre de câncer, o imprudente que morre no trânsito, o glutão que morre de infarto, o relapso que morre por descontrole de sua enfermidade, o irresponsável que morre no acidente de trânsito, o bandido que morre pelo crime.
Será que no fundo a vida não quer acabar e cada um de nós que a provoca e a deixa sem saída? No final das contas parece que o suicídio não é algo tão incomum, ao menos partindo do pressuposto de que ele pode ser longo e calmamente arquitetado durante toda uma existência. Não é preciso morrer rápido pra concluir que se matou, nos matamos no dia a dia, à cada cigarro tragado, à cada discussão de trânsito, à cada raiva guardada, matamos um pouco de nossa vida à cada traição, mentira ou extravagância alimentar.
A vida vai se acabando, se arrastando, e o último golpe será sempre considerado o culpado. Mas na verdade tivemos tempo suficiente de planejar o crime perfeito, muitas vezes o primeiro e último de toda uma vida.
[Mente Hiperativa]
domingo, 5 de junho de 2016
Aquele vazio não era fome
Aquele vazio não era fome
Você que nunca se jogou de olhos fechados no escuro desconhecido. Nunca se entregou na primeira vez como se já fosse a milésima.
Se você nunca arriscou pra petiscar, se nunca sentiu indigestão após se banquetear, você não sabe o que é passar fome de amor.
[Mente Hiperativa]
sexta-feira, 3 de junho de 2016
Tempo de pipa
Tempo de pipa
Em céus de pipa não voam mais crianças como antigamente. O sol brilha como sempre, mas agora os papagaios não procuram mais as crianças pra brincar. As bolas de gude rolam para dentro de formigueiros em busca de diversão. Peões rodam e rodam, tontos, em busca do que é belo e vulgar. Vivemos o tempo da preguiça.
O sol, o algodão doce e as bolhas de sabão desfilam no céu, mas as pipas não se encontram mais com as crianças. Um dia quem sabe as coisas voltem a fazer sentido, talvez as pipas voltem a puxar as crianças pelo cordão e então o mundo volte ao normal. Um dia, quem sabe...
[Mente Hiperativa]
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Se(nti)r humano
Se(nti)r humano
Saudade é o desejo de iludir-se,
de sentir novamente que tem
mesmo sem jamais ter tido.
[Mente Hiperativa]
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